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Artes Plásticas

7ª Bienal do Mercosul

18 fevereiro, 2009 | Por admin

É indiscutível o descontentamento geral em relação às grandes bienais de arte, descontentamento cujo ponto culminante foi a indecente 28ª Bienal de São Paulo, de 2008.

A porvindoura 7ª Bienal do Mercosul promete esquentar ainda mais a reflexão. Chamaram-na de Grito e Escuta, e explicaram sua proposta, que gera, de imediato, uma sensação desagradável pelas lembranças de um conturbado 2008: “a 7ª Bienal do Mercosul pretende chamar a atenção para uma reflexão sobre a própria Bienal do Mercosul, a crise do modelo Bienal em geral, a função do artista na sociedade hoje, e a gravidade das crises econômicas, sociais, políticas e culturais no mundo atual.”

Jorge Coli escreveu sobre a última edição da Bienal do Mercosul, em outubro de 2007, e nos dá, ao menos, uma esperança: “Há ótimos curadores no Brasil, está claro: a própria bienal do Mercosul teve grandes edições precedentes. Mas eles são poucos. Revezam-se nas mostras importantes. Isso significa forçosa repetição de enfoques, inevitáveis déjà vus. Pérez-Barreiro [curador da 6ª Bienal do Mercosul], espanhol de origem, com formação européia e norte-americana, responsável pelo setor latino-americano no museu de Austin, Texas, renovou expectativas que, no Brasil, tendem para o costumeiro.”

A 7ª edição da Bienal do Mercosul terá como curadores-gerais Victoria Noorthoorn (Argentina) e Camilo Yáñez (Chile). Os dois foram escolhidos através de concurso; entre 67 propostas apresentadas, Victoria e Camilo superaram propostas concorrentes de 24 países.

Camilo Yáñez

O editor da Revista APLAUSO – revista de cultura do Rio Grande do Sul -, Flávio Ilha, realizou uma entrevita com os curadores. Porém, a página do site da revista onde a entrevista fora publicada está fora do ar. Portanto, publicarei os os principais trechos da conversa aqui, até que a página oficial volte ao ar:

Juventude

Victoria
– Estamos propondo uma Bienal que tenha a juventude em sua estrutura, ou seja, uma mostra aberta e diferente em relação às anteriores. Acredito que somos bastante pretensiosos em relação a isso. É claro que não vamos reinventar a roda, mas creio que será uma Bienal muito inovadora desde sua estrutura. Sobretudo devido à sua abertura a inovações e a incorporação de um pensamento criativo à própria exposição. Nosso objetivo é oxigenar a Bienal através do pensamento dos artistas, que vão atuar como curadores. E que esse pensamento seja uma parte central da mostra.

Camilo – Quando falamos de curadores jovens, devemos considerar que também estamos em um continente jovem. Ou seja, um continente que tem, por isso, a possibilidade de se repensar constantemente, tem uma capacidade maior de sonhar, de ter utopias. Transportamos esse conceito para nosso projeto – não limitamos nossos sonhos e nossas utopias. Agora estamos baixando à terra.

A Bienal

Camilo – O papel da Bienal é de ser uma mediadora real entre os artistas contemporâneos, entre o público e entre os curadores. Um lugar de reunião e de discussão, onde a arte acontece. E não onde simplesmente se ilustra a arte. Não se trata apenas de mostrar formas de arte, mas de construir coletivamente essas formas.

Victoria – Estamos colocando nosso foco na transformação da Bienal numa efetiva experiência de arte. Ainda estamos avaliando as distintas alternativas que temos para envolver os artistas dentro da experiência da Bienal, para que ela esteja constantemente viva durante seu percurso. Não queremos que a Bienal seja apenas uma bela exposição, mas que seja uma experiência viva entre artistas e público. Queremos reinventar constantemente a Bienal. O desafio é enquadrar a exposição ao ritmo dos artistas, e não o contrário.

O projeto

Victoria – Há várias ações concretas que foram descritas no projeto. Uma das exposições propõe um diálogo entre artistas populares do Brasil – como grafiteiros, artistas de rua, anônimos – e artistas contemporâneos que trabalham a cidade como texto. É uma abertura da Bienal a esse artista que também trabalha na contemporaneidade, embora num patamar diferente.

