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Mais que uma catalogação de fôlego

23 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Vencedor do prêmio Jabuti deste ano, na categoria de Artes e Fotografia, o livro Estou Aqui. Sempre Estive. Sempre Estarei: Indígenas do Brasil suas Imagens (1505-1955), de Carlos Eugênio Marcondes de Moura apresenta uma vasta pesquisa iconográfica da pintura e dos grafismos dos grupos indígenas brasileiros. Publicado pela Editora da Universidade de São Paulo, o livro mostra como as cores, símbolos ou imagens foram por diferentes tribos aplicadas em diversos suportes, como pedra, cerâmica, cascas ou mesmo papel e, com frequência, no corpo humano.

A pintura indígena foi desde os primórdios da colonização relatada por cronistas, retratada por pintores e por viajantes, mas é historicamente recente sua compreensão antropológica e sociológica enquanto fundamentais manifestações simbólicas, estéticas e inclusive políticas nas vidas tribais. As imagens do livro são compostas também de pinturas sobre tela, desenhos, aquarelas, gravuras, litografias, esculturas e fotografia dos grafismos indígenas – reproduções de obras de artistas viajantes e naturalistas, que estiveram no Brasil em diferentes épocas, entre eles, os desenhistas da expedição comandada pelo jovem naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira, a conhecida Viagem Filosófica, que durou cerca de oito anos e percorreu parte da Amazônia e do Mato Grosso.

O livro conta com ensaios que analisam e demonstram como, nos contextos tribais, a arte funciona como meio de comunicação, expressão de categorias sociais e materiais, manifestações ritualísticas e mensagens referentes à ordem cósmica. Uma interessante introdução do autor contextualiza a iconografia e a edição conta também com prefácio escrito pela antropóloga Betty Mindlin.

O autor, Carlos Eugênio Marcondes de Moura, formado em interpretação pela Escola de Arte Dramática de São Paulo, onde é professor, também atua como sociólogo e historiador. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, tem publicadas diversas obras nas áreas de antropologia e sociologia das religiões afro-brasileiras. É reconhecida como uma de suas grandes contribuições para as pesquisas sociológicas e antropológicas da história do Brasil o livro A travessia da Calunga Grande – Três séculos de imagens sobre o Negro no Brasil. (1637-1899), também publicado pela Edusp, em 2000. A respeito dele, a professora de antropologia da USP, Lilia Katri Moritz Schwarcz escreveu, em resenha publicada na Revista de Antropologia (v. 44, nº 2.): “A viagem era longa; maior ainda o fastígio. Calunga grande é o mar, a enormidade de seu destino e de seu horizonte. Calunga pequeno é a terra que recebe esses corpos e os transforma em semente. Mas no caso da escravidão, reinventada no Novo Mundo, a terra tragou os corpos desses milhares de cativos, que foram antes transformados em prisioneiros, brutalizados pela violência desse sistema que supôs a posse de um homem por outro. […] Em torno dessas imagens de negros é que Carlos Eugênio concentrou sua pesquisa, ou melhor, esse amplo levantamento da iconografia, inscrita nas mais variadas fontes. O resultado é o levantamento exaustivo de centenas de relatos de viagem, telas, óleos, gravuras, esculturas, desenhos de artistas em trânsito e, a partir do século XIX, de fotografias ou caricaturas impiedosas, impressas nas revistas ilustradas”.

Sequência a este trabalho, em Estou Aqui. Sempre Estive. Sempre Estarei: Indígenas do Brasil suas Imagens (1505-1955), Moura apresenta uma catalogação de mais de quatro mil representações, relativas a mais de duzentos povos indígenas do Brasil. Segundo o autor, o impulso para a realização do projeto foi o reconhecimento da dispersão das imagens, frente à qual ele se pôs a pesquisar, localizar e ordenar as fontes em que elas se encontram – livros e publicações periódicas, a maioria delas encontradas no acervo do Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo. Acompanha o catálogo a reprodução de quinhentas das imagens, que foram catalogadas em ordem cronológica e agrupadas por etnias: as primeiras referem-se à etnia Tupinambá enquanto que as derradeiras, às etnias do Alto Xingu. O livro conta com mapas que indicam a localização dos povos, alguns ilustrados com imagens que retratam também detalhes de sua vida cotidiana, a fauna e a flora. Complementando o levantamento, o autor preparou índices remissivos por etnias, descritores, índice topográfico, grafismos indígenas, relação de cerâmica e máscaras antropomorfas, de artistas, fotógrafos, autores e coleções. Um trabalho de que a história, individualizada em cada brasileiro, não deve se esquivar.

 

ESTOU AQUI. SEMPRE ESTIVE. SEMPRE ESTAREI: INDÍGENAS DO BRASIL. SUAS IMAGENS (1505-1955)

Autor: Carlos Eugênio Marcondes de Moura
Editora: Edusp
Preço: R$ 147,00 (688 págs.)

 

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