fotografia

Amazônia

11 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Pedro Martinelli (foto de “Amazônia O Povo das Águas”)

Amazônia O Povo das Águas é o resultado material de uma pesquisa fantástica do fotógrafo Pedro Martinelli. Além de fotos lindas, o livro traz um trabalho de pesquisa profundo, baseado em muitos anos de imersão do fotógrafo, identificando as principais situações dos povos ribeirinhos.

Pedro Martinelli trabalhou como fotojornalista em vários jornais brasileiros e foi chefe do Estúdio Abril por onze anos. Foi o primeiro fotógrafo a captar uma imagem de um índio paraná Sôkriti, em 1973, na primeira vez em que um membro da tribo ficou frente a frente com um dos expedicionários da expedição pacificadora encabeçada pelos irmãos  Villas Bôas no norte de Mato Grosso e sul do Pará. A viagem tinha por objetivo estabelecer o primeiro contato com os índios kranhacarores, que somente anos depois descobriu-se chamarem panarás. Os panarás ocupavam uma área de floresta pela qual passaria a BR-163, a Cuiabá-Santarém. Martinelli foi enviado pelo jornal O Globo para cobrir a épica viagem dos sertanistas e desenvolveu uma forte afinidade com Cláudio, o mais arredio, sagaz e idealista dos irmãos: “Ele foi meu pai de mato”, disse. “Quando conseguimos fazer o contato, um dos índios ficou na minha frente por apenas dois segundos. Bati duas fotos. A primeira saiu fora de foco e a segunda perfeita”, ele lembra. A foto foi tirada em 1973. Vinte e cinco anos depois, porém, Martinelli voltou à aldeia e encontrou uma cidade fantasma. “Nesse ritmo, a Amazônia acabará em 30 anos”. Há registros em seu blog.

Em 1994, a bordo do Taba, um barco de 11 metros de comprimento, deu início a uma navegação pelas águas dos rios, igarapés e lagos amazônicos, fazendo um inventário fotográfico dos povos de cada região coberta pela floresta. As imagens de Martinelli não focalizam apenas a exuberância da natureza amazônica, mas exploram profundamente o cotidiano do caboclo ribeirinho, seu modo de vida, sua cultura, seu sustento. Grande parte dos registros foi feito em preto e branco, o que dá maior dramaticidade às fotos. Cenas cotidianas são retratadas com riqueza de detalhes, transportando o leitor para a rotina da floresta. Aos poucos a narrativa da vida nos rios é contada e o processo de criação do fotógrafo ganha vida e expressão.

Nas primeiras páginas de Amazônia O Povo das Águas, Matinelli propõe a seguinte reflexão: “Quem são os homens que há 500 anos habitam e defendem as margens dos rios da Amazônia?”. E responde, através das profundamente humanas imagens ao longo do livro. A obra é uma das poucas referências sobre a Amazônia. Sua importância histórica, sociológica e didática foi reconhecida pelo do Governo do Estado de São Paulo por ter sido adquirido pelo Programa Sala de Leitura, da Fundação para o Desenvolvimento da Educação da Secretaria da Educação. O livro foi relançado especialmente e uma parte desta edição foi para as livrarias, com uma nova capa.

Segundo Martinelli, “os livros só mostram o índio fantasiado e a ótica do paraíso amazônico. Ninguém olha para quem está embaixo de tudo: o caboclo”. Em seu livro, retrata a vida dura nas lavouras de juta, a extração do pau rosa, os trabalhadores do porto de Manaus, as minas de ferro e aspectos da vida cotidiana dos ribeirinhos. “Para mim, fotografia, hoje, é contar a história do Brasil e melhorar a qualidade da informação”, diz.

 

(Nova edição, com capa nova. As livrarias ainda tem também a antiga edição, com foto e diagramação diferentes na capa.)

AMAZÔNIA O POVO DAS ÁGUAS

Autor: Pedro Martinelli
Editora: Terra Virgem
Preço: R$ 130,00 (112 págs.)

 

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