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Literatura

Haverá um dia em que os rios não morrerão de sede?

11 abril, 2018 | Por Morada das Histórias

Uma leitura comparada entre os livros
Um dia, um rio e Os rios morrem de sede 

Ilustração de André Neves, do livro “Um dia, um rio”

Na tarde do dia 5 de novembro de 2015, ocorreu o rompimento da barragem de rejeitos de mineração do Fundão, situada no subdistrito de Bento Rodrigues (35 km de distância em relação ao município de Mariana – Minas Gerais). A empresa responsável pelo controle das atividades de extração nessa localidade é a Samarco Mineração S.A., um empreendimento multinacional conjunto das maiores empresas de mineração do mundo (a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton).

A lama de 39,2 milhões de m³ de rejeitos de minério se alastrou por cerca de 650 quilômetros entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo – percorrendo os rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce até alcançar o Oceano Atlântico. Ecossistemas foram extremamente afetados (animais e plantas morreram), denúncias de contaminação da água foram apresentadas aos órgãos ambientais e ao Ministério Público e pescadores de comunidades ribeirinhas mineiras e capixabas perderam boa parte das condições de sobrevivência e trabalho [2].

Um dia, um rio é um livro que nasceu a partir de um pedido de Márcia Leite, coordenadora da editora Pulo do Gato, motivada pelos sentimentos de angústia, indignação, denúncia e revolta causados pela maior catástrofe ambiental já registrada na história do Brasil – o desastre de Mariana.

A partir deste contexto, as palavras do mineiro Leo Cunha [3] e as ilustrações do pernambucano André Neves [4], criadores da obra aqui analisada, apresentam a história de um rio/menino que, de repente, tem sua vida transformada pela inundação provocada por uma lama/monstro/máquina. O livro foi publicado em outubro de 2016 – um mês antes, portanto, do primeiro aniversário da catástrofe que ocorreu e vitimou o vale do Rio Doce.

Leo Cunha afirma, em entrevista para a Revista Crescer, que seu desejo era “falar desse caso para as crianças de maneira poética, literária, sem ser didático. Procurei criar uma força simbólica e afetiva sem o tom de denúncia. Eu vi muitas reportagens, visitei a região, então, para escrever, precisei mergulhar na linguagem. Pensei o rio como um personagem que conta a vida antes e depois do desastre”.

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