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Crítica Literária

A antropofagia contra o arcabouço recalcado

13 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Em Oswald canibal Benedito Nunes apresenta o caráter específico da antropofagia oswaldiana como conceito de desmistificação da história escrita e de crítica à sociedade patriarcal a que deram origem os cânones da história; Benedito mostra como Oswald antecipou intuitivamente toda a dialética do Modernismo brasileiro.

Em seu Manifesto Antropofágico, Oswald defendia que o “instinto caraíba” devorasse todas as “consciências enlatadas”, as “escleroses urbanas” e supostas verdades missionárias (segundo a as palavras de Raul Bopp, em Vida e Morte da Antropofagia). Assim ele expôs a necessidade de um confronto que gerasse bases mais independentes para a identidade nacional, pois sua percepção era a que “a nossa independência ainda não foi proclamada”. O manifesto termina apontando a deglutição do bispo Sardinha como um evento-chave; Continue lendo

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matraca

Pasquim político

20 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O semanário político O Homem do Povo foi publicado entre março e abril de 1931. O jornal, fundado por Oswald de Andrade e sua então mulher Patrícia Galvão, a Pagu, após terem filiado-se ao Partido Comunista do Brasil, foi uma resposta militante, cujo objetivo era espalhar a mensagem da revolução entre o operariado urbano – à politicamente conturbada época de disputa entre extremas direita e esquerda, representadas respectivamente pelo nazifascismo europeu e pelo bolchevismo soviético. Hiperbólico, provocativo, crítico e satírico, o jornal aliou o humor irreverente de Oswald a uma reflexão crítica de sua própria participação no modernismo. O efêmero periódico, assim, caracterizou-se, em seus aspectos político e estético, pela militância política desenvolvida numa linguagem expressiva e comunicativa, uma escrita cheia de ironias, paradoxos, trocadilhos.

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em coedição com a editora Globo e com apoio do Museu Lasar Segall, publicou a coleção integral dos exemplares fac-símile do jornal. A edição traz também textos explicativos, escritos por Augusto de Campos, Maria de Lurdes Eleutério e Geraldo Galvão Ferraz – filho de Pagu.

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cinema

Rudá de Andrade: Breviário

29 janeiro, 2009 | Por admin

Breviário de Rudá de Andrade (1930 – 2009), crítico cinematográfico, cineasta e escritor, fundador da Sociedade Amigos da Cinemateca, professor da ECA-USP e diretor do MIS:

Guto Lacaz e Rudá de Andrade, em foto de 2004 [Janete Longo/AE]

Rudá de Andrade, crítico cinematográfico, cineasta e escritor, estudou cinema em Roma, trabalhou com diretores como Luigi Comencini e Vittorio de Sica.

Em 1962, depois de retornar ao Brasil, fundou a Sociedade Amigos da Cinemateca – a SAC, entidade civil sem fins lucrativos, foi criada com o objetivo de apoiar a Cinemateca Brasileira no cumprimento de sua missão institucional. Sobre esta instituição, Rudá de Andrade escreveu um artigo para a Folha de São Paulo, entitulado Entidade é mais do que um cinema, onde destaca o valioso acervo fílmico, avançada catalogação desse acervo e expressivo acervo de documentos em papel da Cinemateca Brasileira.

Foi um dos principais nomes do MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo, tendo sido seu diretor desde a fundação, em 1970, e ficando no cargo até 1981. Ao mesmo tempo em que dirigia o MIS, Rudá dava aulas de cinema da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Ele teve papel ativo na criação do curso, em 1966.

Paulo Emílio Salles Gomes, também crítico de cinema e professor da ECA, escreveu em um artigo na Unesco, publicado em 1961 no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, sobre Rudá:

“De mil novecentos e cinqüenta e quatro para cá, a vida de Rudá Andrade esta intimamente associada com o destino da Cinemateca Brasileira. Se um dia essa instituição existir realmente, isto é, quando deixar de ser esse misto de planos otimistas projetados no futuro e de realidades melancólicas de filmes que queimam ou apodrecem no presente, e que dessa existência se queira traçar a história, uma das preocupações centrais do pesquisador deverá ser a figura de Rudá Andrade. O presidente Francisco Luiz de Almeida Salles, os diretores, eu próprio, o conservado-chefe, temos um papel muito grande na luta externa, junto aos poderes públicos, para assegurar a consolidação definitiva da Fundação Cinemateca Brasileira. Mas a vida interna na instituição cultural adquiriu uma tonalidade particular, que emana diretamente de Rudá Andrade. Ele possui uma dosagem rara de qualidades de militante, intelectual, educador, de tato e simpatia.

É sobretudo às suas qualidades de organizador que se devem os empreendimentos que garantiram à Cinemateca durantes os últimos anos, certo brilho e a subsistência. Nunca vi um homem de ação ao mesmo tempo tão paciente, eficaz, polido e implacável. Foi através de Rudá que se recrutou o jovem quadro da Cinemateca, e ai se revelou a sua finura psicológica, o seu gosto atilado pela competência e pela qualidade humana. É um administrador exigente, e os jovens colaboradores, num momento de Fronda, alcunharam-no de Encouraçado Poronominare, em oposição ao que era chamado de Gabinete do Doutor Paulo Emilio. Ao mesmo tempo, porém, Rudá procura um terreno livre para o exercício da rebelião, a sua e a dos outros, seus colaboradores ou não. Estritamente fora das atividades da Fundação, lançou ele, Delírio, revista literária e cinematográfica, da qual já foram publicados dois números. Será melhor esperar o aparecimento de mais alguns, antes de tentar definir a fisionomia e o sentido da publicação. Desde já, contudo, uma vez que o conservador-adjunto da Fundação Cinemateca Brasileira e o editor de Delírio são o mesmo homem, revela-se em Rudá Andrade a vocação hierárquica e anárquica, o exercício da lucidez e o culto do sonho, isto é, ele se transforma na encarnação que nos é mais próxima, do espírito aristocrático moderno.”
fonte: (Priscila D. Carvalho, Secretaria do Audiovisual/MinC)

Rudá foi, também, diretor de documentários como “Pagu” (2001, junto com Marcelo Tassara) e “Renata” (2002). Como escritor, ganhou em 1983 o Prêmio Jabuti por “Cela 3 -°A Grade Agride“, livro relançado em 2008 pela Globo.

fonte: Folha de São Paulo, 29.01.2009, Morre aos 78 o pesquisador de cinema Rudá de Andrade.

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