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Herói cotidiano

5 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
professor

Franz von Lenbach

Recém lançado pela editora Rádio Londres, Stoner, de John Williams, é uma publicação cuja alta qualidade literária ainda não havia encontrado espaço no mercado editorial brasileiro.

A narrativa acompanha a trajetória de William Stoner, filho de camponeses simples, cujo futuro hereditariamente previsto, como trabalhador de terra, transforma-se: apaixonado pela literatura, acaba por tornar-se professor universitário. Os cinquenta anos de sua vida são narrados com elegância e com uma precisão sensível. O protagonista reage à sua vida com silencioso estoicismo, retrato de um improvável herói da vida cotidiana.

A história tem inspiração auto biográfica. Publicada originalmente em 1965, foi respeitosamente lida e resenhada. Sua prosa é clara e calma.

Como diz seu protagonista, os escritores normalmente escrevem sobre algo que temem tanto quanto confiam, o tempo. O valor e o propósito acadêmico é a principal preocupação do romance. Stoner, quando ingressa na universidade e começa a estudar literatura inglesa, descobre que a vida e a literatura imbricam-se em seu despertar humanitário: baseada em um senso de admiração gramática, surge-lhe, no início da vida acadêmica a certeza que a literatura muda o mundo mesmo na maneira de descrevê-lo. A academia, ao final de sua vida, parece-lhe a responsável por manter os valores do mundo, o mais tempo que conseguir. Seu trabalho, como professor, lhe determina um senso de mundo paciente e honesto. A narrativa sincera, também acaba por descrever uma história de valor universal: retrata a significância da vida individual.

O escritor espanhol Vila-Matas, por email ao jornal O Globo, disse, sobre Jonh Williams: “Impressiona a forma de narrar dele, a força inusitada para os dramas miúdos e para contar o cotidiano de nossas resignações e decepções. Fico surpreso que uma obra-prima dessas tenha sido ignorada durante tanto tempo”. No mesmo artigo, também o escritor brasileiro Carlos Henrique Schroeder é citado como fã oculto do romance, sobre o qual diz: “É um livro sobre redenção, e redenção pelo caminho da literatura. Stoner rega a aridez de sua vida e da trajetória universitária com dedicação exemplar pela docência e pela literatura. […] Muitos grandes escritores nunca conseguem publicar, caem nas primeiras barreiras, os agentes e editores. Quando conseguem, são ignorados pela crítica e pelos jornais e desaparecem no fundo das livrarias. São muitos filtros, mas leitores apaixonados podem devolver uma obra a seu lugar, seu espaço”.

O nome da editora Rádio Londres, recém inaugurada, refere-se a uma rádio que atuou, entre 1940 e 1944, clandestinamente na França, durante a época da ocupação nazista, e que teve papel de relevância fundamental na resistência francesa. A Rádio Londres brasileira promete renovar o mercado literário nacional a partir de 2015, com títulos interessantes, recentes e que passaram batido pelas casas editoriais já bem estabelecidas no país.

Em entrevista, o editor, o italiano Gianluca Giurlando, disse: “Temos como referência as editoras europeias independentes: na Itália, Espanha, França há um número impressionante de editoras independentes de pequeno e médio portes publicando literatura internacional de altíssima qualidade que conseguem manter um diálogo constante com os leitores: esse vai ser o nosso objetivo também”.
“Stoner”, do americano John Williams (1922-1994), foi elogiosamente comentada por autores como Ian McEwan, Julian Barnes e Bret Easton Ellis.

A editora disponibiliza um trecho para visualização.

stoner

 

 

STONER

Autor: John Williams
Editoras: Rádio  Londres
Preço: R$ 33,90 (320 págs.)

 

 

 

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