Literatura

A força verbal de Yuri Herrera

11 setembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Diego Rivera

O livro Señales que precederán al fin del mundo, do mexicano Yuri Herrera, é considerada uma das mais belas e precisas novelas escritas em língua espanhola nesta virada de século. Herrera recria a história mexicana, através de suas lendas do passado e do presente, amalgamando seu território real a seu território imaginário mitológico, resquício das culturas pré-colombianas.

Através das nove etapas dos mitos, a protagonista Makina, personagem cuja realidade não encontra paralelos na literatura contemporânea, atravessa esta história fabulosa.

Nas palavras de Elena Poniatowska, o livro é escrito “Com uma precoce sabedoria que somente se adquire com a dor. Yuri Herrera expõe as falácias humanas, o mundo dos subúrbios, das adegas, dos prostíbulos e de suas marcas, a droga, as armas, a morte”.  

As resenhas e notas de imprensa sobre o livro coincidem ao apontar a linguagem assombrosa, construída a partir da combinação da língua culta com falas populares.

De acordo com resenha de Gabriel Wolf­son, publicada na Revista Crítica, da Universidade Autónoma de Puebla: “Na realidade, a concentração obsessiva de Herrera por sua linguagem deriva, em casos concretos, a frases que parecem expressar unicamente sua própria singularidade. Refiro-me a alguns diálogos entre as personagens: em geral falam pouco na novela, donde que quando ocorre amiúde suas palavras foram tão cuidadosamente recortadas e ordenadas que produzem ar sentencioso: matéria forçosamente memorável, puro estranhamento característico (“él respondió Qué más da si lo hice o no, lo que importa es que a ninguna le niego el placer”, “hasta el aire, dijo, le entib­i­aba el pecho de otro modo”). […] a potência verbal de Yuri Herrera, fundada, em princípio, em uma vontade de dizer as coisas simples do mundo como nunca haviam sido ditas: não a invenção verbal desligada de matéria e florescendo em sua privadíssima esfera, mas a originalidade que segue à necessidade de precisão e o compromisso de instalar-se dentro do mundo narrado para falar dalí, com suas especificidades léxicas e sintáticas”.

Segundo Maria José Obiol, em resenha publicada no jornal espanhol El País, quando Yuri Herrera “publicou Trabajos del reino, surpreendeu pela força que emanava do texto. […] em Señales que precederán al fin del mundo, um texto especialmente bonito, a protagonista é uma moça que deverá ir até o norte em busca de seu irmão e ultrapassar, como na mitologia, nove etapas. Nove capítulos na novela que tomarão o nome de cada um dos passos da lenda pré-colmbiana. […] Começará o caminho por lugares e cidades que não se nomeiam, uma fronteira que não se enxerga e um rio que se cruza sem que se saiba onde nasce”. Segundo ela, os registros lingüísticos são ásperos e líricos, movimentam-se pelo interior da fábula.  

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Al llegar a la cima del columpio entre las dos montañas comenzó a nevar. Makina nunca había visto la nieve y lo primero que se le ocurrió al pararse a ver la lluvia de cristales leves fue que algo se estaba quemando. Uno se le posó en las pestañas: parecía una suma de cruces o el plano de un palacio, en cualquier caso un prodigio sólido y elaborado, y cuando se disolvió unos instantes después se preguntó cómo es que algunas cosas del mundo, algunos países, algunas personas, podían parecer eternas si todo era como ese diminuto palacio de hielo: irrepetible, precioso y frágil.

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SEÑALES QUE PRECEDERÁN AL FIN DEL MUNDO

Autor: Yuri Herrera
Editora: Periferica
Preço: R$ 55,50 (128 págs.)

 

 

 

 

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