Camilo – Outra ação é a convocatória aberta que faremos para artistas do mundo todo. Por que isso? Porque os curadores não têm a capacidade de conhecer a totalidade da produção contemporânea, isso é impossível. Então, essa convocação tem o sentido de ampliar a perspectiva de obras que poderemos mostrar. É essa oxigenação que estamos defendendo. Se os curadores foram escolhidos por concurso, muitos dos artistas que estarão aqui – e que não são visíveis, apesar de desenvolveram bons trabalhos – também poderão ser escolhidos dessa forma. Vamos selecionar projetos dirigidos especificamente à 7ª Bienal do Mercosul e que tenham a América Latina como referência. Queremos uma Bienal auto-generativa, quer dizer, uma Bienal que seja constantemente realimentada por seus próprios projetos.

Mercosul

Victoria – Não pensamos no Mercosul de forma fechada. A América Latina se formou, não só culturalmente, em diálogo constante com a história européia e norte-americana, principalmente. E hoje, com a globalização, é impossível pensar um continente fechado. Mas é claro que precisamos dar ênfase a nossos problemas e a nossas questões.

O público

Camilo – Vamos escolher um curador pedagógico, ou seja, um artista que estará focado exclusivamente em gerar mediações reais com o público – não só de Porto Alegre, mas do Rio Grande do Sul. Isso nos parece chave. Queremos que o público tenha mapas, ou uma cartografia, que lhe permita percorrer diferentes percursos para ver a Bienal. E não apenas uma única forma de leitura unidimensional, se não várias formas de ler a Bienal. O público, em linhas gerais, é que fará a exposição acontecer.

Victoria – O nosso projeto inclui performances, happenings e outras formas de expressão direta com o público, em ônibus, supermercados, em locais públicos e de grande circulação de pessoas. E em lugares não referenciais para a arte. O projeto editorial também precisa ter um papel motivador para o público, no sentido de construir seu próprio catálogo de arte. Por exemplo, cada pessoa poderá selecionar mais informações sobre trabalhos que lhe interessem – ou menos sobre os que não interessem. Queremos dinamizar a área editorial, e não fechá-la em catálogos bonitos, mas inacessíveis.

Projeto educativo

Victoria – Pretendemos que não haja apenas um relato sobre a Bienal, mas múltiplas forma de entendê-la. Isso quer dizer que o professor poderá eleger um relato que tenha mais relação com a matemática, por exemplo. Ou com a história, com as ciências sociais. Devemos vincular fortemente o projeto educativo com as publicações – mais massivas, de baixo custo, na internet. Nos interessa alcançar muita gente , pois não temos a pretensão de criar um novo modelo de Bienal. Temos sim a pretensão de que esta Bienal, em especial, seja muito forte, seja oxigenada e que chegue a muita gente. Ou seja, o mais aberta possível.

Camilo – O projeto pedagógico está pensado para ser um cadastro de metodologias de ensino da arte pela América Latina. Não só o ensino tradicional, mas também formas alternativas de se conhecer e aprender sobre arte. Nos interessa muito fazer da Bienal um processo de aprendizagem coletivo – dos curadores, dos artistas, do público.

Artistas

Victoria – Não temos nomes, mas vamos nos focar em artistas que utilizam a arte como forma de subverter a realidade e, por conseqüência, como forma de chamar a atenção para essa realidade. Estamos vivendo uma época complicada, de conflitos intensos. Os artistas são pessoas importantes para assinalar esses desafios, que propõem alternativas contundentes e, claro, possíveis. Nos interessa envolver o máximo possível, nesse processo, os artistas locais.

Camilo – O que nos interessa é fazer uma boa Bienal. E como se faz isso? Desde os artistas e desde o público. É preciso estabelecer uma energia coletiva entre esses agentes. O que podemos dizer, neste momento, é que o espírito central da Bienal é a oxigenação e a dinamização do contexto atual da arte.

