Literatura

Narrativas licenciosas

25 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Na alcova, livro concebido e organizado por Samuel Titan Jr., reúne três histórias de três autores franceses, Guilleragues e Crébillon e Denon, escritas entre o último terço do século XVII e o começo do século XIX, todas com temas licenciosos, não propriamente libertinos. As histórias foram traduzidas por Samuel Titan Jr. e o livro conta com um interessante posfácio analítico, escrito por ele.

São três histórias eróticas, intrigantes narrativas de amor proibido: “Cartas portuguesas”, de Guilleragues, traz a história de uma freira seduzida por um oficial francês; em “O silfo”, de Crébillon, a heroína procura a solidão do campo para satisfazer suas fantasias eróticas; em “Por uma noite”, de Denon, uma adúltera leva um de seus amantes para sua câmara secreta dos prazeres na propriedade rural do marido.

Segundo o poeta e crítico literário Silviano Santiago, são “três contos, ou novelas curtas, em que o tema do amor – da sublimação do desejo, como dizem os surrealistas – é a tônica”. Ele adverte, “o adjetivo “licencioso” nada tem a ver com “libertino”. E aponta: “No posfácio ao livro, Samuel Titan Jr. propõe uma boa interpretação de “Por uma Noite”. Chama ele a atenção para uma das graças do conto: o bisonho jovem a ser seduzido, narrador do conto, não é o autor da trama de sedução, que é obra da senhora de T***. Essa inversão de perspectiva – o jovem seduzido não consegue acompanhar o retorcido dos processos de sedução imaginados pela mulher – torna fascinante o jogo entre a inocência que se vai e os malabarismos de Satã que a emaranha. Como se diz no posfácio: “A cada vez que ele [o jovem] julga divisar o rumo da história, sua companheira impõe uma nova guinada; quando se acredita autor de seus próprios atos, a parceira não tarda a torná-lo mero joguete”.

Apesar do teor sensual, nenhuma das histórias chega à elaboração sexual explícita, sempre envolta em torneios de linguagem. Um exemplo é este trecho de “Por Uma Noite”, de Denon: “Eu amava perdidamente a condessa de ***, tinha vinte anos, era ingênuo; fui traído, irritei-me, ela me abandonou […] Ela era amiga da senhora de T***, que parecia ter planos quanto à minha pessoa, contanto que sua dignidade não se comprometesse”. Há um desejo intenso, articulado a um pudor hipócrita, porém necessário para a atividade das personagens.

Dos três textos, o mais famoso é “Cartas Portuguesas”; no século XVIII acreditava-se na existência real dessa mártir da paixão, e foram os inegáveis méritos literários das cartas que indicaram sua ficcionalidade. Sobre esse texto, Stendhal chegou a dizer que o amor sem regras, limites e cego da religiosa seria o ideal romântico a ser perseguido pelo homem. 

 

 

NA ALCOVA – Três histórias licenciosas

Autor: Guilleragues, Crébillon, Denon (Samuel Titan Jr., org.)
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 22,40 (112 págs.)

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