matraca

A libertação de Creta

27 setembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Interessante lançamento deste segundo semestre, outra tradução direta do grego do escritor Nikos Kazantzákis, O capitão Mihális (liberdade ou morte), pela editora Grua, em tradução de Silvia Ricardino. A editora já havia publicado Vida e proezas de Aléxis Zorbás, primeira tradução diretamente do grego do autor no Brasil, feita por Marisa Ribeiro Donatiello e Silvia Ricardino; a história deste livro tornou-se mundialmente conhecida após sua adaptação para o cinema, no filme “Zorba, o grego”, de 1946. Nikos Kazantzákis é considerado um dos maiores escritores do século XX. Apesar de não ter ganho o Prêmio Nobel – foi indicado por Thomas Mann e Albert Schweitzer e perdeu-o, por um voto, para Albert Camus – ganhou, porém, o Prêmio Internacional da Paz, em 1956.

Nikos Kazantzákis nasceu em 1883 na ilha de Creta, ainda sob domínio turco, e morreu na Alemanha em outubro de 1957. Escreveu sua obra tanto em francês como no dialeto grego demótico, linguagem coloquial da classe trabalhadora de Creta. A liberdade de Creta e a ocupação da Grécia são temas importantes na sua obra; em O capitão Mihális (liberdade ou morte), livro publicado originalmente em 1953, não somente é pano de fundo a revolta cretense que durou oito meses e que foi sufocada pelo dominador otomano, mas a própria cidade é, sobretudo, a personagem principal dessa epopeia: são suas ruas que mediam a guerra religiosa diária, o conflito de costumes entre cristãos e islâmicos. O capitão Mihális, protagonista psicologicamente profundo, inspirado no pai do autor, luta pela libertação de Creta. A história de Kazantzákis retrata o espírito que se quer livre, porém aprisionado pela violência. Suas palavras, porque concentram a carga da dor, simbolizam a um tempo a vida e a morte.

O escritor viveu na França e entre os anos 1907 e 1909 estudou filosofia tendo, como tutor, o filósofo Henri Bergson. Alguns comentadores consideram Kazantzákis mais um filósofo do que um romancista ou poeta, reconhecendo em suas obras não somente a forte influência de Bergson, mas também profunda afinidade com a filosofia de Nietzsche. Seu texto é considerado por alguns comentadores como híbrido, formado pelo cruzamento dos discursos filosófico, literário e religioso.

Ao morrer, inscreveu-se em seu epitáfio: “Não tenho nenhuma esperança. Não tenho medo de nada. Sou livre”; uma variação aos dizeres do personagem Geranos, no romance Toda Raba – “Não creio, não espero. Sou livre”. –, que ecoa o niilismo do escritor ao mesmo tempo em que guarda sua incansável luta pela liberdade.

 

O CAPITÃO MIHÁLIS (LIBERDADE OU MORTE)
Autor: Nikos Kazantzákis
Editora: Grua
(568 págs.)

 

Send to Kindle

Comentários