Arquivos da categoria: matraca

Breves resenhas diárias.

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Gerd Bornheim

12 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

O aspecto mais fascinante de uma pesquisa filosófica reside talvez no fato de que ela se faz refratária a uma palavra final e definitiva. Não porque repouse no jogo infindável da conotação lógica das palavras, e sim porque há uma “prosa do mundo” – prosa que se inventa a si mesma, aderida a um mundo sempre em transformação. Todo o escopo do pensamento consiste em decifrar essa prosa, já que nela se esgota a inteireza da própria legitimidade do ato de pensar. – Gerd Bornheim.

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Gerd Bornheim (1929 – 2002) é considerado um dos poucos grandes filósofos brasileiros.

Dedicou boa parte de sua obra ao teatro, porém dizia considerar secundária sua produção sobre dramaturgia, em relação à importância que atribuía à sua atividade filosófica. Foi um dos grandes divulgadores da filosofia de Sartre, porém lia seu pensamento enquanto “enraizado, sobretudo, em Heiddeger, em Hegel e em Marx”.

A Edusp acaba de publicar uma cuidadosa e representativa reunião de ensaios de Gerd Bornheim, organizados por Gaspar Paz, sob o título Temas de filosofia.

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O tenente Quetange

9 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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Iuri Tyniánov [1894 – 1943] é conhecido sobretudo por seu estudo da teoria poética, trabalho vinculado ao formalismo russo. Ocupou-se da natureza do verso, da noção de história literária, do nascimento da poesia russa moderna a partir do conflito entre arcaizantes e inovadores.

Suas incursões na prosa de ficção, porém, são igualmente bem sucedidas.

O tenente Quetange, traduzido para o português por Aurora Bernardini, é uma sátira do autoritarismo e de sua burocracia.

O improvável patronímico é fruto de um emprego equivocado de um clichê da burocracia russa, a expressão “que tange”. A edição brasileira, publicada pela Cosac Naify, conta ainda com prefácio de Boris Schnaiderman.  Continue lendo

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Contra os gramáticos

29 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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O filósofo antigo Sexto Empírico foi um cético grego da escola pirrônica, cujos escritos dirigem-se contra a defesa dogmática que pretende conhecer uma verdade absoluta. Uma de suas mais importantes reflexões céticas desenvolve-se na obra “Contra os Matemáticos” (Adversus Mathematicos), também conhecida como “Contra os Professores”, dividida em seis livros: Contra os Gramáticos (Livro I), Contra os Retóricos (Livro II), Contra os Geômetras (Livro III), Contra os Aritméticos (Livro IV), Contra os Astrólogos (Livro V) e Contra os Músicos (Livro VI).

A editora Unesp acaba de publicar uma cuidadosa edição bilíngue de Contra os gramáticos, em que Sexto discute o papel crucial do uso comum das palavras para a compreensão da linguagem e para o bom filosofar. Atento aos sentidos técnicos e problemáticos com que os dogmáticos usavam as palavras, ele critica a tentativa de uma gramática geral, de princípios universais, e defende uma concepção convencionalista da linguagem.  Continue lendo

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Federigo Tozzi

26 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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A interessante e jovem editora Carambaia teve uma sagaz ideia: para montar seu planejamento de publicações, adicionou, a uma longa lista de autores e títulos selecionados pelos editores, as sugestões dos tradutores que contratou – pediu-lhes que indicassem textos que gostariam de traduzir, mas para o quê o mercado editorial nunca dera espaço. Foi assim que a editora chegou, através do tradutor Maurício Santana Dias, no italiano Federigo Tozzi (1883-1920) e lançou, há pouco, seu romance Memórias de um empregado.

O romance é escrito em forma de pequenas entradas de diário. Acompanha a história, um jovem de uma família operária que, pressionado pelo pai, parte de sua cidade natal, Pontedera, para trabalhar em uma estação ferroviária. Enquanto está longe, o protagonista mantém um diário e corresponde-se com a namorada, deixada na pequena cidade. O fato é autobiográfico.

