“O meu emprego é intolerável porque contradiz o meu único desejo e a minha única vocação que é a literatura. Como eu nada sou senão literatura, que não posso nem quero ser outra coisa, o meu emprego nunca poderá ser causa de exaltação, mas poderá, pelo contrário, desequilibrar-me completamente. Aliás, não estou muito longe disso”.
Essas palavras, escritas por Kafka ao pai de sua noiva, Felice Bauer, ilustram a leitura de sua obra enquanto retrato da literatura e do pensamento judaicos, ligada ao desenraizamento e à perseguição. Deleuze e Guatarri, entretanto, neste seu estudo interpretativo, deslocam os problemas tradicionais, do trágico e da culpabilidade, para os da alegria e da política: a política que atravessa o gênio e a alegria que o comunica. Segundo os autores, “nunca houve autor mais cósmico e alegre do ponto de vista do desejo; nunca houve autor mais político e social do ponto de vista do enunciado”. Kafka cria um espaço literário, utilizando critérios totalmente novos. Continue lendo