Arquivo da tag: literatura húngara

Literatura

A exposição das rosas

20 julho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“[…] eu não morrerei uma vez, mas duas. Que diabo você fica olhando? É uma coisa simples. Agora mesmo poderei interpretar para você uma agonia que deixaria até o Ularik satisfeito. Depois, se necessário, você poderá filmar a agonia verdadeira também. Você terá duas mortes e poderá aproveitar no documentário aquela que estiver melhor”.

Gravura do húngaro Gabor Peterdi [Jane Haslem Gallery]

A Editora 34 reeditou a obra inaugural de sua ótima coleção Leste, publicada originalmente no Brasil em 1993.

A exposição das rosas, do escritor húngaro István Örkény (1912-1979), reúne duas novelas que, exemplares da notória da sátira e humor negro do autor, abordam com ironia a história recente da Hungria – sobretudo satirizando o militarismo e os frágeis valores da classe média. Ambas foram traduzidas diretamente do húngaro por Aleksandar Jovanovic. O volume conta também com prefácio de Nelson Ascher.

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matraca

Frágil experiência do indivíduo

10 março, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“É diferente ser sem pátria em seu próprio país e sê-lo no estrangeiro, onde justamente essa falta de pátria pode nos levar a encontrar um novo lar”.

Fotografia de Roger-Viollet, da entrada de Auschwitz [janeiro de 1945]

A língua exilada, do húngaro Imre Kertész (1929), reúne ensaios, discursos e conferências, inclusive o texto proferido pelo autor quando do recebimento do Prêmio Nobel de Literatura, em 2002. A Academia Sueca, ao anunciá-lo vencedor, definiu sua escrita como sustentáculo da “vivência frágil do indivíduo contra a arbitrariedade bárbara da história”.

Entre as narrativas marcantes da segunda metade do século XX figuram seus relatos e reflexões, enquanto sobrevivente dos campos de extermínio nazistas. Imre Kertész transforma a experiência da deportação em reflexão sobre os valores éticos e morais da nossa sociedade.

A língua exilada é uma coleção de ensaios permeados pela idéia de que o Holocausto não é um acontecimento restrito aos nazistas e aos judeus: é uma experiência universal. Se Theodor Adorno disse ser impossível escrever versos após Auschwitz, Kertész afirma que o campo de concentração é um marco zero e que, portanto, nada mais poderia ser escrito sem fazer menção a ele. Segundo o autor húngaro, em todas as produções artísticas pós-Segunda Guerra Mundial estão evidentes as marcas da aniquilação dos valores que sustentavam a civilização antes do Holocausto. Passada a euforia inicial da queda do Muro de Berlim, em 1989, renasceram os velhos nacionalismos e, com eles, a sombra do anti-semitismo. Continue lendo

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Literatura

Entre nuances, a verdade

26 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone
László Moholy-Nagy

László Moholy-Nagy

De verdade é considerado por muitos críticos como a obra máxima do húngaro Sándor Márai. Escrito ao longo de mais de quarenta anos, este denso romance divide-se entre a voz de quatro narradores. Cada um deles descreve suas vidas e seus entrelaçamentos, portanto, ocorrem nas confluências de olhares de cada um sobre as situações, sobre si e sobre os outros. Diferentes organizações de discurso em relação a fatos ocorridos com mais de um dos narradores torna-se de maneira engenhosa um comentário às dificuldades de convivência decorrentes da diversidade de percepções.

Sándor Márai perpassa os conflitos do amor e do casamento, ao passo que também desmascara os meandros da burguesia decadente da Europa Central entre as duas grandes guerras.  Continue lendo

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Literatura

Solilóquios eternos da lembrança

23 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone
gravura do húngaro István Püspöky Munkácsy

gravura do húngaro István Püspöky Munkácsy

O legado de Eszter, do húngaro Sándor Márai, revive o denso espaço de um dia, o mais importante da vida de Eszter, uma senhora que espera já muito pouco da vida. Ela e a criada, Nunu, ao receberem um telegrama de Lajos, anunciando que retornará à pacata aldeia depois de uma ausência de vinte anos, alarmam-se, com a forte presença da iminência de perigo. Sedutor, Lajos fizera promessas de amor que Eszter verdadeiramente correspondera, porém ele desposou sua irmã mais nova; falsificador de promissórias, fugitivo, capaz de mentir com lágrimas de verdade, ludibriara também aos pais e irmãos de Eszter, que entregaram-lhe quase tudo o que tinham.

Traduzido diretamente do húngaro por Paulo Schiller, o livro foi publicado em 2001 pela Companhia das Letras.

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Literatura

Paulo Rónai

18 dezembro, 2007 | Por admin

PAULO RÓNAI é tradutor, filólogo e ensaísta. Ou melhor, era. O centenário de nascimento do húngaro Paulo Rónai, falecido em 1992, foi lembrado na Universidade de São Paulo semana passada com uma mesa redonda comemorativa. Rónai formou-se em Literatura e Línguas Latina e Neolatina e chegou a especializar-se em literatura francesa ao defender uma tese sobre Balzac, 1m 1930. Entrou em contato com a língua portuguesa quando ainda estudava na universidade francesa Sourbonne, e sentiu a impressão de que a línguar era “um latim falado por crianças ou velhos, de qualquer maneira gente que não tivesse dentes. Se os tivesse, como haveria perdido tantas consoantes?” (fonte: Instituto Moreira Salles).

De Rónai, a 30PorCento conta com duas traduções. A primeira, da editora Cosac Naify, é um premiado juvenil chamado Os Meninos da Rua Paulo, do húngaro Ferenc Molnár, escrito em 1907. O livro foi adaptado ao cinema por Zoltán Fábri – o link é para a versão em VHS na Amazon, foi a única que achei – e recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1969. O preço na 30PorCento é de R$ 31.00 Por R$ 21.70. A segunda tradução é da Edusp; Contos Húngaros, da coleção Criação e Crítica. Este volume é uma continuação dos contos magiares reunidos na Antologia do conto húngaro, publicado em 1957, com prefácio de seu amigo João Guimarães Rosa. Infelizmente, o livro da Edusp está esgotado.

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