O programa Tema e Variações com o Maestro Julio Medaglia, da rádio Cultura FM de São Paulo, tinha como tema o Dia de Portugal. Não sabia porque, mas ouvi atentamente à bela programação. Fiquei sabendo, depois após uma breve pesquisa, que hoje comemora-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, pois é o dia em que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões em 1580.
Em busca de material sobre o poeta, deparei-me com uma edição de Os Lusíadas publicada em Paris no ano de 1865, pertencente à biblioteca da Universidade da California. Esta edição conta com um discurso preliminar (apologético e crítico), a vida de Luis de Camões – extraídos das edições publicadas em Lisboa por Thomas José de Aquino – e uma breve análise do poema de autoria de João Franco Barreto, “philologo notavel do XVII seculo”.
Ao final da “Breve Noticia da Vida de Luis de Camões”, temos uma referência às condições dos momentos finais da vida do poeta:
“No anno de 1569 chegou a Lisboa, que achou ardendo em hum horrivel contagio. Aqui em lugar do premio que merecia pelas suas gloriosas fadigas litterarias, e marciaes, entrou a experimentar novas e talvez mais
fortes adversidades, chegando a tanta miseria, que hum escravo seu chamado Antonio, pedia de noite de porta em porta para o sustentar.
Desta sorte acabou hum homem, cuja memoria, a pezar da inveja, será eterna entre os Eruditos. Morreo em Lisboa no anno de 1579, com 55 de idade; por haver nascido no de 1524. Deo-se-lhe sepultura ao lado esquerdo da entrada da porta da igreja do Convento de Santa Anna de Religiosas Franciscanas. Poucos annos depois, que foi no de 1595, Dom Gonçalo Coutinho lhe deo nova sepultura, no meio da Igreja, e lhe fez gravar na campa esta Inscripção:
AQVI IAZ LUÍS DE CAMÕES,
PRINCIPE
DOS POETAS DE SEV TEMPO:
VIVEO POBRE E MISERAVELMENTE,
E ASSI MORREO. ANNO DE M. D. LXXIX.”
(fonte: Os Lusiadas, poema epico de Luis de Camões, nova edição conforme à de 1817, de Dom José Maria de Souza Botelha, publicada em Paris Va J.-P. Alliaud, Guillard e ca, 1865.)
A morte do poeta é datada de 1579. Entretanto, em todas as outras referências à este acontecimento, o ano utilizado é o de 1580, e é marcada com precisão para o dia 10 de junho, hoje.
No livro Franklin Távora e o seu tempo, de Cláudio Aguiar (Ateliê Editorial, 1997), por exemplo, há uma referência às “comemorações do tricentenário de nascimento de Luís de Camões”, em texto publicado na Revista Brasileira. A data é 10 de junho de 1880, e, ao abrir “as páginas especiais destinas à homenagem a Lúis de Camões, vinham as palavras de Sua Majestade, o Imperador D. Pedro II, afirmando que não hesitava em colocar seu nome
entre os dos meus patrícios, que, na grinalda de versos consagrada a Camões, o maior gênio da língua falada por dois povos irmãos, cantor das maravilhas da navegação, a que devemos o nosso Brasil, conseguiram simbolizar os mais generosos sentimentos, imitando a exuberância viçosa e bela de um só solo, cujas admiradas riquezas oferecemos cordialmente ao espírito industrioso de todas as outras nações. Estas palavras, escritas ao correr da pena, cingirão a formosa grinalda, ao menos, como laço de simpatia.”
(fonte: Imperador Dom Pedro II, Revista Brasileira, tomo IV, Primeiro Ano, Homenagem a Luiz de Camões, 10 de junho de 1880.)
As festividades realizadas no Gabinete Português de Leitura poderiam ser simbolizadas pelos trabalhos apresentados por três escritores brasileiros: Nabuco, Machado e Távora.