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A penúria da questão

11 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Van Gogh

Dando prosseguimento à sua coleção Marx e Engels, cujo objetivo é publicar no Brasil a obra dos dois filósofos, em traduções feitas diretamente do alemão, a Boitempo acaba de lançar Sobre a questão da moradia, texto da juventude de Friedrich Engels.

Nele, Engels reflete sobre o problema da habitação, suas razões e suas possíveis soluções. Sua análise sobre a questão da moradia na Europa do século XIX é extremamente atual no Brasil.

O livro reúne três artigos, publicados por Engels no jornal Der Volksstaat. Neles, explica as implicações dos problemas da teoria de Pierre-Joseph Proudhon, bem como das questões levantadas pela burguesia da época, sobre a habitação dos trabalhadores alemães. 

Ao longo das críticas que tece às propostas de Prodhon para a solução da questão da moradia, Engels demonstra que é impossível resolvê-la no capitalismo. Somente o proletariado triunfante, diz ele, resolvendo os problemas fundamentais da construção da sociedade socialista, resolverá também esta questão.

Engels levanta a força motriz paradoxal da questão: O mesmo tempo em que um velho país de cultura passa das pequenas empresas e produção de manufaturas e para a grande indústria, é também, sobretudo, o tempo da “falta de habitações”.

Por um lado, aponta, massas de operários rurais em quantidades massivas foram repentinamente atraídas para as grandes cidades nas quais desenvolviam-se centros industriais; por outro lado, indica o problema do traçado das cidades mais antigas, que não é correspondente às condições da nova grande indústria e do tráfego correspondente. É por isso que em cidades como Londres, Paris, Berlim, Viena, a repentina falta de habitações dos operários e do pequeno comércio tomou uma forma aguda e, inclusive, continuou a existir de maneira crônica.

A deficiência habitacional, sendo consequência do aumento brusco dos aluguéis, ocasionado graças ao grande contingente de trabalhadores deslocado do campo para as grandes cidades, não é, pois, limitada à classe operaria, também atinge a pequena burguesia. É uma crise decorrente do modo de produção capitalista, consequência indireta da exploração do trabalhador.

A aguda falta de habitações é, em suma, um sintoma da revolução industrial. Porém, o “capital não quer eliminar a escassez de moradia, mesmo que possa”. A necessidade de se refletir sobre a questão teria então enchido a imprensa com dissertações e dado vazão a diversas charlatanices sociais – como a postura de Proudhon e Mülberger de encararem a questão da habitação como exclusiva da classe operária.

Como diz Guilherme Boulos, no texto de orelha da edição brasileira: “Com sua clássica erudição, somada à ironia fina e ao senso de urgência revolucionária que o caracterizavam, Engels desconstrói um a um os “achismos” da burguesia para erguer, em seu lugar, uma análise teórica de linhas firmes e precisas. O filósofo mostra como o processo de formação dos grandes aglomerados urbanos provoca o aumento de aluguéis, a concentração de famílias em uma única moradia e, no limite, desabrigados. Engels explica que o problema não está na pouca quantidade de moradias, mas em sua distribuição: “já existem conjuntos habitacionais suficientes nas metrópoles para remediar de imediato, por meio de sua utilização racional, toda a real ‘escassez de moradia’”. Era a Europa do século XIX, mas poderia ser o Brasil do século XXI”. Boulos ainda explica: “De acordo com sua tese, o problema da moradia não poderá ser definitivamente solucionado nos marcos do capitalismo. As reestruturações urbanas pelo capital não eliminam o infortúnio, fazem apenas com que reapareça em outro lugar. Engels, na ocasião, falava de Georges-Eugène Haussmann em Paris, mas poderia estar falando de São Paulo ou do Rio de Janeiro na última década. As favelas retiradas do centro renascem nas periferias”.

O livro foi traduzido para o português por Nélio Schneider

Outros livros já publicados dentro do projeto da coleção Marx-Engels da Boitempo, para citar somente alguns, são A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de Friedrich Engels – obra escrita em 1845, estava indisponível para o público brasileiro havia muito tempo –, a edição integral de A ideologia alemã, de Engels e Marx e os dois volumes de O Capital, de Marx.

engels

 

 

SOBRE A QUESTÃO DA MORADIA

Autor: Friedrich Engels
Editora: Boitempo
Preço: R$ 25,90 (160 págs.)

 

 

 

 

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