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Poetas do Repente

26 setembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Uma viola e a predisposição à rima, preferencialmente simpática, quase sempre jocosa, às vezes absurda, ou humanamente dramática, têm, na cultura popular brasileira, um dos pontos culminantes nos espontâneos poemas musicados conhecidos como repentes. O improviso, incrivelmente rápido, cabe ao cantador, poeta e repentista – a cantoria, no ritmo da viola, é harmonizada de acordo com a cadência do verso. O nome vem do repentino, do de repente.

Há pouco material literário sobre os repentes, porém uma publicação ótima: Poetas do repente, publicado pela editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco (órgão do Ministério da Educação); um livro acompanhado por quatro documentários em DVD e trilha sonora em CD, em edição bilíngue – português e inglês.

Os documentários ensinam a métrica, a rima, os modos do repente e falam sobre as origens da cantoria popular, identificando raízes africanas, que teriam, após influências portuguesas, estabelecido-se conforme conhecida hoje, no nordeste brasileiro, sobretudo no sertão da Paraíba e Pernambuco.

Uma curiosidade, alheia ao livro: há controvérsias sobre as origens e quem diga que a cantoria, poesia improvisada ao som da viola, com seus estilos e ritmos próprios, versos metrificados e rimados, seja criação do próprio nordestino: haveria até mesmo um documento que o comprovasse. O documento, um folheto da década de 1950, escrito por Josué Romano, precisa que a primeira cantoria repentina ao som de violas teria acontecido na noite de 23 de junho de 1858, véspera de São João, na “Bodega de Cima”, localizada nas imediações da igreja primeira da cidade de Teixeira, cidade paraibana encravada no ponto culminante da Cordilheira da Borborema, com os repentistas Romano Caluête e Silvino Pirauá.

Verdade ou não, a história é ao menos condizente com a versátil criatividade dos cantadores, cujos versos encarnam seu universo particular. O repente não somente canta essencialmente o nordeste brasileiro, mas também é ciente de sua representatividade na formação cultural do nordestino. Sua influência não só permeia obras de grandes escritores como Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto, como é, por si só, parte importante da cultura brasileira.

 

POETAS DO REPENTE
Editora: Massangana
(42 págs.)

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