Guia de Leitura

Llansol

5 fevereiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Maria Gabriela Llansol (Lisboa, 24 de Novembro de 1931 – Sintra, 3 de Março de 2008) é conhecida como autora de uma obra inclassificável: seus livros transitam entre gêneros e esfarelam suas fronteiras, articulando e reunindo diário e romance, poesia e ensaio.

Sua escrita é enigmática e repleta de fulgor. Há uma estranheza e uma complexidade que envolvem toda sua obra.

Segundo Maria João Cantinho, em artigo publicado pela revista de estudos literários da Universidade de Madrid, Espéculo, o texto de Maria Gabriela Llansol abandona a literatura “para mergulhar no abismo – já não da literatura – mas da própria escrita, no que ela contém de perigosa implosão. E é nesse limiar de perigo, entre o exprimível e o inexprimível, que se sustenta o texto llansoliano”. De acordo com a crítica portuguesa: “Quando é pensável a leitura crítica sobre a obra, imediatamente vem à memória o noli me legere de Blanchot[1]Ressalte-se o precário do texto, a zona obscura em que ele se encerra, guardando em si o sentido. A resistência abre-se nessa incandescência da imagem; se, por um lado, ela (imagem-escrita) apela ao jogo das faculdades, para usar o termo kantiano; por outro, essa imagem fecha-se sobre si própria, transformando-se num interdito”.

 

 

Maria Gabriela Llansol, "Na casa de julho e agosto"

Maria Gabriela Llansol, “Na casa de julho e agosto”

Último dos livros da trilogia “Geografia de Rebeldes”, Na casa de julho e agosto, publicado originalmente em 1984, é, como afirma João Barrento no posfácio, o “livro do desencontro entre duas paisagens na história da Europa” e também o “livro das relações, e um roteiro de viagens – entre a Europa do norte e o litoral português”.

Denso, é feito de maneira fragmentária, narrado por personagens históricas – figuras religiosas, filósofos, artistas –  separadas por séculos, de maneira que o texto cria uma complexa trama de exílios e viagens ao redor do mundo ao largo de rios: o Tejo, o Eufrates, o Tigre. Os rios, uma vez que interligam vários países, são veios de partilha de culturas. Assim, são imagens da emancipação talvez da própria autora, que viveu em longo exílio, entre as décadas de 1960 e 80.

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lançamentos

A chamada política da identidade

4 fevereiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
Renina Katz, litografia [Sem título], 1977

Renina Katz, litografia [Sem título], 1977

O economista e escritor indiano Amartya Sem, professor da Universidade de Harvard, Prêmio Nobel de Economia em 1998, neste abrangente e agudo Identidade e violência, sustenta que a “violência assassina” que envolve o mundo é decorrência, por um lado, de infelizes confusões conceituais e, por outro, de ódios ancestrais. Lembrando que a identidade reconforta tanto quanto mata, o autor revê temas incontornáveis como a falsa oposição entre o Ocidente e o “Antiocidente”, o confinamento civilizacional e a liberdade de pensar e manifestar-se sem o temor de represálias, físicas e morais.

Na exacerbação das fronteiras, que gera a sempre crescente violência, está imiscuída a questão da degradação da identidade. Trata-se de uma ilusão identitária.

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história

Entre o certo e o certo

1 fevereiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“O fanatismo é mais antigo que as religiões, os estados, os sistemas políticos e os governos” – Amós Oz

Odilon Redon

Odilon Redon

Como curar um fanático – Israel e Palestina: entre o certo e o certo, reúne ensaios nos quais o escritor Amós Oz questiona e perspectiva as raízes e as consequências do fanatismo. Para ele, os violentos conflitos que multiplicam-se atualmente não são resultado de uma luta entre civilizações, ou luta social; nossa época, diz, padece de uma síndrome, uma luta entre fanáticos, incluindo todos os tipos de fanatismo, e o “resto de nós”: “Entre os que creem que os seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida é um fim em si mesmo”.

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Guia de Leitura

Da atualidade da Antiguidade romana – II parte

30 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Atendendo a pedidos dos leitores, propomos aqui uma continuação desta rota bibliográfica, somente uma das possibilidades de navegação do mar comum que nos é a história.

 

Tácito, "Anais"

Tácito, “Anais”

Os Anais são a obra mais representativa da maturidade intelectual do historiador Tácito, escrita entre o principado de Trajano e o de Adriano. Sua relevância estende-se da tradição historiográfica latina à formação do pensamento político ocidental.

