Mais de uma luz – Fanatismo, fé e convivência no século XXI, poderoso livro de ensaios do romancista Amós Oz, acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução de Paulo Geiger. Trata-se da reunião de três ensaios: no primeiro, o autor revê e amplia seu artigo, já clássico, “Como curar um fanático”, defendendo a controvérsia e a diferença, pois, aponta, um fanático nunca entra em debate, reduz sua crítica à aniquilação do diverso, que abomina. O segundo ensaio, inspirado no livro Os judeus e as palavras, sugere uma bela reflexão sobre o judaísmo como eterno jogo de interpretação, reinterpretação, contrainterpretação: o judaísmo, para Amós Oz, é justamente a cultura do questionamento. O terceiro ensaio propõe um diálogo com a esquerda pacifista e sugere o abandono do sonho de um estado binacional como solução para os conflitos entre Israel e Palestina, defendendo a existência de dois estados nacionais diferentes.
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Entre o certo e o certo
“O fanatismo é mais antigo que as religiões, os estados, os sistemas políticos e os governos” – Amós Oz
Como curar um fanático – Israel e Palestina: entre o certo e o certo, reúne ensaios nos quais o escritor Amós Oz questiona e perspectiva as raízes e as consequências do fanatismo. Para ele, os violentos conflitos que multiplicam-se atualmente não são resultado de uma luta entre civilizações, ou luta social; nossa época, diz, padece de uma síndrome, uma luta entre fanáticos, incluindo todos os tipos de fanatismo, e o “resto de nós”: “Entre os que creem que os seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida é um fim em si mesmo”.
Multifacetada metáfora analítica
O recente mistério em torno do avião desaparecido da Malaysia Airlines retomou uma questão: que segredos pode conter a caixa preta de um avião que caiu? Os últimos “sinais vitais” do voo, antes de sua queda, os vestígios da catástrofe. O israelense Amós Oz aproveitou a forte imagem para usá-la como impactante metáfora – sua caixa preta não se refere a um avião, mas ao rompimento de uma relação amorosa em um divórcio escandaloso, permeado por paixões que beiram a loucura e cujos rastros prolongam-se presente adentro. A caixa-preta, porém, não é um livro a respeito do romance em torno do qual estrutura-se: este é, na realidade, somente o meio através do qual Amós Oz reflete sobre conflitos mais amplos e profundos: o complexo panorama social, religioso e político da vida em Israel nos últimos anos. A maneira astuciosa pela qual a história é construída permite com que ambos pontos de vista sejam explorados simultaneamente. Um romance político, desenvolvido como uma proposta polifônica. Continue lendo