Arquivo da tag: literatura inglesa

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Prometeu desacorrentado, um drama lírico em quatro atos

12 janeiro, 2018 | Por Isabela Gaglianone

“Tenhas pena dos desamados servos
do Céu, e não de mim, que à mente entrono
a paz, qual luz no sol: é vão falar!
Chama os demônios”.

Jean Delville, "Prometheus", 1907

Jean Delville, “Prometheus”, 1907

O poeta Percy Shelley (1792-1822) compõe, com Lord Byron e John Keats, a tríade mais expressiva do poesia romântica inglesa. Pouco traduzido no Brasil, ganhou, em 2015, uma edição cuidadosa com Prometeu desacorrentado e outros poemas, a mais extensa seleção de poemas de Shelley já publicada em português. A antologia, bilíngue, foi selecionada e traduzida por Adriano Scandolara, pesquisador da obra do poeta pela UFPR. A tradução é feliz ao manter o vigor dos poemas originais.

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Literatura

O tempo passa

22 dezembro, 2017 | Por Isabela Gaglianone

“Nesse calor, o vento enviou de novo seus espiões à casa. As moscas trançavam uma rede nos quartos ensolarados; as ervas daninhas que tinham crescido junto à vidraça, batiam metodicamente, à noite, na janela. Quando a escuridão caía, o clarão do farol, que nas noites escuras se estendia com autoridade sobre os tapetes, traçando seu desenho, vinha agora misturado ao luar, deslizando suave e furtivamente como se depositasse sua carícia e se demorasse e olhasse amorosamente outra vez.”

Turner, "Waves Breaking against the Wind"

Turner, “Waves Breaking against the Wind”

O tempo passa” é o título da segunda das três partes que compõem o romance Ao Farol, de Virginia Woolf. No início de 1927, ano da publicação do livro na Inglaterra, Virginia enviou uma versão dessa parte para ser publicada, em tradução, em uma revista francesa e o original em inglês permaneceu inédito até 1983, quando o pesquisador James M. Haule o descobriu. Esta versão – que difere significativamente da que foi incluída em Ao Farol e cuja autonomia parece ter sido reconhecida pela própria Virginia – foi publicada em edição bilíngue no Brasil em 2013, pela editora Autêntica, com tradução de Tomaz Tadeu.

Trata-se de um texto de beleza pungente. O fluxo de consciência perpassa a progressiva deterioração da casa de praia na qual a família Ramsay passava suas férias de verão. A poesia da narrativa ramifica metaforicamente a deterioração da casa em temporalidades diversas, desdobra-a em memórias idas, que a imagem constante do mar enfatiza, do mofo dos objetos esquecidos à afirmação de sua própria eternidade, onda após onda.

“A quietude e a beleza apertaram-se as mãos no quarto; entre os jarros com suas mortalhas e as cadeiras revestidas, nem mesmo a prece do vento, o delicado nariz dos úmidos ares marinhos, roçando, farejando, iterando e reiterando suas perguntas – ‘Irão vocês extinguir-se? Irão vocês perecer?’ – conseguem perturbar essa paz, esta indiferença, este ar de integridade, em que não há qualquer compromisso, em que a verdade estava descoberta, como se a pergunta que faziam não precisasse de nenhuma resposta: nós permanecemos”. Continue lendo

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lançamentos

O paraíso perdido

3 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Gravura de Gustave Doré para “O paraíso perdido”

A desobediência do homem e, como consequência a ela, a perda do Paraíso que habitava. O primeiro motivo de sua desgraça foi a aparição da Serpente, ou melhor dizendo, de Satã, nela personificado; o qual, rebelando-se contra Deus e atraindo a seu partido numerosas legiões de anjos, foi, por ação divina, banido do céu e precipitado, com sua horda, ao profundo abismo.

Eis em linhas gerais o mote do grandioso poema O paraíso perdido, um dos maiores épicos da literatura ocidental, obra do inglês John Milton (1608-1674). O poema acaba de ter uma cuidadosa edição lançada no Brasil pela editora 34. Bilíngue, a edição traz a elogiada tradução do premiado poeta português Daniel Jonas, que segue de perto a versificação e a musicalidade do original. O volume conta ainda com a apresentação, apaixonada, do crítico Harold Bloom. Completam ainda esta joia editorial a fantástica série de cinquenta ilustrações de Gustave Doré, publicadas em 1866.  Continue lendo

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Literatura

De fatos e cálculos

7 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Havia ruas largas, todas muito semelhantes umas às outras, e ruelas ainda mais semelhantes umas às outras, onde moravam pessoas também semelhantes umas às outras, que saíam e entravam nos mesmos horários, produzindo os mesmos sons nas mesmas calçadas, para fazer o mesmo trabalho, e para quem cada dia era o mesmo de ontem e de amanhã, e cada ano o equivalente do próximo e do anterior”.

pintura de José de Ribera

pintura de José de Ribera

Tempos difíceis, de Charles Dickens, escrito em 1854, é um clássico cuja atualidade permanece vívida. O romance tece uma crítica profunda à sociedade inglesa da Revolução Industrial através da narrativa da vida dos habitantes da cinzenta cidade de Coketown. A miserável condição de vida dos trabalhadores ingleses no final do século XIX, em contraste drástico à riqueza em que vivia a classe mais rica da Inglaterra vitoriana, é, pelo romance, mostrado através de um olhar arguto e irônico. O desenrolar de sua prosa constrói uma crítica aguda à garantia que a educação infantil proporciona à manutenção do quadro de dominação e desigualdade social, por moldar desde cedo a inteligência à obediência, à submissão e subserviência, incontestabilidade e irrecuperável massificação de corpo e espírito.  Continue lendo

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