A ênfase primária nos Anais recai sobre a narrativa das ações dos imperadores e na progressiva caracterização analítica biográfica de cada um, recurso utilizado por Tácitopara enfatizar o caráter praticamente monárquico do Principado. Sua narrativa histórica, pois, centra-se na figura do imperador e na cidade de Roma. A estrutura dos livros, considerada de maneira ampla, é fundada sobre blocos de caracterizações que formam uma continuidade entre si, cuja dinâmica forma um diálogo em que o processo de deterioração moral do Principado se torna gradualmente evidente.

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história

Filosofia e história e vice-versa

21 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

mapa da Inglaterra do século XVII

A História da Inglaterra, de David Hume, foi escrita em seis volumes, publicados originalmente entre 1754 e 1762. Considerando o estudo da história como momento privilegiado para iluminar a busca dos povos por sua liberdade e, por outro lado, acreditando não haver então na Inglaterra historiadores aptos a redigir a história daquela nação, pôs-se, o filósofo, a fazê-lo ele mesmo, com o intuito de se tornar o “primeiro grande historiador a escrever em língua inglesa”. Ele, naquele período, não contava com a notoriedade filosófica que consolidaria depois; foi justamente essa obra o grande êxito editorial que assegurou a fama e a segurança financeira.

Deste trabalho monumental, o filósofo Pedro Paulo Pimenta selecionou, organizou e traduziu textos capitais, capazes de oferecerem uma visão panorâmica sobre o desenvolvimento político e social da Inglaterra, além de fornecer valiosos elementos para a compreensão de seu pensamento moral e político. Este material selecionado permite, além do acompanhamento do processo de formação histórica da Inglaterra, a compreensão de como o contexto específico moldou os princípios naturais daquele povo, gerando costumes, manifestações científicas e artísticas e uma economia específicas.

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Literatura

Aparentemente imperturbável

19 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
gravura de Frans Everbag

gravura de Frans Everbag

Muito continua sendo comentando sobre a boa curadoria editorial da recentemente fundada Rádio Londres. Um dos títulos da editora que tem chamado a atenção de críticos e leitores é Tirza, do holandês Arnon Grunberg, ultimamente clamado como o romance holandês quiçá mais importante de todos os tempos.

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Literatura

Mosaico de palco e mundo

18 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
fotografia aérea da devastação causada pelas chuvas em Santa Catarina, em 2008

fotografia aérea da devastação causada pelas chuvas em Santa Catarina, em 2008

O catarinense Carlos Henrique Schroeder, já reconhecido como um dos grandes destaques da prosa brasileira contemporânea, foi bastante comentado no ano passado pelo lançamento de seu livro História da chuva.

Em larga medida autoficcional, profundamente pontuado no desastre causado pela chuva em Santa Catarina em 2008, por um lado, e, por outro, nas experiências teatrais de animação – teatros de bonecos –, o romance de Schroeder desenrola-se à maneira de um documentário narrativo, através de uma trama complexa, elaborada de maneira visualmente nítida, quase palpável, densamente cênica.

A conjuntura engenhosa de elementos e de relações acerca da verossimilhança fazem de sua prosa uma “experiência radical” de história.  Continue lendo

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Guia de Leitura

Da atualidade da Antiguidade romana

15 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
Afresco em Pompéia

Afresco em Pompéia

Somos ainda herdeiros diretos de muitas tradições e lógicas, sociais, urbanas e intelectuais, dos romanos antigos.

Na casa de um poeta trágico na cidade de Pompéia lê-se em um mosaico, à entrada, “Cave canem”, ou seja, cuidado com o cão; os livros eram comercializados por livreiros, que incentivavam a publicação dos autores que julgavam promissores, mas que mantinham o lucro das vendas; uma decepção amorosa, conta Marcial, era curada com uma embriaguez; em outro de seus epigramas, o poeta diz: “Se o pergaminho for teu companheiro, pensa / em tomar longas vias com teu Cícero”, querendo dizer que o livro poderia ser companheiro inseparável, independente de quão longa fosse a jornada e, uma vez que o nome de Cícero se dizia “Cicerone”, aí pode encontrar-se a origem do termo cicerone.

