Arquivo da tag: Beckett

Guia de Leitura

Escritores do absurdo

3 julho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Diferente do fantástico, o absurdo cala em si um lado de humor negro do existencialismo.

 

kharms

Daniil Kharms, “Os sonhos teus vão acabar contigo”

Daniil Kharms, um dos pioneiros do absurdismo, foi, enquanto poeta e dramaturgo, considerado um dos mais autênticos e talentosos escritores da vanguarda russa. Os sonhos teus vão acabar contigo é um título que parece pairar em prenúncio, pois seu autor foi um dos cruéis exemplos do destino dos artistas na ditadura stalinista, culpado por divergir, estética e filosoficamente, do chamado “realismo socialista”,  morreu, abandonado numa prisão psiquiátrica a ponto de definhar de fome e ter o corpo devorado por ratos.

A mistura de gêneros desta coletânea de textos de prosa, poesia e teatro de Kharms – construída como uma “polifonia formal” – é, sob sua pena, peculiarizada por uma comicidade e um caráter absurdo, completamente originais: entre paródias, o grotesco serve-lhe como elemento simbólico sintetizador de uma poética absurdista da vida cotidiana banal.

Seus textos dialogam com a arte a que são contemporâneos, mas também com o que há de mais profundo no dramático da própria condição humana [Confira Matraca]. Continue lendo

Send to Kindle
lançamentos

Textos para o nada

16 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone

beckett

“Para onde eu iria, se pudesse ir, o que seria, se pudesse ser, o que diria, se tivesse uma voz, quem é que fala assim, dizendo que sou eu?”. O narrador de Textos para o nada, de Samuel Backett, relembra fragmentos de histórias e de lugares pelos quais passou, parado num charco, de onde consegue olhar para o céu: narra sem ter mesmo ao certo nada o que narrar.

Publicado em 1955, este livro radicaliza os experimentos feitos por Beckett na trilogia formada por Molloy (1951), Malone morre (1951) e O inominável (1953). Com tradução de Eloisa Araújo Ribeiro e posfácio de Lívia Bueloni Gonçalves, o livro acaba de chegar às livrarias brasileiras, em edição cuidadosa da Cosac Naify.  Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

Um acesso aos lugares mais remotos

22 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

– página do manuscrito original de “Murphy”

“O sol brilhava, sem alternativa, sobre o nada de novo”.

Murphy foi o primeiro romance de Samuel Beckett; escrito na década de 1930, antecipa aspectos que foram aprofundados ao longo de sua obra. Publicado no Brasil pela Cosacnaify, o livro conta com posfácio escrito por Nuno Ramos e foi traduzido por Fábio de Souza Andrade, também responsável pelas notas. Murphy representa, na obra de Beckett, “uma versão mais ramificada e menos concentrada de algumas de suas obsessões filosóficas e temáticas persistentes”, como analisa o tradutor – que, além de renomado estudioso da obra beckettiana, é também o tradutor das peças Fim de Partida, Dias Felizes e Esperando Godot, além do ensaio Proust, todos publicados pela Cosacnaify.

Conforme apontado em um artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo por ocasião do lançamento da tradução, Fábio de Souza Andrade analisa que “não se pode falar de minimalismo no Beckett inicial, ao menos não em Murphy. Rigor, sim, mas aqui ainda estamos no universo das multiplicações de mundos e possibilidades, processo de fragmentação e montagem experimental característicos do modernismo heroico” Continue lendo

Send to Kindle