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Noites de alface

15 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Noites de alface é um livro construído de pequenos detalhes. Nesta poética concentra, por um lado, boa parte de sua carga dramática e, por outro, uma veracidade, ou ao menos uma plausibilidade e familiaridade que conquistam de cara o leitor. Toda rotina é desenvolvida sobre pequenas coisas, sobre microcosmos muito pessoais; o romance de Vanessa Bárbara é feliz ao capturar essa imperceptível mas irrevogável penetração dos detalhes no desenrolar diário da vida. O livro é como que feito de pequeninas narrativas articuladas, tão completas e tão amplas, tão ricas em minúcias que interferem-se no desenrolar do cotidiano do protagonista, envolvido assim no desdobramento irreversível de significados dos detalhes.

A naturalidade ao iluminar pequenas coisas cotidianas de existência latente – nos segredos das mochilas dos metropolitanos, nos códigos por trás dos números dos ônibus, nas respostas políticas avinagradas –, é característica da escritora em seu trabalho jornalístico, nas crônicas que escreve ao jornal Folha de São Paulo, em um recente artigo escrito à revista New Yorker, por exemplo. Em seu romance, essa naturalidade dá ao seu enredo uma humanidade verdadeira e dramática.

Vanessa Bárbara nasceu em 1982, em São Paulo. Como escritora, escreveu O livro amarelo do terminal, publicado pela CosacNaify, em 2008 – o livro foi vencedor do prêmio Jabuti na categoria de reportagem –, o romance O verão do Chibo, em parceria com Emilio Fraia, publicado pela editora Alfaguara, também em 2008, e o infantil Endrigo, o escavador de umbigo, publicado pela editora 34, em 2011. Como tradutora, recentemente lançou sua versão de O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, publicado pela Companhia das Letras em parceria com a editora inglesa Penguin.

Noites de alface é um romance que desenrola-se em torno das minúcias por trás das perdas, em torno da solidão que vem com a falta da convivência diária trivial quando acontece a morte de um companheiro de vida. Nas pequenezas da ausência que se faz lembrar em cada um dos velhos costumes que se repetem diariamente, Vanessa consegue reverberar um silêncio profundamente expressivo, a solidão da “casa de gavetas vazias”. Entre ruídos de liquidificador, discussões, chineladas, latidos, o protagonista encurrala-se na própria solidão revolvendo o passado, nas noites que a ele se tornam cada vez mais longas.

 

 

 

 

NOITES DE ALFACE
Autor: Vanessa Bárbara
Editora: Editora Alfaguara
(168 págs.)

 

 

 

 

 

 

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