De detalhes mínimos como estes costumes prosaicos, às concepções maiores de manipulação política pelo discurso retórico, por exemplo, ou da importância do estudo da história para a educação, há muito no que possamos nos reconhecer olhando a vida na Roma antiga.

 

Paul Veyne, "Pão e circo"

Paul Veyne, “Pão e circo”

Esta obra monumental do historiador e arqueólogo Paul Veyne, especialista na Antiguidade greco-romana, reúne uma investigação minuciosa sobre as origens da prática tão comum, a aristocratas e imperadores, do Pão e circo. Até hoje utilizamos a expressão, porém, segundo esta análise interessante e profunda, deturpamos seu sentido de maneira enviesada e historicamente incorreta. Qual o motivo que levava a elite romana a organizar jogos e distribuía trigo para a plebe? Seria uma prática diversionista, ou um clientelismo, quiçá por visar a despolitização, ou somente por populismo? O poeta e pensador romano Juvenal entendia o “Panem et circenses” como a derrocada da república, pois que a massa trocava seus votos por diversão e alimento. Mas Veyne descontrói essa interpretação, desenvolvendo uma complexa chave de leitura para a compreensão dos acontecimentos históricos, sociais e políticos da época. Segundo ele, antes de ser uma deliberada estratégia de manipulação das massas ou manipulação da plebe, a política do pão e circo remetia sua origem a práticas herdadas das cidades-Estado gregas, de comprometimento com a vida social por parte dos nobres: práticas que tanto embutiam um sentido de dever, como também eram usadas como demonstração de superioridade. Apropriadas de modo específico pela elite romana, em conformidade às características de sua sociedade, essas liberalidades oferecidas ao povo marcam um fenômeno mais amplo em que aristocratas realçavam sua posição social por meio de doações ostentatórias para a coletividade. Contextualizadas historicamente, são assim caracterizadas por Veyne como “evergetismo”.  Continue lendo

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lançamentos

Pelo diálogo racional

14 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“A filosofia militante que tenho em mente é uma filosofia em luta contra os ataques, de qualquer lado que venham – tanto daquele dos tradicionalistas como daquele dos inovadores –, à liberdade da razão esclarecedora”.

'A morte de Marat", pintura de Jacques-Louis David, 1793

‘A morte de Marat”, pintura de Jacques-Louis David, 1793

Para o intelectual italiano Norberto Bobbio (1909-2004), não há política sem cultura. Publicado originalmente em 1955, chega agora ao Brasil uma boa edição do livro Política e cultura, lançado pela editora Unesp, com tradução de Jaime A. Clasen e introdução e organização de Franco Sbarberi. Coletânea de quinze ensaios, faz questionamentos profundos e atuais, como: “Qual o papel do intelectual quando as posições extremadas parecem turvar todo o debate?”; ou: “Qual a relação entre cultura e política em uma sociedade democrática?”.

O livro foi escrito durante a Guerra Fria e é marcado pela aflição política daquele momento na Itália. É considerado um dos principais livros de Bobbio, testemunho de suas reflexões sobre um  novo liberalismo ideal, que seria sensível aos temas da justiça social, porém convicto também sobre a necessária exigência de limitação constitucional e controle permanente dos poderes do Estado por parte dos cidadãos.  Continue lendo

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Literatura

Vozes em fuga

11 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
Paul Klee, 'Angelus Novus'

Paul Klee, ‘Angelus Novus’

“Perguntei-lhe se por acaso você não tinha se aproximado de grupetos políticos perigosos. Sempre morro de medo de que você possa acabar entre os Tupamaros. Ele disse não saber com que você andava nesses últimos tempos. Disse ser bem possível que você tivesse medo de alguma coisa. Não foi claro”.

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Caro Michele é um forte romance epistolar, da escritora italiana Natalia Ginzburg. Publicado em 1973, o livro foi o primeiro escrito na Itália a contar a história de um jovem terrorista.

A Michele, personagem ausente, criado de maneira paulatina e perspectivada, quem escreve é principalmente sua mãe, Adriana, mas também uma de suas irmãs, além de uma moça com quem ele tivera um caso e possivelmente também um filho e um amigo, Osvaldo, provável ex amante. As cartas escritas por Michele aparecem no romance raramente, o personagem delineia-se como um negativo, através das cartas a ele escritas.  Continue lendo

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Guia de Leitura

Contos de fadas para adultos

19 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

O fantástico, o imaginário, podem ser polissêmicas maneiras de colocar em questão, simbolicamente, noções morais, políticas, ideológicas intrigantes.

