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Sobre o homem e suas relações

5 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Vermeer, "Mulher segurando uma balança"

Vermeer, “Mulher segurando uma balança”

Dada a dificuldade de acesso aos textos do filósofo Franz Hemsterhuis (1721 – 1790), é notória e feliz a existência de uma boa tradução de alguns de seus mais relevantes textos, reunidos em Sobre o homem e suas relações, feita por Pedro Paulo Pimenta, professor de filosofia da USP, e publicada pela editora Iluminuras. Pimenta é responsável também pelas notas e pela introdução, na qual contextualiza a produção do filósofo e a publicação original da carta que dá nome ao volume:

“[…] Franz Hemsterhuis declina da atividade acadêmica para dedicar-se à administração pública dos Países-Baixos, e é paralelamente à carreira política que desenvolve sua reflexão filosófica a partir do início dos anos 1760. Tomando para si a tarefa de imprimir seus próprios textos, redigidos sempre em francês, o filósofo não desfruta de qualquer reputação para além de um estreito círculo de amigos que conhecem e admiram seus textos e sua conversação. Em 1772, Hemsterhuis redige a Carta sobre o homem e suas relações e, algum tempo depois (provavelmente em 1774), pede a Diderot uma opinião a respeito do texto, que faz chegar às suas mãos juntamente com a Carta sobre os desejos (1768)”.

O volume contém os seguintes textos de Hemsterhuis: Carta sobre a escultura (1765), Carta sobre o homem e suas relações (1772), Aristeu ou sobre a divindade (1778), Carta de Diócles a Diotima sobre o ateísmo (1789). Acompanham esses textos o comentário de Diderot, acima mencionado, bem como a carta de Jacobi a Hemsterhuis sobre o Aristeu, enviada a Mendelssohn em 1784. 

A investigação sobre o homem e suas relações faz-se através de um exame minucioso e crítico de diferentes temas, tais como o ateísmo, o materialismo, o finalismo, o antropormofismo. Sua análise filosófica combina conhecimentos e pensa em conjunto as ciências, a arte, a religião e a sociedade.

Precursor do Romantismo, talvez se possa dizer, sem exagero ou anacronismo, que, com Hemsterhuis, a intuição intelectual e o espírito universal já não estavam muito longe.

Segundo Pedro Paulo Pimenta, as “motivações da filosofia de Hemsterhuis são essencialmente morais, e nesse sentido fica claro seu débito para com uma certa tradição platônica: se os saberes matemáticos têm valor inegável, Hemsterhuis não deixa de notar que a dimensão desse valor depende da submissão do saber positivo à moralidade. Às pretensões da razão que derivam do conhecimento da natureza, Hemsterhuis opõe a necessidade da adoção de uma perspectiva moral. Em seu uso ‘teórico’, por assim dizer, a razão tem limites: pode até mesmo chegar à ideia de uma inteligência que criou e governa o mundo, mas tal ideia é desprovida de qualquer significado, de qualquer implicação para o homem”. Assim, o professor prossegue sua análise, “a divindade reside no próprio homem, não numa relação indutiva que este possa estabelecer com seu criador. No limite, não podemos nem mesmo dizer se Deus é moral, se o mundo que criou tem um sentido moral; depende apenas de nossa conduta, baseada numa vontade livre, dar um sentido propriamente divino àquilo que parece ser suscetível ao mal e à desordem”. Dessa forma, como o comenta Hartmann, “o mundo espiritual é, para Hemsterhuis, o moral, quer dizer, o mundo do ethos (integridade moral), do bem e dos valores da vida”.

Franz Hemsterhuis é comumente mais comentado por sua influência, tanto no Romantismo quanto no Idealismo alemães, que por sua filosofia, propriamente dita.

Para Nicolai Hartmann, Hemsterhuis foi um pensador “silencioso e dotado de alma fina e cheia de pressentimentos”; nele, os românticos alemães, diz Hartmann, “encontraram o que queriam e procuravam, por assim dizer, performado profeticamente, numa maneira que até correspondia ao seu sentimento de forma peculiar, isto é, numa vivacidade de ditos e respostas não conceitual, metafórica, insinuante, que flutuava suavemente e que nunca exprimia nada até o fim”. Xavier Tilette, por outro lado, referia-se a Hemsterhuis como o “Sócrates batavo”, ou “Sócrates holandês”, em função de sua virtude sociável.

 

hemsterhuis

 

SOBRE O HOMEM E SUAS RELAÇÕES

Autor: Franz Hemsterhuis
Editora: Iluminuras
Preço: R$ 29,40 (200 págs.)

 

 

 

 

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