O livro Um coração de cachorro e outras novelas, de Mikhail Bulgákov, apresenta quatro narrativas, traduzidas diretamente do russo pelo professor Homero Freitas de Andrade, também responsável pela seleção dos textos e pelas notas. Além das quatro novelas – “As aventuras de Tchítchikov”, “Diabolíada”, “Os ovos fatais” e “Um coração de cachorro” – o volume traz também um erudito ensaio de Andrade, “Apontamentos sobre a Prosa Satírica de Mikhail Bulgákov”, em que analisa aspectos da prosa satírica do autor e apresenta uma visão geral do gênero nos primeiros anos da literatura russo-soviética, destacando a contribuição de Bulgákov e de Maiakóvski para a renovação do gênero. Para Bulgákov, a sátira é criada naturalmente, cada vez que um escritor repara na imperfeição da vida corrente e, indignado, trabalha seu desmascaramento artístico.
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Humor magistral
Obra-prima da literatura satírica, misto de realismo mágico, comédia de costumes, história de amor e crítica social e política, O Mestre e a Margarida foi escrito em segredo, nas sombras do período mais violento da repressão de Stálin. Bulgákov começou a trabalhar no romance em 1928 e, doze anos mais tarde, morreu sem ver a obra publicada. O livro só foi publicado duas décadas após a morte do autor. A complexa trama parte da aparição, num entardecer quente de primavera, do diabo em plena Moscou, a capital de uma suposta utopia racionalista que promovia o ateísmo. O demo, acompanhado de figuras esquisitas que incluem um imenso gato preto adepto do xadrez, da vodca e das armas de fogo, ingressa nos círculos literários locais e envolve-se com o mestre, um escritor perseguido pelo governo e pelos intelectuais por ter publicado um romance sobre os últimos dias da vida de Jesus.
Viajar e escrever, viajar para escrever
Um bom par de sapatos e um caderno de anotações é uma seleção de textos e breves considerações de Tchekhov, organizada por Piero Brunello – professor de história social na Università Ca´Foscari, Veneza, também responsável pelos textos de prefácio e apêndice. A tradução foi feita por Homero de Andrade para a editora Martins Fontes. O livro foi publicado originalmente em 1895, resultado de notas realizadas em uma viagem do escritor, entre os meses de abril e outubro de 1890, à ilha-prisão de Sakalina, situada entre o mar de Okhotsk e o mar do Japão. Apesar da organização dos textos sugerir a formação de um “guia teórico-prático de reportagem”, para viajantes, jornalistas ou, simplesmente, leitores, o livro ultrapassa esta modesta pretensão, concentrando textos interessantes sobre assuntos variados: o castigo comum das fustigações – censurado até pouco tempo mesmo em traduções estrangeiras – ou questões teóricas e práticas da narrativa, observações que acabam por esboçar os traços de sua poética.
Durante a viagem, Tchekhov percorreu em condições precárias a região siberiana – a pé, a cavalo, sobre carroças, navegando em balsas e barcos a vapor –, demorou dois meses e meio para chegar à ilha, que “pareceu-lhe um inferno”; percorreu mais de doze mil quilômetros. Ao chegar, “pôde encontrar as pessoas, ver como viviam e escutar suas histórias”.