Arquivo da tag: Eucanaã Ferraz

Crítica Literária

Eucanaã Ferraz, “Sentimental”

2 setembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone
Paul Klee

Paul Klee

Estranha matéria, que sobe do fundo

à flor da memória camada de espuma

diário de bordo vem quebrar aqui

(…)

  – trecho de “Talvez hoje”

 

 

 

 

O verso, nas línguas, dizem tantos filósofos, antecede a prosa. Por ser mais imediato, por ser mais sentimental. A linguagem poética permanece existindo como verso e então não deixa de se estender por uma prosa, porém, invisível: suas palavras, suas imagens, ecoam-se entre si e interiorizam discursos inteiros sem nem precisar proferi-los. As imagens poéticas encerram um círculo hermenêutico de compreensão da parte pelo todo e do todo pela parte. O último livro de Eucanaã Ferraz particulariza em si essa coesão e Sentimental é um desdobramento semântico da própria palavra que lhe dá título, vai de um sarcasmo melancólico, sensorial, a uma leveza quase etérea, corredeira de figuras mágicas.

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matraca

Poética do real

18 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

A portuguesa Adília Lopes é uma das poetas de maior destaque hoje em seu país. Já foi traduzida para diversos idiomas e, no Brasil, as editoras 7 Letras e Cosacnaify, em coedição, publicaram a Antologia, seleção de poemas organizada pelo poeta Carlito Azevedo, que contém poemas desde seus primeiros livros, O poeta de Pondichéry, de 1986, e O decote da dama de espadas, de 1988, até trabalhos mais recentes, como Florbela Espanca espanca, de 1999, e O regresso de Chamilly, publicado em 2000. A edição brasileira conta também com posfácio de Flora Süssekind.

A poesia de Adília é pontuada por um humor irônico, através do qual seus versos encontram situações corriqueiras e cotidianas. Ela diz, sobre sua poesia: “Há sempre uma grande carga de violência, de dor, de seriedade e de santidade naquilo que escrevo”.

Eucanaã Ferraz, na bela resenha ao livro Antologia – texto intitulado “De monstros e monstruosidades” –, analisa: “O universo absolutamente trivial dos versos guarda qualquer coisa de artificial, de antinatural: há sempre uma ordem estabelecida – moral, estética, comportamental – que soa “estranha”. Disposições e arranjos sociais mostram-se em precário equilíbrio, e quando se desagregam substancialmente logo tudo se reorganiza e restaura, pouco importando a que preço. […] A banalidade e o absurdo equivalem-se numa espécie de esvaziamento entre o cínico e o sádico […]. O grotesco, na poesia de Adília Lopes, recusa o fantástico: o real é a grade perversa que os poemas nos impõem, da qual não nos libertamos nem na forma nem no conteúdo”.

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