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cinema

Multifacetada metáfora analítica

26 março, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O recente mistério em torno do avião desaparecido da Malaysia Airlines retomou uma questão: que segredos pode conter a caixa preta de um avião que caiu? Os últimos “sinais vitais” do voo, antes de sua queda, os vestígios da catástrofe. O israelense Amós Oz aproveitou a forte imagem para usá-la como impactante metáfora – sua caixa preta não se refere a um avião, mas ao rompimento de uma relação amorosa em um divórcio escandaloso, permeado por paixões que beiram a loucura e cujos rastros prolongam-se presente adentro. A caixa-preta, porém, não é um livro a respeito do romance em torno do qual estrutura-se: este é, na realidade, somente o meio através do qual Amós Oz reflete sobre conflitos mais amplos e profundos: o complexo panorama social, religioso e político da vida em Israel nos últimos anos. A maneira astuciosa pela qual a história é construída permite com que ambos pontos de vista sejam explorados simultaneamente. Um romance político, desenvolvido como uma proposta polifônica. Continue lendo

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Literatura

Preciosidade historiográfica e literária

17 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Após dezoito anos esgotado no mercado editorial brasileiro, volta às livrarias o primoroso romance Mina R, de Roberto de Mello e Souza, (1921-2007), irmão do crítico literário Antonio Candido. O livro foi publicado no ano passado pela Ouro sobre Azul, fora editado em 1973 pela Duas Cidades e, em 1995, pela Record. A nova edição traz como apêndice quatro críticas elogiosas, escritas por Boris Schnaiderman – segundo quem, Mina R é “um livro cuja ausência em nossas livrarias, esses anos todos, era uma prova pungente de nossa miséria cultural” –, Berta Waldman, Giuseppe Carlo Rossi (especialista italiano em língua e literatura portuguesa e brasileira) e Manuel da Costa Pinto.

O livro destaca-se por sua desenvoltura literária e por ser uma das poucas obras de ficção sobre a Segunda Guerra Mundial. As situações e personagens do romance foram reinventados, porém com respaldo histórico baseado na própria vivência do autor, que integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e participou na Campanha da Itália em um batalhão encarregado de desarmar minas. A mina R que dá título ao livro é um tipo de artefato que continha 5 kg de dinamite e um poder de impacto de 180 kg, considerado na época como o mais perigoso de todos: o livro narra o enfrentamento do protagonista com essa arma letal. “Acho que quando você desarma mina a guerra fica sendo só sua e que cada mina é uma guerra que você ganha. Sozinho”, diz o narrador.

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