Tozzi, que durante muito tempo foi um autor desconhecido, é hoje considerado um dos maiores escritores italianos, um dos mais importantes narradores do século passado, objeto de um crescente interesse, por parte da crítica literária. É comparado, por críticos, a Luigi Pirandello e Italo Svevo, apesar de que sua obra permanece, contudo, pouco conhecida pelo público leitor brasileiro. Mesmo na Itália, os livros de Tozzi só começaram a se popularizar nos anos sessenta, quando a crítica passou a atentar para o pioneirismo de sua ficção, dotada de um realismo psicológico cuja veia lírica é notável e profundamente instigante.

Sua prosa utiliza a forma tradicional do realismo apenas para exprimir uma visão particular da realidade e gira em torno da inadequação do indivíduo. Encontra-se, em seus textos, uma espécie de representação lírica do homem frente ao mundo e às coisas. O texto de Tozzi é também conhecido por ser inovador na forma. O romance tem pontuação, ritmo e estilo que marcam sua modernidade.

O romance mostra o solitário limbo de quem vive uma vida, em si, insignificante, como se vivesse “de olhos fechados” (alusão ao título de outro de seus romances e metáfora que atravessa sua obra, de maneira geral).

Memórias de um empregado foi publicado em 1920, ano da morte de Tozzi – morreu aos 37 anos, vítima da gripe espanhola.A edição brasileira, além da tradução do professor da USP, Maurício Santana Dias, conta com apresentação de Maria Betânia Amoroso.

 

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“Se certas pessoas soubessem dos traços indeléveis que deixaram em mim, ficariam espantadas. Quando penso que sou feito de tantas linhas correspondentes a outros tantos dias, me pergunto se quem existe sou eu ou as coisas que agora tenho diante dos olhos. E me pergunto o que significa viver”.

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MEMÓRIAS DE UM EMPREGADO

Autor: Federigo Tozzi
Editora: Carambaia
Preço: R$ 55,01 (144 págs.)

 

 

 

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história

Forma de protesto

22 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
gravura de Lasar Segall

gravura de Lasar Segall

Acaba de ser publicado o livro Mocambos e quilombos – Uma história do campesinato negro no Brasil, do historiador Flávio dos Santos Gomes, pela Companhia das Letras.

Trata-se de um estudo sobre a existência, por todo o Brasil, de comunidades negras rurais que são remanescentes de quilombos – concretude da continuidade social e histórica de um processo mais longo da escravidão e das primeiras décadas da pós-emancipação do que se costuma supor. As comunidades de fugitivos da escravidão não representam, nas palavras do autor, um passado imóvel, “aquilo que sobrou (posto nunca transformado) de um passado remoto. As comunidades de fugitivos da escravidão produziram histórias complexas de ocupação agrária, criação de territórios, cultura material e imaterial próprias baseadas no parentesco e no uso e manejo coletivo da terra. O desenvolvimento das comunidades negras contemporâneas é bastante complexo, com seus processos de identidade e luta por cidadania”. O livro repassa a história dos quilombos, e seus desdobramentos, do passado e do presente.

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O Brasil não é longe daqui

19 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
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Publicado em 1990 pela Companhia das Letras, o interessante estudo de Flora Süssekind, O Brasil não é longe daqui – O narrador, a viagem, alia análise histórica a um olhar atento ao lirismo de seu material: por entre charadas, textos de divulgação científica, estampas de plantas e animais, pequenas biografias e casos curiosos, Süssekind trata do narrador de ficção na literatura brasileira, o qual surpreende em pleno movimento, ao longo do processo histórico de sua formação, desde os relatos de viagens – fundamentais para a criação de um imaginário paisagístico do Brasil –, mediados pela figura de um narrador-viajante que, mutante – ora cartógrafo, ora historiador, ora cronista –, daria as cartas na nossa prosa de ficção romântica.

