Literatura

Felisberto Hernández e a fantasia poética

14 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O uruguaio Felisberto Henández é um dos escritores mais originais da literatura ocidental. A editora Grua – cujo catálogo é excelente e ainda enxuto – publicou As hortênsias, em edição bilíngue, com tradução feita a quatro mãos por Pablo Cardellino Soto e Walter Carlos Costa. A tradução consegue com êxito verter para o português o “idioleto” felisbertiano, como analisa o poeta Ricardo Corona em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo. Segundo Corona, “pode-se afirmar que suas histórias estão para a literatura fantástica como a prosa poética de Lautréamont (outro uruguaio) está para o surrealismo”; para ele, o leitor “ao ler o volume, perceberá que a revelação não passa pela ideia de que as histórias e personagens de Felisberto foram criadas para surpreender, mas talvez para permanecerem suspensas no inefável, nos acontecimentos em estado contínuo de poesia”. Nas palavras dos tradutores, “É um tipo de fantástico único, expresso em uma língua inconfundível”.

Na análise de Manuel da Costa Pinto, em artigo escrito para a Folha de São Paulo, o fato de Felisberto ter sido contemporâneo de Borges e Onetti, obriga-nos “a encaixá-lo na assombrosa ficção hispano-americana do século 20, em que o fantástico se mescla a um cerebralismo metaliterário. Hernández é autor de narrativas curtas e novelas cujos devaneios têm espessura da realidade, suspensas entre a distorção da consciência e a fábula. […] Hernández parece precursor do “boom” do realismo mágico, cujo gênero por excelência foi o conto”.

Felisberto Hernández foi pianista, tocava em cafés e em cinemas e compôs diversas obras. A literatura acompanhava a carreira musical, somente aos quarenta anos ele abandonou a música e passou a dedicar-se exclusivamente à escrita de seus contos. Para o jornalista e crítico Álvaro Costa e Silva, em resenha publicada no blog do jornal O Globo, Felisberto “é um improvisador e um deslocado das letras que, de maneira original, fez de tudo a seu alcance para fugir delas, sem no entanto conseguir”. O jornalista conta: “Quando os amigos elogiavam suas interpretações e composições, Felisberto adotava uma expressão de sofrimento e protestava, mesmo que de forma paródica: “Eu quero ser escritor”. A frase, segundo o argentino Juan José Saer, tem na verdade um sentido diverso: “Não quero ser outra coisa a não ser escritor”. O que faz toda diferença. A partir de 1940, Felisberto abandonou a carreira de pianista e dedicou-se inteiramente à literatura”.

Seus livros foram publicados em diversos países, traduzidos para diversos idiomas, divulgação que rendeu a Felisberto a admiração de grandes escritores como Juan Carlos Onetti, Italo Calvino e Julio Cortázar. A sua obra tem como marca uma estranha mistura de sonho e de realidade, repleta de observações irônicas e de uma fantasia poética que muito influenciou o realismo fantástico. No mercado editorial brasileiro, outra publicação de Felisberto Hernández é O cavalo perdido e outras histórias, publicado pela Cosacnaify, com tradução de Davi Arrigucci Jr.

 

A editora Grua disponibiliza a leitura das páginas iniciais de As hortênsias.

 

AS HORTÊNSIAS

Autor: Felisberto Hernández
Editora: Grua
Preço: R$ 28,39 (224 págs.)

 

 

 

 

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