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Artes Plásticas

+ Bienal do Vazio – Jorge Coli FSP

11 novembro, 2008 | Por admin

Na tentativa de levar os leitores à exaustão, publico mais um pouco sobre a Bienal do Vazio. Desta vez é o artigo de Jorge Coli que saiu no domingo no caderno Mais! da Folha de Sâo Paulo.

Abre aspas.

O título deste “Ponto de fuga” está na coluna de Barbara Gancia, na Folha, dia 31 passado. Um artigo que lavou a alma. Enfim, alguém berrou: “O rei está nu”.

Ou melhor: a Bienal de São Paulo está vazia. Vazia. Sem floreios ou firulas: vazia, irremediavelmente vazia, pateticamente vazia. Vazia de obras, de idéias, de vergonha.

Não é gesto artístico: Yves Klein [1928-62] pintou de branco a galeria Iris Klert, em Paris, e expôs o vazio, provocando filas de gente querendo entrar para ver o que não havia.
Isso em 1958. Cinqüenta anos depois, está lá, no pavilhão do Ibirapuera, o cavo, o inane, o chocho.

Não adianta vir com história de que essa Bienal causa “polêmica”, palavra hedionda porque reduz argumentos e debates a um espetáculo de circo. Não pode haver “polêmica” com alguma coisa que se situa entre o simplório e o safado. Não é admissível contemporizar, dizendo que a arquitetura do Niemeyer ficou visível, patati e patatá.

Nem que houve seminários, conferências e quejandos: a Bienal de São Paulo não é academia ou universidade. Existe para mostrar arte recente.

Nem que ela “questiona” a produção de hoje ou a natureza das próprias bienais. Questiona nada, porque é um nada.

O que ela traz, sem querer, não é artístico ou estético, é ético. Aracy Amaral, com sua serenidade de sábia, tocou num nervo exposto, declarando à Folha: “Existe uma produção nacional muito vigorosa que não está aqui e poderia”.

Basta comparar a atual Bienal de São Paulo com as últimas edições da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre.

Lá, as mostras, nacionais e internacionais, são vivas, agudas, brilhantes.

Parquinho

No segundo andar da Bienal não há nada. Literalmente. No primeiro, algumas obras minguadas. Entre elas, um escorregador, de Carsten Höller. Escorregador mesmo.

Na Tate Modern, de Londres, há dois anos, eram cinco. Aqui é um só, perdido no desânimo.

Se é para perturbar a seriedade sagrada dos lugares reservados às artes, uma sugestão: instalar a próxima bienal no Playcenter. Tanya Barson, da Tate Modern (Londres), que lamentou, na Folha, ter voado 14 horas para ver a Bienal do Vazio, poderia ao menos se divertir na montanha-russa, no chapéu mexicano.

Charabiá

Como muitas pessoas são fascinadas por aquilo que não conseguem entender, a crítica e a teoria das artes abusam.

Jonathan Shaughnessy sobre Carsten Höller: “Esses objetos tentam ao mesmo tempo embrulhar e revelar os sentidos a fim de que inibam a subjetividade e o sentimento de si ao invés de favorecê-los”. Tradução possível: depois de escorregar no tobogã a gente fica tonto.

Coronéis

Um problema de certas instituições brasileiras voltadas para a arte e para a cultura é que se acham nas mãos de ricaços.

Nos EUA, contribuições vão para o MoMA ou a Metropolitan Opera. Uma direção especializada decide o destino das verbas. Aqui, quem tem dinheiro mete o bedelho. Os resultados são desastrosos. Sem contar a freqüência com que dinheirama e falcatrua se tornam sócias.

Ilustração evidente, o caso de Edemar Cid Ferreira. Chegou a ser mais poderoso do que o ministro da Cultura no Brasil e acabou na cadeia.

Tristes fraquezas pressupostas naquele latim: “Sic transit gloria mundi”, ou seja, uma hora por cima, outra hora por baixo. Edemar Cid Ferreira vivia circundado por uma corte de intelectuais que se agitava ao seu serviço. Que se escafedeu ao sentir o cheiro de queimado.

Fecha aspas.

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