A análise de Süssekind primeiro investiga e data “a constituição de um narrador de ficção na prosa brasileira”. Ao mesmo tempo, partindo de “uma questão específica no campo da historiografia literária”, analisa a noção do “começo histórico, da ‘origem’ entendida como processo de emergência e singularização, em meio a escolhas, repetições e diferenciações, figurações e recomposições diversas”. Assim, delimitando a caracterização que tanto constitui, quanto origina o narrador de ficção, a autora acompanha o narrador-viajante desde seu surgimento, nas décadas de 1830 e 1840, na prosa ficcional brasileira.  Continue lendo

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Contos de Kolimá

15 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Estou convencido de que os campos de prisioneiros, todos eles, são uma escola negativa; passar neles uma hora que seja é uma defloração. O campo de prisioneiros não dá, nem pode dar, nada de positivo a ninguém. Sobre todos, encarcerados e trabalhadores contratados, o campo age de modo deflorador”.

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Na desolada região no extremo leste da Sibéria conhecida como Kolimá, onde as temperaturas chegam a 60 graus negativos, existiram alguns dos campos de trabalhos forçados mais temíveis e desumanos da era stalinista. É sobre eles que o escritor russo Varlam Chalámov (1907-1982) fala em Contos de Kolimá, recentemente lançado pela Editora 34, em uma edição cuidadosa, com tradução de Denise Sales e Elena Vasilevich, apresentação de Boris Schnaiderman e prefácio de Irina P. Sirotínskaia, companheira do escritor em seus últimos anos e profunda conhecedora de sua obra.

Chalámov, poeta e jornalista, conheceu profundamente Kolimá, pois alí cumpriu a maior parte de sua pena de quase vinte anos: preso político, trabalhou até 16 horas por dia em minas de ouro e carvão, constantemente doente e subnutrido.

Ao final da pena, o escritor retornou a Moscou e, no ano seguinte, começou a dedicar-se à composição de sua obra monumental, trabalho que lhe tomou mais novos vinte anos: Contos de Kolimá, mais de duas mil páginas divididas em seis volumes, que retomam de maneira profunda a memória do autor, uma vasta coleção de histórias da vida cotidiana nos campos de prisioneiros que forma um relato autobiográfico agudo, pois acompanhado por uma reflexão profunda sobre os limites do humano frente à brutalidade sem limites.  Continue lendo

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O circuito dos afetos

8 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Gravura de Marco Buti

Gravura de Marco Buti

O circuito dos afetos, novo livro do filósofo Vladimir Safatle, acaba de ser lançado, pela editora Cosacnafy.

Trata-se de uma interessante análise sobre o conceito moderno de indivíduo enquanto, sobretudo, um sistema de afetos. A investigação de Safatle, professor de filosofia da USP, parte da articulação entre psicanálise, filosofia e teoria social.

“Sujeitos políticos não constituem um povo, esta será a última lição de Freud. Eles desconstituem o povo como categoria política, sem para isso cair na ilusão de uma sociedade como mera associação de indivíduos”, diz o autor.

Sua indagação matriz é: “Qual o sentido da política no mundo contemporâneo?” – questão que suscita o levantamento de novos paradigmas políticos, justo em um momento histórico em que tanto as utopias de esquerda quanto o próprio capitalismo encontram-se em descrédito. Para desenvolver sua reflexão, o autor sugere uma linha interpretativa que passa por Aristóteles, Espinosa, Hobbes, Giorgio Agamben, Michel Foucault e chega à discussão com expoentes atuais da Escola de Frankfurt.  Continue lendo

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Sobre o homem e suas relações

5 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Vermeer, "Mulher segurando uma balança"

Vermeer, “Mulher segurando uma balança”

Dada a dificuldade de acesso aos textos do filósofo Franz Hemsterhuis (1721 – 1790), é notória e feliz a existência de uma boa tradução de alguns de seus mais relevantes textos, reunidos em Sobre o homem e suas relações, feita por Pedro Paulo Pimenta, professor de filosofia da USP, e publicada pela editora Iluminuras. Pimenta é responsável também pelas notas e pela introdução, na qual contextualiza a produção do filósofo e a publicação original da carta que dá nome ao volume:

