Arquivo da tag: O Idiota

Crítica Literária

Musil e Dostoiévski – Modulações

1 abril, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Não que se diga de um homem sem qualidades que seja de todo um idiota. Mas em uma sociedade imperial ou czarista, muito se diz a respeito das personalidades mais excêntricas. Pois as altas rodas dessas sociedades costumam maldizer personagens que as observam com perspicácia, ainda que tais personagens mantenham certo alheamento social. Vivendo nessas sociedades, o idiota é ridicularizado por sua ingenuidade; o homem sem qualidades por seu sarcasmo pessimista. Ambos são personagens permeados por um diagnóstico crítico, de época e de mundo. Assumem discretamente um tom satírico e sua simples existência meio descabida nessas sociedades em que se inserem é espelhada nas personagens ao redor, o que acaba por tipificá-las – tipos quer sociais, quer psicológicos, nas vestes de uma generala ou de uma Diotima. E, se ridicularizados, nessa sociedade que os espelha como numa sonata, quer dizer, retomando e reexpondo seus temas em outros registros, eles, com a irrefutável capacidade de rir-se de si mesmos dão vazão à risibilidade latente das discussões sérias feitas em sociedades que levam a si, e a seus modelos, demasiado a sério – nota: um elegante conde séculos antes já sugerira, a verdade deve passar no teste do ridículo. A crítica refletida é sutil e precisa.

A impressão é a de uma música, sob a qual as personagens se organizam. Os tipos dançam, ao som dos acordes em voga, à maneira de cenas que se sucedem com entradas e saídas do palco, dançarinos com figurinos em meio a cenários requintados e significativos, através dos quais, porém, um idiota ou um homem sem qualidades, cada um a seu jeito, parecem caminhar calmamente, incomodando as coreografias; caminham pela cena, alheios, de calças compridas e olhar reflexivo mesmo que em plena encenação de um pas-des-deux. Figuras quiméricas em meio a retratos do homem moderno.

o homem sem qualidades e o idiota

 

 

 

Send to Kindle