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Romantismo e revolução

22 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Goya, gravura da série "Os desastres da guerra"

Goya, gravura da série “Os desastres da guerra”

O livro Revolta e melancolia: O romantismo na contracorrente da modernidade, de Michael Löwy e Robert Sayre, estava esgotado no Brasil há alguns anos e acaba de ser reeditado pela Boitempo. Os sociólogos analisam a vertente revolucionária da tradição romântica.

Segundo eles, o romântico é uma visão de mundo complexa que persiste até nossos dias, enquanto resposta ao modo de vida da sociedade capitalista.

Para guiar sua análise, os autores resgatam a crítica romântica do mundo moderno, dolorosa e melancólica, que aponta a perda de alguns valores humanos essenciais.

O livro é dividido em sete capítulos, nos quais Löwy e Sayre atravessam mais de dois séculos da história da cultura do Ocidente para mostrar o romantismo como expressão cultural da revolução. Essa leitura, ousada e inovadora, mostra o romantismo como força crítica e lúcida diante das ideologias do progresso, como oposição, em todas as áreas – poesia, arte, política, filosofia –, à civilização industrial e à economia de mercado, bem como à sociedade dominada por ela.

No texto de orelha, Marcelo Ridenti, sociólogo e professor da Unicamp, aponta: Dimensões românticas estão presentes no Maio de 1968 francês, nas revoluções terceiro-mundistas, na teologia da libertação, em correntes ecossocialistas e outras, políticas, intelectuais e artísticas. E também nas obras de autores os mais diversos, de diferentes momentos e lugares, de Schelling a Tönnies, de Burke a Weber, de Dickens a Thomas Mann, de Balzac a Tolstói, de Victor Hugo a José Marti, de Bakunin a Rosa Luxemburgo, Marx e Engels”. Segundo Ridenti, os autores detectam um princípio unificador na diversidade das expressões românticas: colocar-se “na contramão da modernidade”. O romantismo seria uma forma de (auto)crítica da modernidade, reação formulada de dentro dela própria, no interior da civilização capitalista moderna, buscando recuperar no presente certos valores humanos essenciais que foram perdidos com a alienação, a reificação e a generalização do fetichismo da mercadoria. Os principais componentes da visão romântica envolvem a recusa da realidade social presente, a experiência da perda, a nostalgia melancólica e a busca do que está perdido”.

Trata-se de um erudito e ambicioso esforço teórico, uma análise social, histórica e filosófica. O romantismo, segundo os autores, enquanto estrutura mental coletiva inerente à própria modernidade, é “por essência anticapitalista”, uma “autocrítica da modernidade”, que tem como seus primórdios a obra de Rousseau. Para  Löwy e Sayre, “o romantismo também se apresenta como uma radicalização, uma transformação/continuação da crítica social do iluminismo”. No século XX, os sociólogos compreendem uma globalização do fenômeno romântico como reação à “dialética do iluminismo” e às catástrofes da modernidade.

O livro tornou-se uma das principais referências para debates sobre o “espírito” do romantismo no mundo atual.

Os autores pensam a lógica romântica de maneira abrangente, como a saída entre “tradição e modernidade, retorno ao passado e aceitação do presente, reação obscurantista e progresso devastador, coletivismo autoritário e individualismo possessivo, irracionalismo e racionalidade burocrática”; o romantismo seria “a superação dialética dessas oposições em direção de uma nova cultura, uma nova unidade com a natureza, uma nova comunidade. Essas formas novas distinguem-se radicalmente das manifestações pré-capitalistas por integrarem determinados momentos essenciais da modernidade” e, sobretudo, “sem utopias deste tipo, o imaginário social seria limitado ao horizonte estreito do realmente existente e a vida humana a uma reprodução alargada do mesmo”. Para Löwy e Sayre, “a utopia será romântica ou não será”.

 

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REVOLTA E MELANCOLIA: O ROMANTISMO NA CONTRACORRENTE DA MODERNIDADE

Autores: Michael Löwy e Robert Sayre
Editora: Boitempo
Preço: R$ 39,90 (288 págs.)

 

 

 

 

 

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