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Revoluções

14 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Estou convencido de que as fotos de revoluções – sobretudo se foram interrompidas ou vencidas – possuem uma poderosa carga utópica” – Michael Löwy.

Revolução Mexicana - "Mujer con bandera", fotografia de Tina Modotti, 1928

Revolução Mexicana – “Mujer con bandera”, fotografia de Tina Modotti, 1928

Revoluções é uma compilação de fôlego, desenvolvida por Michael Löwy, dos principais registros fotográficos de processos revolucionários, do final do século XIX até a segunda metade do século XX. Além da documentação iconográfica, este interessante livro traz textos que narram os acontecimentos, escritos por intelectuais como Gilbert Achcar, Rebecca Houzel, Enzo Traverso, Bernard Oudin, Pierre Rousset, Jeanette Habel e o próprio Löwy. 

As raras imagens que compõem o livro percorrem experiência de lutas populares, retratam a Comuna de Paris, as revoluções Mexicana (1910-1920), Russas (1905 e 1917), Alemã (1918-1919), Húngara (1919), Chinesas (1911 e 1949), Cubana (1953-1967) e a Guerra Civil Espanhola (1936). Para Michael Löwy, organizador da obra, “as fotos de revoluções revelam ao olhar atento do observador uma qualidade mágica, ou profética, que as torna sempre atuais, sempre subversivas. Elas nos falam ao mesmo tempo do passado e de um futuro possível”.

São cerca de 400 fascinantes fotografias, que mostram, nas palavras de Löwy, que “a revolução é assunto de imagem, mais que de conceito”. O sociólogo analisa que aprende-se muito com as fotografias de revoluções, “sobre a composição social dos insurretos, o papel das mulheres, o lugar das barricadas”. Sobre a composição do livro, ele diz: “Nossa preocupação era fazer aparecer a revolução, não como uma abstração, uma ideia, mas uma ação de seres humanos, homens e mulheres, que se revoltam contra uma ordem que se tornou insuportável”.

Em entrevista concedida à Fundação Oswaldo Cruz, Michael Löwy analisa: “Os movimentos de ‘Indignados’ opõem-se às políticas ditadas pelo capital financeiro, pela oligarquia dos bancos e aplicadas por governos de corte neoliberal, cujo principal objetivo é fazer com que os trabalhadores, os pobres, a juventude, as mulheres, os pensionistas e aposentados – isto é, 99% da população – paguem a conta pela crise do capitalismo. Esta indignação é fundamental. Sem indignação, nada de grande e de significativo ocorre na história humana. A dinâmica destes movimentos é de uma crescente radicalização anticapitalista, embora nem sempre de forma consciente. É no curso de sua ação coletiva, de sua prática subversiva, que estes movimentos poderão tomar um caráter radical e emancipador. É o que explicava Marx na sua teoria da revolução, inspirada pela filosofia da práxis”. Segundo o sociólgo, na mesma entrevista, as “revoluções sempre tomam formas imprevistas, inovadoras, originais. Nenhuma se assemelha às anteriores. A Comuna de Paris (1871) foi um formidável levante da população trabalhadora da grande cidade e a Revolução Russa foi uma convergência explosiva entre proletariado urbano e massas camponesas. Nas demais revoluções do século 20, desde a Mexicana de 1911 até a Cubana de 1959, ou nas revoluções asiáticas (China, Vietname), foram os camponeses o principal sujeito do processo revolucionário. Não podemos prever como serão as revoluções do século 21: sem dúvida, não repetirão as experiências do passado. Por outro lado, existe o que Walter Benjamin chamava de ‘a tradição dos oprimidos’: a experiência da Comuna de Paris inspirou a Revolução Russa e é ainda até hoje um exemplo de autoemancipação revolucionária das classes subalternas”.

Michael Löwy, nascido no Brasil e formado em Ciências Sociais na USP, vive em Paris desde 1969, onde é diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). É autor, entre outros, de A teoria da revolução no jovem Marx [Boitempo, 2012] e Romantismo e messianismo: ensaios sobre Lukács e Benjamin [Perspectiva, 2012]. É considerado um dos maiores pesquisadores das obras de Karl Marx, Leon Trotski, Rosa Luxemburgo, György Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin.

Traduzido por Yuri Martins Fontes, o livro Revoluções foi lançado em 2009 pela Boitempo.

 

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“A maioria dessas imagens é povoada por multidões anônimas, por desconhecidos: o povo insurgente. São artesãos parisienses, marinheiros russos, trabalhadores alemães ou húngaros, milicianos espanhóis, camponeses chineses, indígenas mexicanos.

O que a objetiva capta em movimento, em ação, é a transformação dos excluídos, dos oprimidos, das ‘classes subalternas’ em protagonistas de sua própria história, sujeitos de sua própria emancipação. Os fotógrafos registram, preto no branco, o momento histórico privilegiado em que a longa cadeia da dominação se irrompe. A sequência descontínua dessas interrupções revolucionárias constitui a tradução dos oprimidos, tradição que remonta a tempos muito anteriores à intervenção de Daguerre”.

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revoluções

 

REVOLUÇÕES

Autor: Michael Löwy
Editora: Boitempo
Preço: R$ 47,60 (546 págs.)

 

 

 

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