A escritora e jornalista franco-mexicana Elena Poniatowska foi anunciada neste mês como a vencedora do Prêmio Cervantes, o mais importante das línguas hispânicas. O júri afirmou que o prêmio foi conferido a ela para recompensar “uma trajetória literária em diversos gêneros, de maneira particular na narrativa e por sua dedicação exemplar ao jornalismo, da crônica ao ensaio“. Elena nasceu na França, em Paris, filha de mãe mexicana e pai descendente da família real polonesa; aos dez anos, mudou-se com os pais para o México e naturalizou-se mexicana. Como jornalista no México, deixou testemunhos escritos de momentos chave da história política do país. É autora, por exemplo, de La noche de Tlatelolco, sobre a morte de estudantes manifestantes numa praça em 1968, e de Hasta no verte Jesús mío, história Jesusa Palancares, uma mulher que combateu na Revolução Mexicana, na década de 1910, texto baseado nas longas conversas com Josefina Borgues – nome real de Jesusa – em que contou à escritora o que vivenciou.
Em entrevista à revista Ñ, do jornal argentino Clarín, concedida em 1999, Elena disse, questionada sobre a existência de objetivos quando escreve: “Tenho os objetivos das coisas que me golpearam. Há gente que a passa a vida detrás do vidro de seu automóvel sem ver nada, ainda que a criança suba ao para-brisa para limpá-lo. Agora fiz um livro onde falo das crianças de rua, que usam drogam. Passei muitas semanas com eles. Me chamavam de “avozinha” e me exploravam: primeiro tive que comprar sanduíches e refrigerantes, depois roupa, um até me pediu um automóvel…”. Na mesma entrevista, Elena afirmou nunca ter pretendido fazer literatura, mas que, uma vez tendo começado a escrever uma novela, a faria como se deve fazer: “Deve tomar-se muito a sério. Esta vez estou fazendo uma novela de ficção, que trata do que significa fazer ciência em um país de terceiro mundo. O protagonista é um cientista”.
A única publicação brasileira da obra de Elena é a novela em questão, o romance A Pele do Céu, publicado pela editora Objetiva. O protagonista foi inspirado no seu marido, o astrônomo mexicano Guillermo Haro (1913-1988). No livro, o personagem Lorenzo é astrônomo e militante político de extrema esquerda. Sua história é narrada desde sua infância, de modo que traça um retrato do país. A pele do céu é um livro crítico, político, uma denúncia da miséria rural mexicana e da falta de apoio à pesquisa científica na América Latina. Ainda assim, sua prosa é lírica, sua poesia é filosófica e as profundas questões político-sociais que propõe extravasam-se em questionamentos ontológicos, numa narrativa direta e fluída.
Elena Poniatowska é uma figura fundamental do México contemporâneo. Com mais de quarenta livros publicados, é a escritora que escandalizou com seu realismo popular e com entrevistas aos personagens icônicos do século XX mexicano. Sua vasta obra inclui livros célebres, entre os quais Las Palabras del Árbol, uma biografia de Octavio Paz.
Autor: Elena Poniatowska
Editora: Objetiva
Preço: R$ 56,90 (360 págs.)