Literatura

Nas beiradas da existência

16 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

alice munro_felicidade demais_II

Vencedora do Prêmio Nobel de literatura neste ano, a canadense Alice Munro é considerada “mestra do conto contemporâneo”. Segundo a Academia Sueca, as histórias de Alice “se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de projetos de vida contraditórios”.

É interessante a premiação ter sido concedida a uma autora dedicada aos contos, que, comumente, são considerados mera etapa literária na carreira de um escritor, a ser superada na posterior escrita de um romance, um reles estágio experimental. A própria escritora, em entrevista à revista New Yorker, afirmou: “Por anos e anos imaginei que contos eram apenas um treino até eu ter tempo de escrever um romance”. 

Alice teve cinco livros publicados no Brasil: Ódio, amizade, namoro, amor, casamento, publicado pela Editora Globo e, pela Companhia das letras, A fugitiva (fora de catálogo), Felicidade demais, O amor de uma boa mulher – vencedor, nos Estados Unidos, do National Book Critics Circle Award, o livro concentra contos cujos temas são a velhice, a doença, o transtorno mental, o drama da condição feminina vista de modo a conectar-se, por vários caminhos, com a marginalidade; a editora disponibiliza um trecho em pdf – e Vida querida – com contos povoados por personagens que caminham nas beiradas da existência, arrancadas do cotidiano por golpes incisivos do destino e da loucura; os quatro últimos contos são autobiográficos e versam sobre as narrativas e as ficções, mas também sobre a memória, os traumas, a morte.

Felicidade demais, traduzido no Brasil por Alexandre Barbosa de Souza, reúne dez contos, protagonizados por personagens femininas que vivem situações limite de sedução e violência. São mulheres diferentes, de diversas idades e ocupações, que, em comum, atravessam a narrativa de determinado momento em que acontecimentos mudam o rumo de suas vidas. Nos contos, sobrepõem-se camadas narrativas, o passado e a memória atuam no presente e conduzem as situações. Mesmo quando a morte se anuncia, a promessa de felicidade, ainda que efêmera e ilusória, insinua-se no horizonte. O conto que dá título ao livro é inspirado em uma personagem real, a russa Sophia Kovalevsky, reconhecida por seu pioneirismo na matemática –viveu na segunda metade do século XIX e foi uma das primeiras mulheres admitidas como professora universitária, em Estocolmo, além de ter realizado relevante trabalho como jornalista de divulgação científica. A tradução é de Alexandre Barbosa de Souza.

Como disse o escritor Luiz Horácio, em resenha publicada no jornal Rascunho, a autora “é capaz de transformar o mais cruel cotidiano, a mais maçante rotina, em um fantástico esconderijo de surpresas. […] Felicidade demais é o retrato pálido da miserável condição humana”.

 

A Companhia das Letras disponibiliza um trecho em pdf.

 

FELICIDADE DEMAIS

Autor: Alice Munro
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 34,30 (344 págs.)

 

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