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Sobre o sofrimento cotidiano

23 agosto, 2017 | Por Isabela Gaglianone

Odilon Redon

O psicanalista Christian Dunker acaba de lançar o livro Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano, pela editora Ubu. Trata-se da reunião de 49 ensaios, que dialogam sobre sofrimento, felicidade, ódio, política, solidão, intimidade; sobre as estratégias cotidianas para lidar com tudo o que nos afeta. Segundo o autor, o livro é “uma investigação sobre as formas de amor, sobre suas interveniências políticas, sobre a possibilidade de ficar junto e separado”. A partir dessa investigação, Dunker desenvolve uma reflexão psicanalítica sobre a experiência de sofrimento, própria da nossa época.

O argumento de Dunker tem como premissa implícita a ideia de que o sofrimento, embora vivido no sujeito, requer e propaga uma política – está submetido a uma dinâmica de poder. O poder é gerado por aqueles que podem reconhecer o sofrimento e por aqueles de quem esperamos legitimidade, dignidade ou atenção, seja o Estado, um médico, um padre ou policial, ou aqueles que amamos. Dessa maneira, as políticas do sofrimento cotidiano sustentam-se em nossas escolhas diante desses agentes de poder, através das maneiras de transformar nosso entorno ou a nós mesmos, das possibilidades de externalizar ou internalizar, construir ou desconstruir afetos, entre outros.

A problemática da rarefação da intimidade e o processo de solidão são intimamente analisados. Ao longo do livro, Dunker ilustra-os com exemplos que nos são corriqueiros, como tendências à hipersocialização, ou impotências para construir situações de real solidão ou intimidade. Continue lendo

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matraca

A interação entre produção e dispêndio

5 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Goya, gravura da série “Caprichos”

Bataille, em A parte maldita – Precedida de “A noção de dispêndio”, desenvolve noções-chave dentro de seu pensamento, tais como os conceitos de dispêndio, excesso, sacrifício, luxo e sagrado. Como conta o autor, o livro foi resultado de dezoito anos de pesquisa e reflexão; dividido em cinco partes, constituiu-se como um ensaio de economia geral, uma tentativa de representar o mundo em termos gerais, distanciando-se da explicitação da economia isolada que foca suas análises na relação entre produção, lucro e acumulação. O resultado é uma reflexão sobre o modo de representação do mundo em relação ao problema do destino da energia que circula na superfície terrestre, segundo Bataille, o modo dispendioso. Na noção de dispêndio, sua análise econômica encontra seu veio argumentativo principal.

“A parte maldita”, escrito em 1949, é um desenvolvimento do ensaio “A noção de dispêndio”, publicado de 1933. Em conjunto, ambos tratam, através da economia política, de estabelecer bases sólidas para que Bataille pudesse pensar, em 1957, o conceito de erotismo como chave de leitura da totalidade inacabada humana. O “dispêndio improdutivo” aparece aqui como fundamento da investigação humana. A noção de inutilidade que acarreta, gerada pelo gasto, pela perda de dinheiro ou de energia, é profundamente ligado à noção de erotismo posteriormente desenvolvida pela autor.

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