Hanói, romance de Adriana Lisboa, é um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom deste ano. Trata-se de uma narrativa tocante sobre deslocamentos, sobre o transitório, sobre a miscigenação cultural. A história desenvolve-se no encontro inusitado entre duas personagens díspares, porém com uma história comum: ambos imigrantes lutando cotidianamente por sua sobrevivência nos Estados Unidos, contornando as adversidades culturais e a sutil xenofobia que permeia suas vidas, vivendo em meio a uma mescla de hábitos e culturas, num mosaico de identidades. A narrativa de Adriana Lisboa tece uma história de amor, de renúncia, de escolhas que calam profundamente nas vidas daqueles que as envolvem.
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Em tom menor
Amanhã não tem ninguém, de Flávio Izhaki, é um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom deste ano. O romance atravessa quatro gerações de uma família judia, narrado em primeira pessoa por seis diferentes personagens. O livro é dividido em sete partes e 69 capítulos, de modo que é o resultado de uma junção entre fragmentos narrativos, cujo fio condutor é a história da família – uma narrativa ao mesmo tempo fragmentária e circular.
Algumas das personagens são um adolescente, perdido em meio ao funeral do avô; um homem que escapa de um AVC, mas cuja esposa repentinamente falece; uma mulher que não consegue se comunicar com o filho, preso em um interminável jogo de videogame. Diferentes entre si, assemelham-se pelo forte sentimento de finitude e pela incomunicabilidade.
Poeta do enxofre
“Acordei ácido. É primeiro de ano. Primeiras horas da manhã. De toda forma, oito e meia, para um ex-sedentário, não deixa de ser uma vitória: primeiras horas, ainda que a manhã dos sábios tenha começado lá pelas cinco. Os sábios são como o sol. Chego lá.”
Companhia Brasileira de Alquimia, de Manoel Herzog, concorre como semifinalista na categoria romance, do Prêmio Portugal Telecom de Literatura. O livro foi lançado em novembro do ano passado pela editora Patuá. Conta a história de Germano Quaresma, operador em uma indústria que transforma chumbo em ouro. Ao longo de sua rotina mecânica, o protagonista tece reflexões pessoais sobre as relações sociais modernas, da falta de cumplicidade profissional ao seu casamento com Cláudia. Solitário, ele encontra em clássicos da literatura a amizade que lhe falta no mundo.
No prefácio, o escritor Ademir Demarchi analisa: “Que o leitor acostumado com ficções urbanas, misérias, crimes e histórias de amor, que são marca da literatura contemporânea brasileira, se prepare: saiba de antemão que, diversamente, este romance se passa dentro de uma indústria química multinacional, em meio a fornos, máquinas e produtos químicos e num tom irônico de narrativa, sem cair no cacoete da idealização romântica de esquerda dos operários. Continue lendo
Como o brilho da chuva
Essa coisa brilhante que é a chuva, livro de contos de Cíntia Moscovich, foi o vencedor do Prêmio Portugal Telecom na categoria contos/crônicas – na categoria poesia, o vencedor foi Eucanaã Ferraz e na categoria romance, José Luiz Passos. Essa coisa brilhante que é chuva também foi um dos vencedores do Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional em 2013 – prêmio em que, na categoria de romance, o vencedor foi Opisanie Swiata, de Veronica Stigger. Esse foi o sétimo livro de Cíntia Moscovich publicado. As narrativas giram em torno sobretudo de laços familiares instáveis, um tema recorrente em sua obra, e de personagens confrontados com as limitações de seus próprios corpos, todos os contos permeados de maneira interessante por temas corriqueiros.
O livro é composto de uma maneira que lembra um longo poema Continue lendo
O tempo, a loucura: entrelaçamentos
“Foi um grande desvio que me levou até esse ponto. E o que aconteceu depois é difícil de relatar numa linguagem mais ordenada. Espero que me entendam”.
O escritor pernambucano José Luiz Passos é o autor do elogiado romance O sonâmbulo amador, pelo qual venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa de 2013. Passos é professor na Universidade da Califórnia, onde fundou o Centro de Estudos Brasileiros. No Brasil, já tinha publicado um primeiro romance, Nosso grão mais fino, além de dois livros de crítica literária: Ruínas de Linhas Puras (publicado em 1998 pela Annablume), que reúne quatro ensaios sobre Macunaíma, e, mais recente, o ensaio Machado de Assis – O romance com pessoas (publicado em 2008 pela Edusp).
O sonâmbulo amador apresenta a história de um funcionário de uma indústria têxtil pernambucana, narrada depois de seu surto psicótico. Interessante desde o título – o inusitado “amador” qualificando um “sonâmbulo” cria uma imagem engenhosa –, o livro foi inspirado em uma visita de Passos a um armeiro húngaro, no Recife. O protagonista, Jurandir, apenas alguns dias antes de se aposentar como chefe de segurança, empreende uma viagem ao Recife para resolver um processo trabalhista. Sua jornada, porém, torna-se um pesadelo: sem motivos prévios ou aparentes, ele incendeia o carro da empresa e perde o controle de suas ações.