Obra-prima da literatura satírica, misto de realismo mágico, comédia de costumes, história de amor e crítica social e política, O Mestre e a Margarida foi escrito em segredo, nas sombras do período mais violento da repressão de Stálin. Bulgákov começou a trabalhar no romance em 1928 e, doze anos mais tarde, morreu sem ver a obra publicada. O livro só foi publicado duas décadas após a morte do autor. A complexa trama parte da aparição, num entardecer quente de primavera, do diabo em plena Moscou, a capital de uma suposta utopia racionalista que promovia o ateísmo. O demo, acompanhado de figuras esquisitas que incluem um imenso gato preto adepto do xadrez, da vodca e das armas de fogo, ingressa nos círculos literários locais e envolve-se com o mestre, um escritor perseguido pelo governo e pelos intelectuais por ter publicado um romance sobre os últimos dias da vida de Jesus.
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Intelectualidade e totalitarismo
Mente Cativa, Czesław Miłosz realiza uma análise profundamente séria sobre a situação intelectual gerada pelo domínio das grandes ideologias. Sua denúncia aponta os círculos intelectuais servis: “A principal característica desse intelectual é seu medo de pensar por si mesmo”. Inspirado no período de sua vida que viveu sob o totalitarismo comunista na Polônia, após a Segunda Guerra, Miłosz reúne no livro uma série de ensaios através dos quais mostra como alguns intelectuais, originalmente sem afinidades ideológicas com o partido governante, aos poucos foram completamente convencidos – servos voluntários de um sistema que, na realidade, simplesmente não abre o menor espaço à autonomia de consciência, quer estética ou política.
Conforme as próprias palavras de Miłosz, em Mentes Cativas, ele procurou “criar separadamente os estágios sobre os quais a mente dá passagem à compulsão do nada”. Segundo a análise de Nelson Ascher, “é um dos livros indispensáveis do século XX”, pois “disseca um tipo moderno de política – o totalitarismo – que pretende se sobrepor à vida individual, conquistando-a e ocupando-lhe todas as esferas”.
Duas edições de bolso
A editora 34 acaba de lançar a edição de bolso da Odisseia, de Homero. Em 2011, a Companhia das Letras já havia lançado uma edição de bolso do épico, pela coleção que mantém em parceria com a editora inglesa Penguin. Como indica a popular substantivação do título, a obra permanece próxima a características humanas atemporais e sua narrativa é reconhecida pelo senso comum como parte fundamental de toda a literatura ocidental. É justamente por isso que a publicação em edições de bolso, portáteis e economicamente mais acessíveis, é de grande valia para seu acesso mais amplo; a edição mais simples inclusive desmistifica em certa medida a leitura da obra, cuja relevância histórica e literária, bem como a forma em poesia épica, são tomados como responsabilidades intelectuais primeiras e, por si sós, já inibem sua leitura de antemão.
A versão da Penguin-Companhia das Letras vem com um “guia de leitura” ao final, com algumas questões de verificação de compreensão acerca de alguns episódios, com respectivas respostas, além de uma seleção bibliográfica recomendada à guisa de comentário – dois livros publicados nos Estados Unidos, dois na Inglaterra e um em Portugal. A edição conta com introdução e notas escritas pelo falecido professor inglês Bernard Knox, estudioso dos textos da Grécia Antiga, debruçou-se durante a carreira acadêmica principalmente sobre a obra de Sófocles e foi diretor e fundador do Centro de Estudos Helênicos da Universidade de Harvard. A tradução desta edição foi feita pelo português Frederico Lourenço, também responsável pelo prefácio. A editora disponibiliza trecho do Canto I em seu site.