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Meandros de literatura e cinema

27 agosto, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Novo romance de Antonio Xerxenesky, F, lançado pela Editora Rocco, é permeado pela figura de Orson Welles e seu filme “F for fake”, cujo título no Brasil foi traduzido como “Verdades e mentiras”, e que coloca em questão os conceitos de autoria e autenticidade na arte. O livro é protagonizado por Ana, uma jovem brasileira, assassina de aluguel, que desde a adolescência desenvolve seu especial talento no manejo de armas e que é contratada para infiltrar-se na equipe de produção e matar Welles. A personagem traça, para tanto, o perfil psicológico do cineasta, investigando-o através de seus filmes. Xerxenesky entronca as histórias de Welles e de sua assassina, ao mesmo tempo que os transforma em metáforas do cinema e da literatura, do autêntico e da cópia. 

Ana, que desejava ser uma assassina perfeita, porém, durante essa missão, deixa de agir com a sua costumeira frieza: o romance, assim, une reflexões sobre o papel da arte e sobre as relações que pautam a própria humanidade.

Com uma prosa envolvente, o livro tematiza o papel de humanização da arte em geral, em especial do cinema. O romance também suscita uma reflexão sobre o que caracteriza uma obra de arte. Mesclando influências diversas numa trama que aborda também a ditadura brasileira, o exílio e os rumos da cultura, o gaúcho Antônio Xerxenesky cria um romance inusitado, reflexivo e empolgante.

Em entrevista publicada pelo jornal O Globo, concedida ao escritor Reginaldo Pujol Filho, o autor, questionado sobre a frase de sua protagonista, “todo grande artista nutre uma crença no poder transformador da arte”, disse: “Não sei se todo grande artista nutre essa crença, não sei se concordo com Ana. Quanto a mim, sequer me considero um artista. No final do dia, gosto de pensar que escrevo livros divertidos, com zumbis e assassinas de aluguel, e isso me basta. Escrever “F” não foi nada fácil. Agora o livro está finalmente saindo, após anos de trabalho, e a minha editora pensa nele como uma aposta comercial – é a função das editoras, afinal. Mas claro que isso tudo é muito estranho para mim. Pensei em desistir inúmeras vezes da escrita de “F”, pensei em nunca mais escrever na vida. Mas eu tinha uma sensação otimista de que cinco pessoas aleatórias, espalhadas pelo país, iam ler o livro e gostar muito: o romance ia ter significado algo importante para elas. Era isso que faria tudo valer a pena. Ainda é isso que faz tudo valer a pena. Eu me preocupo mais com o livro encontrar e atingir essas pessoas do que qualquer outra coisa. Não é um poder transformador. Não mudarei a vida de ninguém escrevendo esses livros pop. Mas acredito numa espécie de comunicação possível, um tipo raro e específico de comunicação. Espero que isso faça algum sentido”.

 

 

F

Autor: Antonio Xerxenesky
Editora: Rocco
Preço: R$ 27,50 (240 págs.)

 

 

 

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