Arquivo da tag: Prêmio Nobel de literatura

Literatura

O cronista das cidades e das memórias

22 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura deste ano, o francês Patrick Modiano, é conhecido como o “arqueólogo da memória”. De acordo com a Academia Sueca, o prêmio foi dado a ele “pela arte da memória com a qual evocou os destinos humanos mais inatingíveis e revelou o mundo da ocupação nazista da França”. Sua prosa, ao longo de mais de trinta romances, concentra-se na cidade de Paris durante a Segunda Guerra Mundial, revivendo a vida francesa sob invasão alemã, a partir de personagens comuns.

Do mais longe do esquecimento atravessa a história de amor do protagonista narrador com uma mulher, Jacqueline, que, casada, porém reciprocamente apaixonada, com ele fugiu de Paris para Londres e, algum, tempo depois, desapareceu.

O livro é exemplar de uma das grandes características da prosa de Modiano: a vida que confere às grandes cidades, tornando-as, talvez mais que qualquer outro personagem, em suas verdadeiras protagonistas. São as próprias cidades que, em seus romances, articulam-se em movimento narrativo, enquanto as personagens são sombrias e enigmáticas.

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Literatura

Nas beiradas da existência

16 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

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Vencedora do Prêmio Nobel de literatura neste ano, a canadense Alice Munro é considerada “mestra do conto contemporâneo”. Segundo a Academia Sueca, as histórias de Alice “se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de projetos de vida contraditórios”.

É interessante a premiação ter sido concedida a uma autora dedicada aos contos, que, comumente, são considerados mera etapa literária na carreira de um escritor, a ser superada na posterior escrita de um romance, um reles estágio experimental. A própria escritora, em entrevista à revista New Yorker, afirmou: “Por anos e anos imaginei que contos eram apenas um treino até eu ter tempo de escrever um romance”.  Continue lendo

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Literatura

O testemunho de Czesław Miłosz

10 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Czesław Miłosz nasceu na Lituânia, em 1911, época em que o país pertencia ao Império Russo. Mudou-se de sua cidade de origem para completar seus estudos na cidade de Wilno, atual Vilnius, na Lituânia, que, então, era território polonês. Aos vinte e um anos, publicou seu primeiro livro de poemas, Poema sobre o tempo congelado (Poemat o czasie zastygłym). Não demorou a integrar o grupo de poetas conhecidos como “catastrofistas“, designação devida a previsões que as poesias faziam de iminentes desastres mundiais. Escrever, para Czesław Miłosz , deveria ser um ato político.

Durante a ocupação nazista na Polônia, ele participou ativamente do movimento de Resistência e, nesta época, editou, escreveu e traduziu textos clandestinos, dentre os quais permanece mais famoso seu poema Canção Invencível, publicado em 1942. Ao final da Segunda Guerra Mundial, uma coletânea de suas poesias intitulada Resgate, foi um dos primeiros livros publicados na Polônia comunista, em 1945. Pelos serviços prestados durante a Resistência, Czesław Miłosz  foi recompensado pelo novo governo comunista com cargos políticos, primeiro como adido cultural, em Washington e, em seguida, como primeiro-secretário para assuntos culturais, em Paris.

Desiludido com os rumos da política em seu país e com o regime comunista, em 1951 solicitou asilo na França e, nove anos mais tarde, emigrou para os Estados Unidos, tornou-se professor de literaturas eslavas na Universidade de Berkeley e continuou a escrever sobre a fragilidade, crueldade e a corruptibilidade humana. Em 1970, naturalizou-se norte-americano. Ainda vivendo na França, em 1953, publicara A mente cativa, uma coletânea de ensaios sobre a submissão dos intelectuais poloneses ao comunismo. Ao longo dos anos de exílio norte-americano, os textos de Czesław Miłosz foram traduzidos e seus poemas e ensaios atingiram sólido reconhecimento internacional. Em 1980, ganhou o prêmio Nobel de Literatura.

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