Literatura

Eneida

27 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Eneias salvando seu Pai Anquises do incêndio de Tróia.

A editora 34 acaba de lançar uma edição bilíngue de Eneida [Aeneis], clássico de Virgílio. A edição conta com a tradução de Carlos Alberto Nunes e foi organizada por João Angelo Oliva Neto.

A obra começou a ser escrita por Virgílio em 29 a.C. e foi publicada dez anos depois, logo após a morte do autor. É notória a comparação que indica sua relevância em termos de exata equivalência, para o mundo romano, em relação à Ilíada e à Odisseia, para o mundo grego; pois faz um inventário de seus mitos, dá a medida das paixões e dos deveres humanos que tinham àquela civilização, aponta o padrão ético estabelecido para as relações sociais, inventa um passado coletivo e avança concepções de mundo, de tempo, de afetos e de história, que perduraram por mais de mil e quinhentos anos.

Quando escreveu a Eneida, no século I a.C., Virgilio já era famoso por suas Bucólicas, poema escrito em 37 a.C., e pelas Geórgicas, escrito em 30 a.C. A Eneida é um poema épico que narra a saga de Eneias, troiano salvo dos gregos em Troia e que, errante, atravessa pelo Mediterrâneo até chegar à península Itálica e tornar-se o ancestral de todos os romanos. A obra foi encomendada pelo imperador Augusto, para que cantasse sua grandeza e exortasse a origem e o espírito romanos.

Não por acaso Dante elegeu o poeta como seu guia na Divina Comédia. Outro escritor ilustre, T. S. Eliot, certa vez resumiu: “Virgílio tem a centralidade do clássico único; está no centro da civilização europeia, numa posição que nenhum outro poeta pode compartilhar”.

Atento à excepcionalidade de Virgílio e às características da métrica latina, Carlos Alberto Nunes traduziu a gesta de Eneias de forma rigorosa, inventiva e pioneira: preservou as 9.826 linhas do poema e elegeu um verso de dezesseis sílabas para fazer jus à força épica do original.

Com organização de João Angelo Oliva Neto, da Universidade de São Paulo, este volume inclui uma minuciosa apresentação, inúmeras notas e um resumo das ações de cada um dos doze cantos da obra, entre outros aparatos. O resultado é um volume completo no qual o leitor pode acompanhar o périplo de Eneias, das ruínas de Troia à gênese da civilização romana.

Segundo Luana de Conto, no artigo “Carlos Alberto Nunes, tradutor dos clássicos”, no Brasil “são duas as traduções da Eneida que ocupam maior espaço nos estudos clássicos: a de Manoel Odorico Mendes (cuja primeira edição saiu em 1854, na França, pela Editora Rignoux) e a de Carlos Alberto da Costa Nunes (cuja primeira edição saiu em 1981, pela editora da UnB). Ambas as propostas têm suas particularidades e atraem seus admiradores. No entanto, são projetos de tradução muito diferentes, principalmente no que concerne ao objetivo de cada trabalho e aos efeitos consequentes dele. A tradução de Nunes é usualmente considerada como aquela de leitura mais facilitada, em oposição à de Odorico Mendes, que demanda atenção mais laboriosa do leitor. E, de fato, o verso mais longo utilizado pelo primeiro permite-lhe uma sintaxe mais usual, enquanto um verso mais curto exige mais concisão e resulta em inversões”. De acordo com Conto, a principal característica da proposta de tradução de Nunes “é a adaptação métrica do hexâmetro dactílico para a língua portuguesa. O hexâmetro dactílico era o verso característico da épica clássica, já utilizado por Homero na Ilíada e na Odisséia. Para compor em latim a sua épica, Virgílio escolhe esse verso a fim de estabelecer um elemento de conexão com a epopeia grega. Esse reaproveitamento do metro é uma forma de aproximar a sua audiência da tradição helênica, de modo a retomar na Eneida o ritmo épico das obras homéricas, simbólico para os ouvidos dos espectadores, e de não deixar dúvidas de que sua intenção é, sim, filiar-se aos gregos. A proposta de Nunes recebeu muitas críticas, especialmente porque os sistemas fonéticos e poéticos do português e do latim são diferentes. O principal aspecto que conta na transposição do latim para o português é a relevância que a duração das vogais tem na língua latina, que não acontece na língua portuguesa, cujo padrão é acentual. Por não haver essa correspondência, os sistemas de metrificação antigos estão baseados em ritmos diferentes dos nossos”.

 

 

ENEIDA

Autor: Virgílio
Editora: 34
Preço: R$ 62,30 (896 págs.)

 

 

 

 

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