“O sol brilhava, sem alternativa, sobre o nada de novo”.
Murphy foi o primeiro romance de Samuel Beckett; escrito na década de 1930, antecipa aspectos que foram aprofundados ao longo de sua obra. Publicado no Brasil pela Cosacnaify, o livro conta com posfácio escrito por Nuno Ramos e foi traduzido por Fábio de Souza Andrade, também responsável pelas notas. Murphy representa, na obra de Beckett, “uma versão mais ramificada e menos concentrada de algumas de suas obsessões filosóficas e temáticas persistentes”, como analisa o tradutor – que, além de renomado estudioso da obra beckettiana, é também o tradutor das peças Fim de Partida, Dias Felizes e Esperando Godot, além do ensaio Proust, todos publicados pela Cosacnaify.
Conforme apontado em um artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo por ocasião do lançamento da tradução, Fábio de Souza Andrade analisa que “não se pode falar de minimalismo no Beckett inicial, ao menos não em Murphy. Rigor, sim, mas aqui ainda estamos no universo das multiplicações de mundos e possibilidades, processo de fragmentação e montagem experimental característicos do modernismo heroico” e que, “do ponto de vista formal, a escrita beckettiana se encaminhou para uma concentração máxima, para a exploração das repetições, das combinatórias rigorosas, e se despojou deste manto paródico, das alusões que chamam a atenção para si próprias, tão característico de Murphy”.
Beckett, ganhador do Prêmio Nobel de literatura em 1969, criou uma escrita muito particular, um fluxo da consciência minimalista e um tanto truncado, o que lhe confere a riqueza da construção de vozes absurdamente humanas em personagens solitários, moribundos, incompreendidos.
A Revista Continente publicou uma resenha de Murphy escrita por Clarissa Macau, que analisa: “O protagonista é talvez um romântico às avessas. Dentro da decadência, a qual não considera, deseja a riqueza do transe. Unir o dualismo da vida, espírito e corpo, soma que resultaria em outra coisa, em paz individual num mundo paralelo, sem se importar em romper com a sociedade. Dessa ambição nasce uma maneira enternecida de encarar a loucura, ou seria essa só uma outra faceta de viver o mundo, um pequeno universo que não é para todos?”.
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“Havia visões e sons de que Murphy não gostava. Prendiam-no ao mundo do qual faziam parte, mas não ele, como gostava de sonhar”.
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Autor: Samuel Beckett
Editora: Cosacnaify
Preço: R$ 25,20 (256 págs.)