“A descoberta não me espantou e
tampouco me surpreendi ao retirar
do bolso o dono do restaurante”.
Murilo Rubião foi um autor que preferiu reescrever exaustivamente seus textos, a produzir uma obra extensa. Publicou 33 contos, que a Companhia das Letras reuniu nesta antologia. Sua literatura é conhecida pelo caráter absurdo que imiscui-se ao cotidiano – seus personagens lidam com o fantástico com a mais pura naturalidade. Nas palavras de Jorge Schwartz, na literatura de Rubião “acontecimentos referencialmente antagônicos e inconciliáveis conciliam-se tranqüilamente pela organização da linguagem. Dragões, coelhos e cangurus falam, mas não há mais o clássico “enigma” a ser desvendado no final”. Para Schwartz, “o fenômeno fantástico de sua escrita é justificado na medida em que há a percepção dos níveis simbólicos e alegóricos de significação”, e as simbologias despertadas em seus contos, segundo o crítico fazem com que o elemento extraordinário não seja “a presença dos dragões no meio humano, mas a condição do meio e das relações nele criadas. Aqui um paralelismo possível com as obras de Kafka. Na Metamorfose o fantástico deixa de ser Gregório, convertido em monstruosa barata e fantásticas são as reações da família diante do fato. Em Murilo e Kafka, o código social possibilita a leitura ideológica e não se trata de simples recriação na leitura do fantástico”.