Arquivo da tag: Juan José Saer

Literatura

Prosa alegórica

28 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone
desenho de Degas.

esboços de Degas.

Nos pampas, em meio ao calor sufocante de fevereiro, sob a latente pressão do regime militar, um acontecimento inusitado desperta a narrativa: vários cavalos são assassinados, sem motivos aparentes ou explicações plausíveis, os corpos dos animais são encontrados, vítimas impotentes de tiros à queima-roupa.

Em Ninguém nada nunca, o argentino Juan José Saer narra de maneira oblíqua, reconhecível, mas não realista. Traça uma reflexão literária contundente sobre o mal-estar do homem no mundo, que perpassa a tensão e o mistério dos enigmáticos, e sobretudo alegóricos, abates dos cavalos.

Numa tradução inventiva do real, avessa à pura representatividade, a prosa de Saer aumenta a perceptividade simbólica do mundo e conserva no vazio as incompreensões milenares, irradiando-as, porém, ao infinito.  Continue lendo

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Literatura

Sons de água

23 março, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“São eles próprios mundo, realidade, destinados a segregar, em cada um de seus atos, mais mundo, mais realidade, são, mais ainda, o próprio presente, que à medida que se desloca vai criando mais presente, e ao mesmo tempo, sem perceber, afundando-nos no passado”.

Evandro Carlos Jardim

Evandro Carlos Jardim

Quando faleceu, em junho de 2005, vítima de um câncer de pulmão, o argentino Juan José Saer terminava de escrever os últimos capítulos de sua novela mais extensa, O grande. Nem por isso o romance é considerado inacabado. Composta por sete capítulos, cada qual correspondente a um dia da semana, a narrativa começa numa terça-feira e acaba na segunda-feira posterior à esperada grande reunião de domingo. O último capítulo, interrompido pela morte do autor, é um arremate para os encadeamentos de indagações de longo fôlego do encontro de seu dia anterior: a frase que o inicia e o conclui, retumba significados de um tema recorrente neste grande escritor – a poesia do tempo que passa, que dá o ritmo próprio à sua literatura: “Com a chuva chegou o outono e, com o outono, o tempo do vinho”.

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