“[…] Franz Hemsterhuis declina da atividade acadêmica para dedicar-se à administração pública dos Países-Baixos, e é paralelamente à carreira política que desenvolve sua reflexão filosófica a partir do início dos anos 1760. Tomando para si a tarefa de imprimir seus próprios textos, redigidos sempre em francês, o filósofo não desfruta de qualquer reputação para além de um estreito círculo de amigos que conhecem e admiram seus textos e sua conversação. Em 1772, Hemsterhuis redige a Carta sobre o homem e suas relações e, algum tempo depois (provavelmente em 1774), pede a Diderot uma opinião a respeito do texto, que faz chegar às suas mãos juntamente com a Carta sobre os desejos (1768)”.

O volume contém os seguintes textos de Hemsterhuis: Carta sobre a escultura (1765), Carta sobre o homem e suas relações (1772), Aristeu ou sobre a divindade (1778), Carta de Diócles a Diotima sobre o ateísmo (1789). Acompanham esses textos o comentário de Diderot, acima mencionado, bem como a carta de Jacobi a Hemsterhuis sobre o Aristeu, enviada a Mendelssohn em 1784.  Continue lendo

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Metafísicas canibais

1 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
fotografia de Eduardo Viveiros de Castro

fotografia de Eduardo Viveiros de Castro

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro acaba de lançar o livro Metafísicas canibais, escrito à guisa de resenha  do livro imaginário que ele porém julga que jamais será capaz de terminar: O Anti-Narciso. Este, por sua vez, teria como objetivo provar a seguinte tese: a antropologia é uma versão das práticas de conhecimento indígenas que lhe serviram de estudo.

O perspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido por Viveiros de Castro e que afirmou a sua celebridade intelectual enquanto estudioso original e relevante, é um exemplo de como o estilo de pensamento nativo afeta a imaginação antropológica. A reflexão do autor é guiada por duas obras fundamentais da filosofia e da antropologia: O Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, e as Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss. A aproximação entre filosofia e antropologia visa a investigação da seguinte pergunta, “o que deve conceitualmente a antropologia aos povos que estuda?”. As culturas e sociedades estudadas antropologicamente “influenciam, ou, para dizer de modo mais claro, coproduzem” as teses formuladas.

Estas Metafísicas canibais reúnem parte significativa das reflexões que Viveiros de Castro vem desenvolvendo desde a publicação de A inconstância da alma selvagem, inclusive a reformulação da teoria perspectivista.  Continue lendo

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Literatura

Juncos ao vento

28 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Grazia Deledda

Grazia Deledda

Juncos ao vento é uma das grandes obras de Grazia Deledda (1871 – 1936), um dos principais nomes da literatura italiana do século XX e segunda mulher a ganhar o Nobel de Literatura.

O livro ganhou, no Brasil, nova tradução, feita por Maria Augusta Mattos, publicada em março deste ano pela recém fundada editora Carambaia. O volume conta também com ensaio da professora Maria Teresa Arrigoni.

Trata-se de uma narrativa que resguarda o microuniverso sardo, utilizando suas paisagens, física e cultural, para discutir questões humanas que extrapolam a geografia insular. A autora conta a história das irmãs Pintor, imersas na ruína que é também personificada na figura de Efix, seu leal serviçal, remanescente de um ido período abastado. Uma forte esperança de dias melhores surge com a chegada de um sobrinho, personagem cujo passado é desconhecido.

O texto de Grazia Deledda é característico pelo estilo direto, sem floreios, permeado por um humor amargo e fatalista.  Continue lendo

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Testemunho transiente  

24 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Ao testemunhar tua aparição, descobri que a proximidade, a mais intensa, se dá junto da distância mais distante.”

Gravura da série "Ir" [2007], de Marco Buti

Gravura da série “Ir” [2007], de Marco Buti

Sabedoria do nunca [1999], Ignorância do sempre [2000], Certeza do agora [2002], são livros que traçam a temática que atravessa toda a obra de Juliano Garcia Pessanha: uma reflexão sobre a precariedade do ser, preso nos cárceres da linguagem, subjugado às violências inerentes à necessária apropriação do existente pelo olhar utilitarista da técnica. Uma investigação poético-filosófica à qual dá prosseguimento Instabilidade perpétua [2009], em que o autor dialoga com filósofos, tais como Heidegger, Cioran e Sloterdijk, e com escritores, como Kafka e Gombrowicz.

