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História filosófica

18 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Se nem todo filósofo deve ser historiador, seria ao menos desejável que todo historiador se tornasse filósofo” – Edward Gibbon.

Afresco de Pompeia

Ensaios de história, de Edward Gibbon, acaba de ser publicado pela editora Iluminuras, sob a tradução cuidadosa de Pedro Paulo Pimenta. O livro reúne textos da juventude do historiador, conhecido sobretudo pelo estudo clássico Declínio e queda do Império Romano. Alguns dos ensaios reunidos no volume são “Ensaio sobre o futuro da história”, “Dos triunfos romanos”, “Situação da Germânia antes da invasão pelos bárbaros” e “Maneiras das nações pastoris”. Gibbon é exemplar representante de uma concepção e um método da história filosófica, como praticada por seus predecessores, Tácito, Montesquieu, Hume.

Pedro Pimenta, também responsável pelo texto de apresentação, pontua a relevância dos textos como complementos à edição condensada brasileira de Declínio e queda (cuja tradução, segundo ele, é “um clássico de José Paulo Paes”, mas exclui duas dissertações de interesse para essa tese geral, uma delas sobre os germânicos, a outra sobre os citas, ou hunos, ambas incluídas neste volume). Pimenta pontua: “O volume que o leitor tem em mãos traz pela primeira vez em língua portuguesa esse escrito de juventude, cujo caráter polêmico e estilo vigoroso caem bem a um jovem autor cheio de ambição e confiança”.

Segundo o tradutor, “Gibbon mostra que o gênio do historiador reside, sobretudo, no juízo acertado na escolha e interpretação dos fatos. Contra Rousseau, ele defende a dignidade da investigação aprofundada das transações políticas e militares e das maneiras dos homens, contra a hipótese arbitrária de um estado de natureza descolado da historicidade, que nos dispensaria de aceitar a história como instância que faculta a compreensão da natureza humana. Tendo meditado sobre essas questões de fundo, o jovem Gibbon se lança no estudo das fontes e documentos que permitem compreender a experiência histórica em filigrana”.

De acordo com a análise de Fernão de Oliveira Salles dos Santos Cruz, conforme seu editorial à revista de filosofia Dois Pontos [volume 8, número 1, de abril de 2011], as palavras de David Hume, “Eu acredito que esta é a época da história”, ilustram uma preocupação central dos pensadores do século XVIII, a saber, o “encontro enriquecedor entre filosofia e história. Para muitos dos filósofos do período, bem como para diversos daqueles que os sucederam, a história não apenas foi um instrumento poderoso para refletir em termos renovados sobre a política, a moral, a filosofia e a própria Ilustração, mas foi, ela mesma, um tema privilegiado para a reflexão filosófica. Não por acaso, é neste momento que se pode flagrar tanto o nascimento da filosofia da história (com Kant e Herder, provavelmente), quanto os primeiros ensaios modernos de uma história filosófica. Nessa medida é notável, por exemplo, que filósofos como Hume e Voltaire tenham produzido algumas das principais obras históricas da época, assim como chama a atenção que historiadores como Edward Gibbon tenham se empenhado em fazer da história uma disciplina filosófica”.

Pimenta, no artigo “Apresentação a Panorama do progresso da sociedade na Europa, de William Robertson”, analisa: “A história é uma ciência do sentido, toma um amontoado de eventos que parecem desconjuntados e encontra neles uma ordem, a partir do discernimento de causas que os governam. Os eventos se tornam inteligíveis ao adquirirem forma própria, na linguagem do historiador, ela que, obedecendo às regras da arte, tais como se encontram nos melhores autores antigos (nos críticos como preceitos, nos historiadores como modelos), exibe para o leitor uma experiência que, estando no passado, é experimentada como se fosse atual ou presente. O programa dessa ciência filosófico-literária, inventada, em grande medida, por Montesquieu e Voltaire, é delineado pelo inglês Edward Gibbon num texto de 1762, publicado em francês, intitulado Introdução ao estudo da literatura. Ali, pode-se ler que “a história, para um espírito filosófico, é como o jogo para o marquês d’Angeau. Ele via um sistema, relações, uma seqüência, onde outros não discerniam mais que os caprichos da fortuna. Essa ciência, para o filósofo, é a ciência das causas e efeitos”. A observação descuidada vê uma sucessão de eventos aleatórios; o historiador discerne relações. Tudo depende, para que chegue à verdade, do “juízo” na escolha dos fatos”.

 

 

ENSAIOS DE HISTÓRIA

Autor: Edward Gibbon
Editora: Iluminuras
Preço: R$ 26,60 (160 págs.)

 

 

 

 

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