matraca

Segura ele

24 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Pixinguinha. Um dos maiores compositores da música brasileira, responsável por dar forma definitiva ao choro, um instrumentista excepcional, quer como saxofonista, ou flautista. Além de um arranjador brilhante. Buscando privilegiar precisamente este aspecto de seu trabalho musical, o Instituto Moreira Salles, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e as Edições Sesc São Paulo lançam agora a caixa Pixinguinha – Outras pautas, que reúne quarenta e quatro partituras de arranjos de Pixinguinha, sendo, dezenove deles, escritos para suas próprias composições, como os clássicos “Lamentos” e “Ainda me recordo”, o arranjo sinfônico para “Carinhoso” e até uma composição inédita, a polca “Cercando frango”.

Bia Paes Leme, coordenadora de música do Instituto Moreira Salles, demonstra a complexidade da função do arranjador e como, no caso de Pixinguinha, ela torna-se ainda mais rica: “No processo de criação, este profissional atua numa posição intermediária entre o compositor e o intérprete […]. Na música de concerto, o compositor é o responsável pela concepção da obra e pela produção da partitura que a levará diretamente ao intérprete. Já na música popular, o processo costuma se dar em duas etapas: o compositor é o criador da “música” – que muitas vezes pode se resumir a uma linha melódica – e o arranjador, como autêntico coautor, concebe o formato final e produz a partitura que será executada. Mas… E se o autor popular é também arranjador de sua própria música? Nessas condições, talvez possamos afirmar, há uma atuação plena do compositor, concebendo sua obra por inteiro”. Paes Leme descreve também o texto com que Almirante, responsável por designar Pixinguinha como diretor musical do programa O Pessoal da Velha Guarda, da Rádio Tupi, apresenta uma das execuções da polca “Vou andando”:

Pixinguinha, ouvintes, o mais brasileiro dos músicos brasileiros, um dos raríssimos instrumentadores que conservam pureza e brasilidade em seus trabalhos, é o autor de números em que não sabemos o que mais admirar, se a força da inspiração melódica, se a graça da trama instrumental. Os ouvintes da Velha Guarda não ficam indiferentes a essas qualidades, tanto que nos pedem sempre músicas do grande Pixinga. Vamos atender agora a João Lousada, antigo contrabaixista e chorão do Rio, e a Ricardo M. de Souza, da cidade de Castro, no Paraná, fazendo executar pelo Pessoal da Velha Guarda, sob a batuta do próprio Pixinguinha, a sua alegre polca “Vou andando”.

O Instituto Moreira Salles já tem publicados dois volumes com partituras de Pixinguinha: Pixinguinha na pauta – 36 arranjos para o programa O Pessoal da Velha Guarda (2010), caixa organizada por Bia Paes Leme e, infelizmente, esgotada, que continha também textos, da própria organizadora, da pesquisadora Anna Paes, do violonista e arranjador Paulo Aragão e do bandolinista e maestro Pedro Aragão; e Pixinguinha – Inéditas e redescobertas (2012), organizado por Bia Paes Leme e Paulo Aragão, conta a história da carreira musical através de 20 partituras, dentre elas nove inéditas e outras 11 há muito tempo inacessíveis ao grande público.

Em 2000, o Instituto Moreira Salles recebeu a guarda do arquivo pessoal de Pixinguinha, diretamente de sua família. Ele é composto por documentos pessoais, medalhas, troféus, álbuns com recortes de jornal, centenas de fotos, uma compilação de registros de memória oral realizada por seu filho Alfredo da Rocha Vianna Neto, além da flauta utilizada por muitos anos pelo músico e, principalmente, um lote de cerca de mil conjuntos de partituras. Um preciosíssimo legado da história do arranjo de música no Brasil, que, após cuidadoso processo de digitalização e de catalogação, está sendo minuciosamente estudado por músicos que dominam a linguagem do choro para em breve ser entregue ao público.

Mário de Andrade dizia que Pixinguinha surgiu quando “a música popular tornou-se violentamente a criação mais forte e a caracterização mais bela da nossa raça, nos últimos dias do império e primeiros da República”.

“Segura ele”

A Rádio Batuta dedicou a ele um programa da série Os Batutas, que pode ser ouvido aqui.

Em comemoração ao dia do choro, cujo dia foi escolhido por ser o aniversário de Pixinguinha, ontem, dia 23 de abril, a Orquestra Pixinguinha na Pauta realiza até hoje shows no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Veja a programação.

(O Instituto Moreira Salles disponibiliza em seu blog um trailer dos concertos de lançamento realizados pela Orquestra Pixinguinha na Pauta sob a batuta do maestro Pedro Aragão).

O trio editorial lança concomitantemente o livro O CARNAVAL DE PIXINGUINHA, com 25 arranjos concebidos nos anos 1950, organizados também por Bia Paes Leme, Marcílio Lopes, Paulo Aragão e Pedro Aragão.

 

PIXINGUINHA – OUTRAS PAUTAS

Autor: Bia Paes Leme, Marcílio Lopes, Paulo Aragão e Pedro Aragão (org.)

Editoras: Instituto Moreira Salles, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e as Edições Sesc São Paulo

Preço: R$ 150,00 (748 págs.)

 

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