A leitura minuciosa de um conto, de um poema, de um romance, concentram em si sínteses históricas sob a pena erudita de Alfredo Bosi.
O livro Entre a literatura e a história, reúne cerca de quarenta textos, entre ensaios inéditos, entrevistas, prefácios e artigos de intervenção que versam sobre a literatura brasileira romântica, moderna e contemporânea, sobre as vanguardas latino-americanas, sobre Vico e também Leopardi. O volume conta ainda com uma série de textos em que Bosi revê etapas de sua própria formação, traçando o perfil de intelectuais como Otto Maria Carpeaux – sobre quem Bosi afirma ter seguido a esteira, examinando “as relações dialéticas entre ideologia e poesia e ideologia e narrativa, o que lhe abriu caminho para o seu conceito de literatura como resistência” –, Celso Furtado, entre outros, e discute questões contemporâneas, como, por exemplo, os desafios da educação no Brasil, ou a necessidade da poesia hoje: “A poesia seria hoje particularmente bem-vinda porque o mundo onde ela precisa subsistir tornou-se atravancado de objetos, atulhado de imagens, aturdido de informações, submerso em palavras, sinais e ruídos de toda parte”. A crítica literária e o pensamento sobre a literatura encaminham, assim, análises profundas, sobre a sociedade, sobre a história, enquanto trajeto e enquanto presente: uma leitura histórico-social do texto literário.
Alfredo Bosi cursou Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, especializando-se em Literatura Brasileira e Italiana. Ingressou como professor nesta faculdade em 1959. Desde 2003 é membro da Academia Brasileira de Letras, e em 2009, recebeu o título de Professor Emérito da FFLCH-USP. É autor de, entre outros livros, História concisa da literatura brasileira, publicado em 1970, O ser e o tempo da poesia, publicado em 1977, Céu, inferno, publicado em 1988, Dialética da colonização, publicado em 1992, e Ideologia e contraideologia, publicado em 2010.
No artigo “Caminhos entre a literatura e a história”, publicado na revista Estudos avançados (vol.19 no.55), texto que vai de encontro direto ao livro Entre a literatura e a história, Bosi diz:
“eu suspeitava cada vez mais que o reconhecimento da diferença entre os níveis estético e social, embora necessário, não era suficiente. Era preciso cavar mais fundo no campo da teoria literária e da teoria da historiografia para compreender aquelas relações que não deveriam permanecer em um regime de mera exterioridade”.
No artigo, ele conta como se deu o desenvolvimento, nos seus estudos literários, de uma abordagem dialética da relação entre obra e sociedade: “Embora marcado por leituras existencialistas e hermenêuticas, que tendiam a aprofundar as instâncias subjetivas do escritor e a reconhecer a margem de liberdade de suas opções estilísticas, devo dizer que a compreensão histórico-social dos textos literários se me afigurava não só uma necessidade epistemológica, mas um imperativo ético-político”. Conta também que uma de suas grandes inspirações intelectuais foi Otto Maria Carpeaux: “O cerne da dialética de Carpeaux na elaboração da História da Literatura Ocidental encontra-se precisamente na sua capacidade de identificar nos grandes textos literários não só a mimesis da cultura hegemônica, mas também o seu contraponto que assinala o momento da viragem, o gesto resistente da diferença e da contradição”. E conclui, modesto, apenas uma “suspeita de que a cultura é um encontro tenso de espelhamentos e resistências, transparências e opacidades, o que às vezes lhe dá a figura de enigma”.
ENTRE A LITERATURA E A HISTÓRIA
Autor: Alfredo Bosi
Editora: 34
Preço: R$ 45,50 (480 págs.)