A Cosacnaify acaba de lançar esta tetralogia em um volume único, intitulado Testemunho transiente. A edição conta com texto de orelha de Roberto Machado e texto de quarta capa de Jean-Claude Bernadet.  Continue lendo

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Ao som do tamborim e das castanholas

21 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Vânia Mignone

Vânia Mignone

As Novelas exemplares de Miguel de Cervantes Saavedra (1547 – 1616) foram originalmente publicadas em 1613, entre as publicações das duas partes de D. Quixote. Um volume completo das novelas acaba de ser lançado no Brasil pela Cosacnaify, edição cuidadosa com tradução de Ernani Ssó e textos críticos de Maria Augusta da Costa Vieira, Silvia Massimini Félix e Ernani Ssó. O livro é ilustrado por Vânia Mignone.

São “exemplares”, pois, como gênero literário, a novela já existia, mas, então, nunca fora escrita na Espanha nada que se assemelhasse a esta forma narrativa. Cervantes experimenta o gênero em todas as direções possíveis, com relatos bizantinos, cortesãos ou picarescos. Busca em sua prosa o estabelecimento de um padrão realista, tratando do cotidiano das pessoas, de uma Espanha palpável, vivida. Os 12 textos, escritos entre 1590 e 1612 e publicados originalmente juntos sob o título Novelas Exemplares de Honestíssimo Entretenimento, são o primeiro exemplo em castelhano de novelas, que, à época, possuíam um caráter moral e didático, ao qual Cervantes uniu seu humor gracioso, suas metáforas agudas e suas personagens, tão reais, tão humanas.  Continue lendo

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O pensamento yanomami

3 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
fotografia de Cláudia Andujar, publicada no livro "Yanomami"

fotografia de Cláudia Andujar, publicada no livro “Yanomami”

A queda do céu finalmente ganha tradução para o português. Publicado originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, o volume traz o relato profundamente político e espiritual do grande xamã e porta-voz dos Yanomami, Davi Kopenawa, registrado pelo etnólogo-escritor Bruce Albert após trinta anos de convivência. O livro chega ao Brasil pela Companhia das Letras, traduzido por Beatriz Perrone-Moisés e conta com prefácio de Eduardo Viveiros de Castro. É uma obra de impacto na história da etnografia, um diálogo rico e único entre dois universos culturais.

Albert registrou as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. Trata-se de um relato extraordinário, confluência de testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. O discurso de Kopenawa introduz os sistemas cosmopolíticos e intelectuais dos yanomami para os brancos.  Continue lendo

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O pouco de realidade das coisas

31 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Gravura de Norman Ackroyd

Gravura de Norman Ackroyd

A reunião de ensaios As ilhas, de Jean Grenier (1898 – 1971), foi originalmente publicada em 1933. O volume, para Albert Camus, amigo e aluno de Grenier na Argélia antes da guerra, foi a leitura arrebatadora que lhe despertou o ímpeto de tornar-se escritor.

Cabe, para apresentar este livro e sua filosofia literária, a análise que dele fez o escritor Gilles Lapouge, em resenha publicada no jornal O Estado de São Paulo, na qual discorre sobre a relação entre o autor e o pupilo: “Claro que Jean Grenier e Albert Camus são filósofos, mas a sua grandeza é que o filósofo, nos dois casos, foi engolido, como se digerido, pelo escritor. O que não significa que a carga filosófica de As ilhas ou O estrangeiro seja ínfima. Não. Mas ela é comunicada por imagens, alegrias intensas ou soluços, o movimento branco de uma nuvem, a pele das mulheres”.

No prefácio que Camus escreveu para a reedição de 1959 de As ilhas, pontua que o livro representou para sua geração uma iniciação ao desencanto do mundo.  Continue lendo

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