Os contos de fadas são, sob esse viés, conhecidos como meios didáticos, cujo intuito é sensibilizar a criança em relação ao conhecimento do mundo. Porém, os contos inseridos em um universo lúdico ou mágico são fontes amplas de inspiração metafórica, também, ou talvez sobretudo, aos adultos, para interpretar a natureza humana.

É por isso que Walter Benjamin, por exemplo, considera os contos de fadas como a fonte originária da narrativa e como primeiros conselheiros, não só das crianças, mas de toda humanidade. Orais por natureza, os contos de fadas são formas de exercer a faculdade de intercambiar experiências[i]; através dessa troca, a imaginação torna-se crítica e o encantamento do mundo, uma arma para desencantá-lo.

 

Giorgio Manganelli, "Pinóquio: um livro paralelo"

Giorgio Manganelli, “Pinóquio: um livro paralelo”

Giorgio Manganelli, em Pinóquio: um livro paralelo, destrincha a forma da fábula, mostrando, no caso da história da marionete de madeira, as inúmeras outras histórias que por trás dela se escondem. Manganelli, grande romancista e intelectual italiano, desvenda o quanto esse conto de fadas, na verdade, é rico em significados na leitura de um adulto. O livro aponta o sentido oculto das desventuras de Pinóquio e o verdadeiro significado de personagens, analisa a tirania e a benevolência de Gepeto, o papel pedagógico do Grilo-Falante, as metamorfoses da Fada e as dúvidas existenciais de Pinóquio, dividido entre a desobediência e a vontade de ser um bom menino, para poder se transformar em uma criança de carne e osso.

Uma das fabulosas ideias do autor é que a definição de marionete que é dada a Pinóquio corresponde, por um lado, a uma condição moral, de “nudez”, e, por outro lado, a uma condição social, de “inocência”, ambas ligadas à infância e ao mesmo tempo também à pobreza. Além disso, as fugas do boneco guardam, Manganelli analisa, sentidos filosóficos, e a cidade de “Enrola-Trouxas” e o “País dos Brinquedos” seriam metáforas da realidade cotidiana e comum.

Segundo Jamille Rabelo de Freitas, em artigo, do conto pode-se extrair uma “moral da fome”: “É fato que a fome de Pinóquio está sempre relacionada à moralidade e isto vemos já no capítulo 7, onde ele se recusa a comer as cascas e os miolos das peras e Gepeto, pacientemente as guarda”; e, no capítulo 20, “Pinóquio, tomado pela fome alucinante, invade uma fazenda para roubar uvas e acaba caindo em uma armadilha, pela qual é punido tendo que se submeter a realizar a função de cão de guarda”. É essa fome que, diz Manganelli, “o faz temerário e aventureiro”.

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Arquitetura

A colonização da terra e da moradia

17 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
pintura de Egon Schiele

pintura de Egon Schiele

O recém lançado Guerra dos lugares – A colonização da terra e da moradia na era das finanças, da urbanista Raquel Rolnik, foi definido pelo geógrafo David Harvey como “uma obra fantástica, uma denúncia devastadora”.

Trata-se da reunião de reflexões que Rolnik desenvolveu ao longo e imediatamente após o término de seu mandato como relatora para o Direito à Moradia Adequada, da ONU. O livro traça análises profundas sobre o processo global de financeirização das cidades e seu impacto sobre os direitos à terra e à moradia dos mais pobres – e, portanto, mais vulneráveis.

A urbanista investiga o processo que levou às recentes transformações nas políticas habitacionais e fundiárias em vários países do mundo, pontuando, como marco, a expansão de uma economia neoliberal globalizada, controlada pelo sistema financeiro, causa que teria levado, segundo sua análise, a um processo global de insegurança da posse. A mesma questão, no livro, também é analisada especificamente no caso brasileiro – fazendo a leitura da evolução recente das políticas habitacionais e urbanas no Brasil, inclusive as ocorridas na era Lula, à luz desses processos globais.

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Literatura

Uma linguagem corrosiva

15 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Grandville-La-merce-che-viaggia

O breve e burlesco livro Centúria – Cem pequenos romances-rio, do italiano neovanguardista Giorgio Manganelli (Milão, 1922 – Roma, 1990), apresenta, de forma virtuosística, algumas variações sobre o tema da ironia, que, ao autor, foi característica inerente a todo seu trabalho.

