Obra-prima da literatura satírica, misto de realismo mágico, comédia de costumes, história de amor e crítica social e política, O Mestre e a Margarida foi escrito em segredo, nas sombras do período mais violento da repressão de Stálin. Bulgákov começou a trabalhar no romance em 1928 e, doze anos mais tarde, morreu sem ver a obra publicada. O livro só foi publicado duas décadas após a morte do autor. A complexa trama parte da aparição, num entardecer quente de primavera, do diabo em plena Moscou, a capital de uma suposta utopia racionalista que promovia o ateísmo. O demo, acompanhado de figuras esquisitas que incluem um imenso gato preto adepto do xadrez, da vodca e das armas de fogo, ingressa nos círculos literários locais e envolve-se com o mestre, um escritor perseguido pelo governo e pelos intelectuais por ter publicado um romance sobre os últimos dias da vida de Jesus.
Censurado muitas vezes nos palcos por suas sátiras políticas, Bulgákov sabia do potencial perturbador de um romance que versasse sobre figuras religiosas, na sociedade soviética, em que o ateísmo era imposto por lei – o que o autor satiriza já na primeira cena do livro, quando o diabo tenta provar a dois literatos ateus que Deus existe.
O Mestre e a Margarida condensa todo o talento dramatúrgico de Bulgákov, com cenários detalhistas, música incidental abundante – como trechos de óperas e as várias versões de “Aleluia” que irrompem nos momentos mais caóticos da narrativa –, diálogos afiados, personagens cuidadosamente construídos.
Na extensa leitura biográfica de Bulgákov, Homero Freitas de Andrade – O Diabo Solto em Moscou –, analisa: “Na obra-prima de Bulgákov, “O Mestre e a Margarida”, através de uma análise corrosiva do “caldo” cultural do NEP, ele trabalharia até a véspera da própria morte, criando um imenso painel no qual são satirizadas em compasso de alta magia literária as relações entre o Estado soviético e a cultura que se formava”.
Como define Nelson Ascher, “Por mais que se enraíze num lugar e período específicos, O Mestre e Margarida é uma fantasia de alcance universal. […] Serpenteando com humor magistral entre tamanhos e tão diversos despropósitos, o romancista multiplica sabás de feiticeiras num perpétuo carnaval que não apenas satiriza o comunismo e a ideia de uma sociedade perfeita, como põe em xeque toda a condição humana”.
A editora disponibiliza o primeiro capítulo para leitura.
Autor: Mikhail A. Bulgákov
Editora: Alfaguara
Preço: R$ 50,92 (456 págs.)