Arquivo da tag: Italo Calvino

Guia de Leitura

OuLiPo

1 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Marcel Bénabou e Jacques Roubaud, no artigo “Qu´est-ce que l´OuLiPo?” [O que é o OuLiPo?], explicam-no como “a literatura em quantidade ilimitada, potencialmente produzível até o fim dos tempos, em grande quantidade, infinitas para todos os usos”. Sobre o autor que se dedica a esta prática, dizem que é “um rato que constrói si mesmo um labirinto do qual se propõe a sair”.

O OuLiPo é um grupo de escritores, fundado na França, em 1960. Seu nome é o acrônimo de “Ouvroir de littérature potentielle”, ateliê de literatura potencial. Não se trata de um movimento literário. Tampouco trata-se de um seminário científico. Também não se trata de literatura aleatória.

O que caracteriza a literatura potencial é o estabelecimento de regras formais. Anagramas, palíndromos, restrições literárias baseadas em formas fixas, como haicais, sextinas, rondós. O grupo nasceu da obsessão, de Raymond Queneau e François Le Lionnais, por aplicar, à literatura, princípios matemáticos.

Em 1969, Georges Perec, dois anos após entrar para o grupo, publicou o primeiro romance da literatura potencial, O sumiço, que acaba de ter tradução publicada no Brasil. Selecionamos, impulsionados por esta grande realização editorial, mais alguns livros de escritores da OuLiPo.

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matraca

Assunto encerrado?

30 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Escrever não consiste mais em narrar, mas em dizer que se narra, e aquilo que se diz se identifica com o próprio ato de dizer: a pessoa psicológica é substituída por uma pessoa linguística ou até gramatical, definida apenas por sua posição no discurso”.

Il Vangelo Secondo Matteo, Pasolini

Além de escritor de algumas das mais interessantes prosas fantásticas da história da literatura, desenvolvidas nas pequenas fendas das possibilidades do incontornável, Italo Calvino é também conhecido como um dos ensaístas mais brilhantes do século XX, profícuo crítico literário e crítico da cultura. Em Assunto encerrado – Discursos sobre literatura e sociedade, publicado originalmente em 1980, o italiano reuniu parte de sua crítica que ele mesmo julgava a mais representativa de seu percurso intelectual.

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lançamentos

Mundo escrito e mundo não escrito

24 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Escrevemos para que o mundo não escrito possa exprimir-se por meio de nós” – Italo Calvino.

Odilon Redon

Odilon Redon

A coletânea de artigos, enrevistas e conferências Mundo escrito e mundo não escrito, de Italo Calvino, acaba de ser lançada no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução de Maurício Santana Dias. Seus temas giram em torno de questões levantadas pelas relações entre vanguarda e tradição, de reflexões sobre a leitura, a escrita e a tradução, de comentários sobre a forma do romance: em suma, investigações sobre os significados da experiência literária. A delimitação movediça entre o mundo escrito e o não escrito marca um limite, tênue, entre o real e o que é possível através da linguagem.

Para Calvino, o mundo escrito, o texto, é em si um universo próprio. Relaciona-se com o mundo não-escrito, mas não de maneira espelhada.  Continue lendo

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Literatura

Há uma pessoa que faz uma coleção de areia

10 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A Companhia das Letras está fazendo uma baita promoção, somente até dia 15 de junho: são 300 títulos com 50% de desconto. A lista completa dos livros pode ser conferida no site da editora.

Italo Calvino

Entre eles, Coleção de areia, de Italo Calvino. Trata-se de uma coletânea de textos esparsos, sobre os mais variados assuntos. Aqui, o escritor desiste deliberadamente de buscar uma síntese qualquer ou traçar um esboço de trajetória. Lançado originalmente em 1984, é considerado uma deriva contínua por temas e formas que sempre obcecaram o autor. Em textos breves, o livro apreende a periferia do olhar: a exposição aparentemente anódina, o fato bizarro, a galeria de monstruosidades, o efêmero. Segundo o autor, o livro é um inventário de “coisas vistas”, sobre o visível, sobre o próprio ato de ver e sobre “o ver da imaginação”. Os textos se acumulam segundo o puro arbítrio, como diário em público e autobiografia tímida, sendo a expressão mais acabada da amplitude de perspectivas, da discrição e da curiosidade onívora do escritor.

“… coleção de areia era a menos chamativa mas também a mais misteriosa, a que parecia ter mais coisas a dizer, mesmo através do vidro opaco das ampolas”.     

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Literatura

Duas edições de bolso

8 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A editora 34 acaba de lançar a edição de bolso da Odisseia, de Homero. Em 2011, a Companhia das Letras já havia lançado uma edição de bolso do épico, pela coleção que mantém em parceria com a editora inglesa Penguin. Como indica a popular substantivação do título, a obra permanece próxima a características humanas atemporais e sua narrativa é reconhecida pelo senso comum como parte fundamental de toda a literatura ocidental. É justamente por isso que a publicação em edições de bolso, portáteis e economicamente mais acessíveis, é de grande valia para seu acesso mais amplo; a edição mais simples inclusive desmistifica em certa medida a leitura da obra, cuja relevância histórica e literária, bem como a forma em poesia épica, são tomados como responsabilidades intelectuais primeiras e, por si sós, já inibem sua leitura de antemão.

A versão da Penguin-Companhia das Letras vem com um “guia de leitura” ao final, com algumas questões de verificação de compreensão acerca de alguns episódios, com respectivas respostas, além de uma seleção bibliográfica recomendada à guisa de comentário – dois livros publicados nos Estados Unidos, dois na Inglaterra e um em Portugal. A edição conta com introdução e notas escritas pelo falecido professor inglês Bernard Knox, estudioso dos textos da Grécia Antiga, debruçou-se durante a carreira acadêmica principalmente sobre a obra de Sófocles e foi diretor e fundador do Centro de Estudos Helênicos da Universidade de Harvard. A tradução desta edição foi feita pelo português Frederico Lourenço, também responsável pelo prefácio. A editora disponibiliza trecho do Canto I em seu site.

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