Mallarmé como fundamental instaurador de questões contemporâneas que ultrapassam a forma poética.
Stéphane Mallarmé (1842-1898) inaugurou questões e possibilidades para a poesia, tão profundas, que ainda não plenamente decifradas pela crítica literária contemporânea. Precursor da poesia concreta, influência decisiva para os poetas futuristas e dadaístas, Mallarmé é, sobretudo, conhecido como um escritor cuja prosa e poesia primam pela musicalidade e experimentação gramatical.
Sartre, no livro Mallarmé – sem tradução para o português –, analisa que o poeta, em sua obra, nega o homem, pois que transforma “o eterno em temporalidade e o infinito em acaso”.
Antes de Camus, Mallarmé teria percebido, segundo o filósofo, que o suicídio é uma questão humana premente, trabalhada, em sua poesia, através do poema crítico, em que a elocução do poeta desaparece em favor da autonomia das palavras.
Mallarmé cria uma articulação sintática inovadora a partir de uma desconexão, um distanciamento, que faz com que as palavras orbitem em torno umas das outras não por uma necessidade semântica, mas por relações analógicas.
De acordo com Sartre, Mallarmé cria uma linguagem em que a palavra se torna coisa. Segundo o filósofo, “le poème est la seule bombe” [“o poema é a única bomba”], frase provinda de uma metáfora-ideia política de Mallarmé. Poemas podem ser bombas, pois exploram e esgotam as relações dos significantes que abarcam.