Literatura

Exploração literária filosófica

12 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

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Benedito Nunes, filósofo e crítico literário, dedicou ensaios escritos ao longo de cinquenta anos à obra de Guimarães Rosa. O livro A Rosa o que é de Rosa, organizado por Victor Sales Pinheiro e publicado pela editora Difel, do grupo editorial Record, reúne quinze textos que cobrem quase toda a produção do escritor mineiro vistas sob a sempre enriquecedora análise de Benedito.

O Instituto Moreira Salles, na edição dos “Cadernos de Literatura Brasileira” dedicado a Guimarães Rosa, publicou o ensaio “Guimarães Rosa quase de cor: rememorações filosóficas e literárias”, disponível para visualização. Neste ensaio, Benedito logo avisa a seu leitor dar prosseguimento a uma conversa travada com Guimarães em fevereiro de 1967 num gabinete do antigo Itamaraty, no Rio de Janeiro, ocasião em que ele lhe entregara o volume datilografado de Tutaméia e pedira-lhe opinião sobre um dos prefácios, escrito à guisa de uma exploração filosófica, intitulado “Aletria e hermenêutica”. Benedito teria respondido-lhe que este título “defendia original convergência entre o imaginário e o reflexivo, o teórico e o poético” e que seria um “empreendimento tanto literário quanto filosófico”. No ensaio, ele aprofunda sua análise: “A primeira questão com a qual nos deparamos é a legitimidade, como método, da aplicação da filosofia, de um modo geral, à leitura de textos literários, mormente os de ficção e em particular o romance, as novelas e os contos curtos (estórias) de Guimarães Rosa. Perguntamos, porém, antes de tudo, em que consiste o exame filosófico de uma obra literária”. Prossegue: “Do tecido poético de sua prosa afloram diferentes conceitos filosóficos e parafilosóficos, sempre pertencentes a troncos do pensamento metafísico e de ramificações religiosas”.

Em resenha ao jornal O Globo, o professor Jaime Ginzburg analisa: “Em Rosa, Nunes encontrou as condições para seu melhor trabalho como intérprete. O crítico, ao longo de sua produção, sustentou questões que reaparecem, de modo reiterado, em diversos textos. É possível destacar alguns tópicos: a definição do conceito de tempo, e as abordagens (linguísticas, estéticas, metafísicas) pelas quais seria possível representar a temporalidade; o papel da linguagem, incluindo suas relações com o mito e a realidade; as formas do ato de narrar, considerando as implicações da ruptura com o realismo na literatura”.

A rara erudição de Benedito Nunes, aliada ao texto claro, cujos passos interpretativos são marcados em pegadas expressas e não em saltos ornamentais, o comentário é uma contribuição de profunda relevância à história das ideias no Brasil.

O jornal Folha de São Paulo disponibiliza o ensaio que abre o livro, “A viagem”.

 

A ROSA O QUE É DE ROSA

Autor: Benedito Nunes
Editora: Difel
Preço: R$ 27,50 (322 págs.)

 

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