Literatura

Retrato da moral burguesa

11 março, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Flávio de Carvalho

Flávio de Carvalho

A comédia humana, de Balzac, é monumental: composta por 89 volumes de romances, contos e novelas. Otto Maria Carpeaux já o dizia: dentre uma produção tão volumosa, parte foi feita “às pressas para ganhar dinheiro”. É o caso, segundo o crítico austro-brasileiro, de um dos romances balzaquianos mais famosos, A mulher de trinta anos. A crítica não é unânime, e o livro de Balzac, tão comentado, vale a pena ser lido, como comédia de costumes da burguesia francesa, como representante do realismo então recente na literatura.

A editora Globo começou a reeditar A comédia humana conforme organizada e traduzida por Paulo Ronái, em 2012 publicou os quatro primeiros volumes, referentes à “Comédia da vida privada”, dentre os quais figura A mulher de trinta anos. Agora lançado pela Companhia das Letras pelo selo que tem em conjunto com a inglesa Penguin – sob o qual a editora lançou também títulos de Balzac como O pai Goriot e O coronel Chabert –, foi traduzido para o português por Rosa Freire d’Aguiar; a edição conta também com uma introdução da escritora, ensaísta e crítica literária Eliane Robert Moraes.

Em A mulher de trinta anos, Balzac narra a história de vida de uma mulher, Julie d’Aiglemont, acompanhando-a de sua juventude até a idade adulta. Julie, acreditando-se apaixonada, decide cedo casar-se com Victor d’Aiglemont, um coronel da cavalaria do exército napoleônico. Seu casamento, porém, apesar de toda a idealização da moça, torna-se nada mais que fonte de desgostos. Rapidamente, descobre-se profunda e irreversivelmente infeliz no casamento e na maternidade. Victor é – como outras personagens masculinas de Balzac –, é machista, portanto dominador, ainda que caracterizado como uma pessoa medíocre e, à frustração matrimonial, seguem-se paixões por outros homens e traça-se o destino trágico, não só da protagonista, mas da mulher burguesa do século XIX de maneira geral, marcados pelas contradições, sociais e morais, da própria sociedade moderna.

Em artigo publicado na revista Cult, o poeta e jornalista Heitor Ferraz Mello aponta: “Para a crítica de forma geral, Balzac revolucionou a literatura do século 19 ao construir, com uma obsessão impressionante e em todos os seus detalhes, a história da França moderna, com a decadência financeira da nobreza e a ascensão da burguesia, colocando o dinheiro no centro nervoso de suas intrigas. Ao comentar a geração de escritores de 1830 na França, o também húngaro Arnold Hauser, em seu História Social da Arte e da Literatura, lembrava que enquanto os romances de Stendhal, como O Vermelho e o Negro, são “crônicas políticas”, Balzac, dizia ele, por seu turno, baseava a estrutura social de seus romances na economia: “Está perfeitamente cônscio de que as formas correntes da ciência, da arte e da moralidade, assim como as da política, são funções da realidade material e que a cultura burguesa, com seu individualismo e racionalismo, tem raízes mergulhadas na estrutura econômica do capitalismo”, escreveu”.

O romance, dividido em seis partes, foi escrito entre 1829 e 1842. Como Balzac ao longo daqueles anos continuou a retocar o texto, dividindo-o em publicações fragmentadas e dispersas, acrescentando-lhe posteriormente capítulos, Paulo Ronái, na supra citada edição publicada pela Globo, chamou-o de um “conjunto de seis episódios disparatados, mal reunidos entre si e rematados por uma conclusão melodramática”, apropriado, segundo o crítico húngaro-brasileiro, a enfastiar o leitor.

 

balzac

 

 

A MULHER DE TRINTA ANOS

Autor: Honoré de Balzac
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 17,43 (240 págs.)

 

 

 

 

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