Arquivo da tag: Antonio Tabucchi

Literatura

A geografia do tempo

19 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“[…] certo dia acordou fora do contexto, no sentido de que em vez de estar de lado estava de costas, observando o teto de seu quartinho, que ele sabe-se lá por que imaginava celeste, mexia em vão as patas peludas perguntando-se o que fazer. O pensamento o irritou, não tanto pela comparação quanto pelo pertencimento ao gênero: literatura, ainda literatura”.

gravura de Evandro Carlos Jardim

gravura de Evandro Carlos Jardim

O tempo envelhece depressa, belo livro de contos de Antonio Tabucchi, é poético, onírico, mas, ao mesmo tempo, real de maneira literal: em nota ao final do volume, o autor diz: “algumas destas histórias, antes de ganharem corpo no meu livro, existiram na realidade. Limitei-me a ouvi-las e a contá-las à minha maneira”. O livro reúne nove contos, que segundo o autor prestam homenagem às Nove Estórias, de J. D. Salinger, segundo ele “o livro de contos mais belo do século XX”.

As personagens dos contos de Tabucchi, através de uma prosa delicada, articulam-se em torno da noção difusa e múltipla do tempo – tempo dos acontecimentos por vir, tempo passado, tempo da memória e da consciência, tempo histórico do mundo e do homem.

Continue lendo

Send to Kindle
lançamentos

Ambivalências das alucinações

29 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Adeus e boa noite a todos, repeti. Encostei a cabeça para trás e pus- me a olhar para a lua.

Hyeronimus Bosch

Requiem – Uma alucinação, escrito em 1991, é uma homenagem do italiano Antonio Tabucchi à cidade de Lisboa e à língua portuguesa. O romance é o único que Tabucchi escreveu em português. Nele, seu protagonista, num estado entre a realidade e o sonho, perambula pela cidade que o autor escolheu para viver e morrer: em seu caminho errático, entre lucidez e torpor, encontra-se com vivos e com mortos e segue em direção ao encontro que tem marcado, ao meio-dia, com Fernando Pessoa.  Revivendo partes de seu passado, entre encontros inusitados, ele passa por vielas do inconsciente, criando um requiem pessoal de música orgânica que abarca toda a ambiguidade humana. Requiem, explica Tabucchi na nota introdutória, executado “numa gaita de beiços, que se pode levar no bolso, ou num realejo, que se pode levar pelas ruas”.

Continue lendo

Send to Kindle