Essa coisa brilhante que é a chuva, livro de contos de Cíntia Moscovich, foi o vencedor do Prêmio Portugal Telecom na categoria contos/crônicas – na categoria poesia, o vencedor foi Eucanaã Ferraz e na categoria romance, José Luiz Passos. Essa coisa brilhante que é chuva também foi um dos vencedores do Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional em 2013 – prêmio em que, na categoria de romance, o vencedor foi Opisanie Swiata, de Veronica Stigger. Esse foi o sétimo livro de Cíntia Moscovich publicado. As narrativas giram em torno sobretudo de laços familiares instáveis, um tema recorrente em sua obra, e de personagens confrontados com as limitações de seus próprios corpos, todos os contos permeados de maneira interessante por temas corriqueiros.
O livro é composto de uma maneira que lembra um longo poema, ou, como afirma Fabrício Carpinejar na contracapa, “uma reunião de contos tão coesos que mais parecem uma só narrativa”. Para Carpinejar, “trata-se de uma reunião de origamis narrativos, leques ficcionais, aparadores literários”. A reunião dos contos cria uma linha contínua.
Segundo Filipe Amaral Rocha de Meneses, Mestre em Teoria da Literatura, pela UFMG, no artigo “O brilhante cotidiano de Cíntia Moscovich”, Cíntia Moscovich inscreve-se, “numa importante tradição de contistas brasileiros, como Machado de Assis e Moacyr Scliar, que com ironia e leveza, tecem as delicadas relações humanas, na intrincada escrita do mundo”. Segundo o crítico, “Cíntia Moscovich apresenta o cotidiano, o corriqueiro e o efêmero em suas, aparentemente, simples narrativas”. Em suas palavras, o livro “reúne narrativas que se entrelaçam e colocam o leitor diante de um mundo, às vezes, curioso ou cruelmente descrito em sua singeleza. Segundo Ricardo Piglia, o conto deve encerrar duas histórias, uma subjacente a outra. A oculta seria, assim, fragmentária e elíptica e o contista, ao conseguir estruturar tal feito, seria bem-sucedido. Moscovich, veterana nessa forma de escrita, não deixa por menos. Ao narrar os feitos corriqueiros de personagens simples e do cotidiano, reproduz o brilho da chuva, isto é, o que poderia ser visto como simples preciosidades da vida”.
Na opinião de Márcia Lígia Guidin, editora da Miró Editorial, em resenha escrita ao jornal Rascunho, “O livro, no todo, lembra a obra Laços de família, de Clarice Lispector, primeira reunião de contos da escritora ucraniana”. Segundo a editora, Cíntia, “apesar de trazer à tona suas próprias qualidades (dentre elas uma aclamada suavidade), tem usado temas e relações familiares que já vinham iluminadas em épocas “femininas e feministas” — sejam quais forem as definições, hoje, desses termos tão discutidos na década de 1980. E parece repetir muitas vezes as estruturas que os sustentavam: epifanias, espantos, relações mãe-filhos, bichos domesticados e, sobretudo, o “olhar míope da mulher confinada”: aquela que enxerga de perto o detalhe, mas tem a vista nublada para o horizonte além da janela”. Essa expressão, como indica Guidin, foi definida por Gilda de Mello e Souza, no estudo “O vertiginoso relance”, presente no livro Exercícios de leitura.
Cíntia Moscovich, além de contista, é também romancista e cronista, autora de O reino das cebolas, Duas iguais, Arquitetura do arco-íris, Por que sou gorda, mamãe? e Anotações durante o incêndio. Com três prêmios Açorianos, a autora também recebeu o prêmio Jabuti pela reunião de contos Arquitetura do arco-íris. Tem seus livros publicados em Portugal, na Espanha e na Itália.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, Cíntia conta: “[…] em 2007, eu me propus a escrever com um pouco mais de humor, fazer do humor uma coisa séria, que foi algo que eu havia descoberto recentemente com o Por que Sou Gorda, Mamãe?, que é um livro que me ensinou que eu podia me divertir escrevendo. A ideia dele era fazer troça, fazer humor, de fato”. A escritora, na entrevista, conta também: “Eu escrevo porque eu gosto. Eu digo que o meu processo parece com um bicho que está pousado no meu ombro soprando coisas, e esse bicho, depois de escrever um romance, ficou me enchendo o saco para escrever contos. Eu estava louca para escrever contos. Como agora eu estou a fim da narrativa longa. Estou a fim de lidar com enredos paralelos, o que tem a ver com uma extensão narrativa maior”.
ESSA COISA BRILHANTE QUE É A CHUVA
Autor: Cíntia Moscovich
Editora: Record
Preço: R$ 25,28 (144 págs.)