Octavio Paz definiu assim O labirinto da solidão: “O labirinto da solidão foi um exercício da imaginação crítica: uma visão e simultaneamente uma revisão. Uma coisa muito diferente de um ensaio de filosofia do mexicano ou da procura do nosso pretenso ser. O mexicano não é uma essência e sim uma história. Nem ontologia nem psicologia. O que me intrigava (e intriga ainda) era menos “o caráter nacional” que aquilo que este caráter esconde: o que está por trás da máscara”. Publicado pela primeira vez em 1950, com a intenção de decifrar os mitos mexicanos, ao livro foi acrescentado, após os violentos acontecimentos de 1968 no México, um pós-escrito. Paz reflete sobre a história do México, a identidade do país e de seu povo, seu universo mental e realidade local, seus mitos, sua lógica: a mexicanidade. Mas não só. Trata-se, talvez, da mais importante tentativa de situar o homem latino-americano no contexto histórico mundial.
Para Antonio Paulo Rezende, em artigo publicado na Revista Brasileira de História, “Paz traça uma trilha de inconformismos, sem, contudo, entregar-se a um niilismo absoluto. Somos, para ele, seres incompletos que inventamos a cultura, numa procura quase desesperada de transcendência e ou mesmo de sublimação de nossas imperfeições, criando fantasias e imagens que amenizam nosso sofrimento, mas que não dão respostas para a solução de nossos enigmas. O território da cultura é um espaço de interrogações específicas de cada uma delas, mas também universais”. Segundo Rezende, a modernidade “inaugura a crítica radical ao tempo que se contempla a si mesmo e se acha definitivo. Mexe com o narcisismo e termina por se deixar levar por suas armadilhas”; Paz, com sua “capacidade de explorar as contradições como parte constante da construção da história”, mostra que elas “não são fundantes, não fazem parte dos primeiros códigos do mundo. Elas evidenciam que algo foi perdido”.
Nas palavras da historiadora Maria Alice Aguiar, “é a história que pode mostrar, como bem diz Paz, como a desancoragem do ser mexicano se realizou. Usando no retorno a trilha já palmilhada quando da busca do Minotauro, infiltra, no terreno da história todo o material mítico, psicanalítico e ontológico” e “faz caminhar juntas, política, ontologia e psicanálise”. A historiadora conclui: “Antes da história o mito se insta como justificação da existência: alicerça o temporal sobre o intemporal e constitui um princípio de compreensão plena pela prioridade ontológica que se dá a uma verdade antecedente em valor. E foi pela repescagem do mito como fundação, como verdade profunda em nível do Ser, como ontofania, que Octavio Paz alicerçou a sua crítica. Alicerçou-a no mito como local arquetípico gerenciador das ações humanas, gerador de sentimentos e emoções. Mito como nascente do rio da História do México”.
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Trecho:
“A solidão, o sentir-se e saber-se só, desligado do mundo e alheio a si mesmo, separado de si, não é característica exclusiva do mexicano. Todos os homens, em algum momento da vida sentem-se sozinhos; e mais: todos os homens estão sós. Viver é nos separarmos do que fomos para nos adentrarmos no que vamos ser, futuro sempre estranho. A solidão é a profundeza última da condição humana. O homem é o único ser que sente só e o único que é busca de outro. Sua natureza – se é que podemos falar em natureza para nos referirmos ao homem, exatamente o ser que se inventou a si mesmo quando disse “não” à natureza – consiste num aspirar a se realizar em outro. O homem é nostalgia e busca de comunhão. Por isso, cada vez que sente a si mesmo, sente-se como carência do outro, como solidão”.
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Autor: Octavio Paz
Editora: Paz e Terra
Preço: R$ 45,00 (261 págs.)