A prosa de Manganelli é marcada pela transgressão de fronteiras entre o real, o fictício e o imaginário. As modulações de seu texto passam pelo humor, abarcam o sarcasmo, desdobram o grotesco; movimento que confirma sua habilidade em potencializar a tradição da comicidade e da ironia que, na literatura italiana, vem de Boccaccio e alcança o século XX com Carlo Emilio Gadda, sem dúvida seu mestre e precursor.

Manganelli foi um dos mais inovadores escritores italianos do século XX, autor de uma numerosa obra, complexa e elaborada. No Brasil, Centúria foi publicado em 1996, pela editora Iluminuras, com tradução de Roberta Barni. O livro foi vencedor do Prêmio Viareggio em 1979. Continue lendo

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Guia de Leitura

Os cinco romances da maturidade de Dostoiévski

14 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou, em 30 de outubro de 1821, e estreou na literatura com Gente pobre, em 1844. Foi preso e condenado à morte pelo regime czarista, em 1849, porém teve sua pena reduzida para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria – experiência que lhe foi profundamente marcante e que é retratada em Recordações da casa dos mortos, obra publicada em 1861.

Dostoiévski escreveu uma sequência de grandes romances, Crime e castigoO idiota, Os demônios, O adolescente – cuja tradução é um dos grandes lançamentos do ano no Brasil – e Os irmãos Karamazov, publicado em 1880.

Seus romances são marcados por conflitos emocionais e psicológicos, por lúcidas críticas à sociedade russa da época, por uma forte questão religiosa, por uma comentada polifonia criada entre as fortes, vivas e complexas personagens.

Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, morreu em São Petersburgo, em 28 de janeiro de 1881.

 

Dostoiévski, “O adolescente”

O adolescente acaba de ganhar no Brasil uma tradução direta do russo lançada pela editora 34. O tradutor, Paulo Bezerra, traduziu também os romances Crime e CastigoIrmãos KaramázovDemônios e O Duplo, de Dostoiévski, e, ao longo de sua carreira, ao todo converteu mais de quarenta obras de filosofia, psicologia e literatura do russo para o português, motivo pelo qual, em 2012, recebeu do governo da Rússia a Medalha Púchkin, por sua contribuição na divulgação da cultura russa no exterior.

O romance é o menos comentado dentre os cinco, pois foi duramente interpretado pela crítica do século XIX, que não compreendeu sua estrutura moderna, fragmentária, baseada nas memórias do protagonista. Porém, a obra revela toda a genialidade do escritor, então no auge de seu talento.

Narrado em primeira pessoa, por um jovem idealista de vinte anos, Arkadi Dolgorúki, o livro acompanha sua trajetória ao passo que tenta ser aceito pela sociedade russa da época. Filho ilegítimo de um proprietário de terras com uma humilde serva, criado longe da família, em um internato de elite, Arkadi por fim vai conhecer seus parentes. Entusiasmado com a chance de conhecer melhor a figura paterna, ele passa a frequentar as rodas sociais da família. É sua chance para pôr em prática um plano que maquinara durante os anos passados no internato: tornar-se um milionário, “um Rothschild”, como diz. Sua ambição é assim sobrepujar, através de seu enriquecimento e da acumulação de capital, a sua origem bastarda. No entanto, conforme tenta integrar-se ao mundo dos adultos, no qual desponta a figura, dúbia e sedutora, de seu pai, o jovem envolve-se em uma trama de histórias que inclui luta por heranças, um círculo de intelectuais revolucionários, casamentos por conveniência, chantagistas e uma carta que poderá mudar o destino de todos.

É reconhecido como o “romance de formação” por excelência de Dostoiévski.

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Literatura

Embrenhado entre a realidade e a ficção

10 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Fotografia do autor, quando criança, no Xingu

O romance Nove noites, com o qual o escritor Bernardo Carvalho ganhou o Prêmio Portugal Telecom em 2003, acaba de ser reeditado pela Companhia das Letras.

Trata-se da narrativa de como, na noite de 2 de agosto de 1939, o jovem e promissor antropólogo americano Buell Quain, suicidou-se de maneira violenta, enquanto tentava voltar para a civilização, vindo de uma aldeia indígena no interior do Brasil. Quain tinha então 27 anos e o caso chocante de sua morte jamais encontrou explicação e logo caiu no esquecimento.

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